Chegou a hora de retornar ao cotidiano escolar!
A volta às aulas é um ritual social também atingido pelas ondas do consumismo, assim como muitos outros rituais. Para nós católicos, o ritual é um momento especial e que deve ser vivenciado pelas vias da espiritualidade.
Como assim?
Precisamos marcar com os sinais da fé todos os momentos do ano e, assim, dar respostas cristãs às propostas seculares. O retorno às aulas deve ser momento de renovação de nossas escolhas.
A Escola e os seus aparatos devem ser fontes de crescimento humano. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52).
Dom Orani Tempesta, nos apresenta uma excelente reflexão em seu artigo "Um olhar de Fé”:
Quando nossos olhos se voltam para o ano que passou, temos certeza de que a mesma união que nos fez vencer tantos obstáculos também nos ajudará a fazer a diferença no ano que inicia.
É um novo caderno que está em nossas mãos, com suas páginas a serem preenchidas: peço a Deus que nos inspire a preenchê-las sempre com a fé que nos faz testemunhar a alegria do evangelho de Cristo, que transforma vidas e contagia as pessoas para o bem.
Temos certeza de que, assim como o Senhor nos concedeu a graça deste ano todo especial, Ele também estará presente em nossas vidas e nossas atividades a cada dia deste ano que iniciamos.
O toque do sagrado deve permear a nossa rotina, nos inspirando a fazer jus ao ensinamento de Jesus: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Para que possamos, como católicos, preencher as páginas desse caderno com o testemunho do Evangelho de Cristo, é preciso que retomemos os sentidos da Educação e da Escola em nossa sociedade. Não podemos e não devemos nos guiar pelos modismos das mídias, que fazem da volta às aulas um apogeu do consumismo.
A educação se constitui como lócus, essencial e insubstituível, da criação de sentidos, os pessoais e os partilhados da vida. Ela é a própria vida, pois orienta próprias transformações do Mundo e da Vida.
Como diz Kant:
"Um animal é, por seu próprio instinto, tudo aquilo que pode ser; uma razão exterior a ele tomou por ele, antecipadamente, todos os cuidados necessários. Mas o homem tem necessidade de sua própria razão. Não tem instinto, e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta. Entretanto, porque ele não tem a capacidade imediata de fazê-lo e vem ao mundo em estado bruto, outros devem fazê-lo em seu lugar".
Se o homem, como afirma Kant, precisa adquirir algo que não pertence naturalmente a si próprio, compreende-se que necessita ser educado. No entanto, em razão mesmo da liberdade humana, esse processo não é uma atividade simples. A Educação não se limita à aplicação de fórmulas, técnicas ou práticas pedagógicas.
Não parece possível pensar numa Educação que seja redutora em sua análise do que é o homem. Educação é - por sua inerente condição Poiética, ou seja, “ação criadora”, que não se repete e nem se esgota, mas que se refaz continuamente pela ação - intervenção e criação do ser humano.
O ensino (ato de se fazer educação) deveria ter como finalidade a preparação dos homens do futuro, formando-os para as diversas modalidades da vida, sem perder de vista o sentido profundo da existência humana. Uma preparação que não pensa somente num futuro estanque, mas que se compreende em um tempo que se chama hoje.
Kant (1996, p.20) diz que:
“A educação, portanto, é o maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos homens”.
Portanto é necessário que nós católicos, sejamos: “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt. 5,14) como anunciou o Mestre Jesus.
À escola é conferido o legado da promoção dos “homens novos” para a nova sociedade. Afirma Anísio Teixeira sobre a função da mesma:
"Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para o futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro, ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manualzinhos escolares(...) ... urge reformar a escola para que ela possa acompanhar o avanço “material” de nossa civilização e preparar uma mentalidade que moral e espiritualmente se ajuste com a presente ordem das coisas".
Kant revela uma Educação que não se esvazia em sua ação imediata, mas que acredita no “Sujeito da Educação” para além de seu estado atual. À Educação cabe esse desvelamento do “Sujeito” ocultado pelas adversidades cotidianas. A educação é o caminho proposto para que o ser humano vença os obstáculos e limites que o jogam no ocultamento de suas potencialidades. Por isso Kant é contundente ao afirmar a educação como o mais árduo e maior problema a nós proposto.
Está na Educação a possibilidade de reconstruir as afirmações quanto às origens do homem. Somente ela é capaz de buscar resposta às indagações que rondam essa origem e onde se apoiam os fundamentos que justificam as mesmas, pois nela se assenta a necessidade de sintonia entre a subjetividade e o mundo objetivo.
A subjetividade humana, interrogada pela Educação, situa-se nos cenários de suas relações sociais do mundo objetivo, onde por muitas vezes são confundidos com determinismo. O ser humano, nos cenários de convivência, responde através de suas múltiplas atividades, às condições de sua existência. Muitas vezes, tais atividades cumprem a repetição mecânica, sublimando a subjetividade e as interrogações sobre ela, podendo dessa forma, estabelecer ou reafirmar o determinismo de sua existência.
A história humana é uma história do fazer e refazer humano, como tempo do possível, e não de algo pré-determinado que limita a ação humana pelo imobilismo.
Paulo Freire afirma que:
“A História como tempo de possibilidade e não de determinismo; o futuro como problemático e não inexorável".
Portanto, a Educação não pode ser um viés para o fechamento da esperança, tampouco para o afastamento da responsabilidade humana na construção de seu tempo e de sua humanidade. “...nossa passagem pelo mundo não é pré-determinada, preestabelecida. Que o 'destino' não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade não podemos nos eximir".
O sentimento da Esperança faz a sintonia entre a Teologia (Os fundamentos de nossa Fé) e a Pedagogia (as práticas educacionais). Ambas estão em busca, através da Educação, do sentido da existência humana e para qual é necessário redimensionar a condição humana. Por isso, urge que sejam derrubadas as estruturas que desumanizam e impedem o Ser Humano de viver plenamente o seu Ser.
É na esperança que se refaz certeza do inacabamento e a possibilidade de recriação ou religação da humanidade ao sentido próprio de sua existência. E neste sentido, a Religião é essencial. Daí a importância de nosso conhecimento profundo sobre o pensamento da nossa Igreja Católica Apostólica Romana acerca da Educação, da formação humana.
O diálogo sustentando, tendo a esperança como referencial, possibilita refazer a reflexão, superar as contradições, evidenciar novas perguntas e acrescentar novas dimensões à formação humana. E nessa dimensão, a ligação com a transcendência não pode perder de vista a íntima ligação com a realidade do sujeito.
Neste sentido, à Teologia é também entregue o legado da “esperançosa busca”. Por sua ação educativa, colocando Jesus Cristo como o Centro da renovação das esperanças humanas, anunciando a “Parusia” como o ápice de sua essência. Na “Parusia” está contida a esperança de que muito há para acontecer e que um dia o que já é, será ainda mais.
A Teologia é uma reflexão que envolve teoria e prática numa simbiose que pretende ser perfeita, pois não quer ser especulativa, mas caminho para redimensionar a condição humana, que se faz nas ações libertadoras entre os homens. Neste sentido, a existência e as vivências humanas, não são consideradas como fatalidades, mas escolhas claras e reais.
Se eu escolho ser reto vou pronunciar e executar a retidão. “Diante de ti ponho a vida e ponho a morte, mas tens que saber escolher” (Dt 30, 19). A deliberação é a capacidade de escolher á própria condição. É nesta condição de escolhas que impedem as fatalidades, que a Educação é chamada à reflexão por sua condição, a priori, criadora e, por isso Poiética.
É pertinente deixar algumas sugestões que podem fazer da volta às aulas um ritual de esperança:
Que Maria, Mãe de Jesus e nossa, nos envolva com o seu manto e nos conceda a Graça de construir um mundo novo através da Educação. Que possamos também dizer Sim!
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