Por Redação A12 Em Santo Padre Atualizada em 19 DEZ 2019 - 12H02

Papas à prova de balas?

Quem não se lembra da cena do filme “Matrix” em que o herói se desvia das balas? O herói Neo, interpretado por Keanu Reaves, dribla - milagrosamente e em câmera lenta - a saraivada de balas que passa ao lado dele, sem lhe causar nenhum dano. 

Shutterstock
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O Papa São João Paulo II não conseguiu driblar a bala em 13 de maio de 1981, mas atribuiu a sua sobrevivência à intercessão milagrosa da Virgem Maria.

E o Papa Francisco? Será que ele está cortejando o perigo ao recusar o papamóvel blindado em sua próxima visita a um novo país? Uma enorme operação de segurança sempre é montada para essas visitas. Mas não teria sido mais prudente usar também o papamóvel à prova de balas

Papa Francisco decidiu que não. Ele disse que quer ficar o mais próximo possível das pessoas. Essa decisão não o coloca perto das pessoas só fisicamente: ao evitar o papamóvel à prova de balas, ele se coloca mais perto das pessoas comuns também simbolicamente. Mas será que esse gesto humilde vale o risco? 

 

Gestos valem mais que palavras

A chance de perigo parece pequena, mas o papa Francisco costuma visitar regiões altamente voláteis, em que o extremismo religioso abunda e o ódio ao cristianismo por parte de radicais está presente em toda parte. Basta um louco portando uma arma... 

Já nos primeiros meses de seu pontificado, Francisco se revelou o mestre dos gestos simbólicos. Suas ações falam mais alto do que as suas palavras. Aliás, quando fala de improviso, quando se recusa a ler homilias escritas, quando dá entrevistas repentinas ou faz telefonemas inesperados, as palavras de Francisco são muitas vezes mal compreendidas, mal interpretadas e mal reproduzidas. Seus gestos simbólicos, porém, falam por si: eles mostram, em vez de apenas contar. Eles revelam o Evangelho de uma forma verdadeiramente profética. 

Thiago Leon
Thiago Leon


Ao recusar o papamóvel à prova de balas, Francisco não apenas se aproxima das pessoas, mas
mostra que a vida de fé é uma vida de risco. Ele sai da zona de conforto: esta é a marca do verdadeiro cristianismo. Assumir riscos ​​faz parte. Basta olhar para o ministério de Jesus e para a vida dos santos. Um exemplo notável é o do primeiro predecessor de Francisco, São Pedro, ao sair do barco de pesca naquela noite tempestuosa e andar sobre as águas. Jesus chama cada um dos seus seguidores a “caminhar sobre as águas”, a sair da zona de conforto, a assumir alguns riscos e a aprender a andar guiado pela fé, não pela vista.

Podemos não ter a opção de recusar um carro à prova de balas, mas existem outras áreas da vida em que valorizamos a segurança e a comodidade. Podemos viver a tentação de comprometer a nossa fé para manter um emprego seguro, por exemplo; a tentação de manter silêncio sobre certas questões controversas, para tentar garantir uma vida pacífica. Somos inclinados a trilhar o caminho fácil em vez do caminho da aventura, do desafio, da fé. 

A coragem e a postura do Papa nos lembram que o caminho da fé é um caminho arriscado; ativa e alegremente arriscado. Seguir a Cristo é uma grande aventura. E viver a aventura cristã é ouvir Jesus nos chamando a sair do nosso mundo ordinário para embarcar no emocionante seguimento do Senhor.

 

Pe. Dwight Longenecker
Sacerdote americano 
pároco de Nossa Senhora do Rosário em Greenville, EUA

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