A Quaresma é um tempo favorável em preparação à festa litúrgica por excelência, a Páscoa do Senhor, e nela, a nossa Páscoa!
Não é mera convenção criada pela Igreja, mas um exercício litúrgico-espiritual que conduz os fiéis à experiência de fé. Por isso, é importante conhecer o sentido deste tempo litúrgico para celebrá-lo e expressar na vida pessoal e comunitária este mistério salvífico.
Leia MaisSantas Missões: A pessoa humana é o caminho que nos conduz a JesusUma paróquia redentorista no coração de Nova IorquePara chegar à estrutura litúrgica da Quaresma como a temos hoje, foi um longo processo histórico.
A palavra Quaresma deriva de dois termos: Quadragesima, do latim, que significa quarenta dias e/ou quadragésimo dia, e Tessarakoste, do grego quadragésimo. Portanto, há uma relação com o numeral quarenta. Nas Escrituras este número, em suas variações, ocorre 192 vezes, nas diversas situações sociais, política, econômica e religiosa dos israelitas.
Refere-se aos clãs, ao número de homens do exército, à idade das pessoas, aos períodos de tranquilidade e de paz do povo, ao tempo de descanso de uma terra, à plenitude da fecundidade, ao reinado de reis, ao castigo de uma pessoa, às riquezas, à durabilidade do despovoamento de uma região e medidas econômicas.
Do ponto de vista teológico-litúrgico-espiritual, o sentido densifica-se e relaciona-se com a experiência que o povo faz de Deus ou como leem a ação de Deus em sua história.
Os quarenta dias e noites da inundação do dilúvio originam uma nova humanidade purificada pelas águas (Gn 7,4-17); a peregrinação do deserto e a travessia do Mar Vermelho para chegar a Terra Prometida, tempo de provação e de purificação (Ex 14, 18-27); Moisés que permanece quarenta dias e quarenta noites sem comer e beber para receber a Aliança no Sinai (Ex 24,12-18; Dt 9,9); a penitência dos ninivitas antes de receberem o perdão de Deus (Jn, 3,4) A caminhada do profeta Elias durante quarenta dias e quarenta noites para chegar ao monte de Deus (1Rs 19, 3-8); o jejum de Jesus durante quarenta dias e quarenta noites, quando foi tentado pelo diabo (Mt 4, 1-11) e outras.
Deixando o mundo judaico e voltando para o Cristianismo, durante os três primeiros séculos não se constata nenhuma longa preparação para a Páscoa, embora os Padres da Igreja como Santo Atanásio, Cirilo de Jerusalém e Santo Agostinho mencionem a importância do jejum como prescrição de solenidades ou preparação dos catecúmenos para receberem o batismo.
É no Concílio de Nicéia (325 d.C.) que o termo “Quaresma” começa a ganhar força. Nesse período, havia um jejum de três a sete dias, mas a partir da metade deste período, acrescenta-se três semanas num total de quatro semanas.
Esse costume adentra o século VI e consolida-se no VII, quando surge o costume de jejuar na quarta-feira antecedente ao primeiro domingo da Quaresma. Estabelece-se também o rito de imposição das cinzas que cunha o termo Quarta-feira das Cinzas e jejua-se, ao longo de quarenta dias, exceto nos domingos, comendo uma refeição ao dia, sem ingerir carne.
Atualmente, a Quaresma inicia-se na Quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira da Ceia do Senhor.
A Espiritualidade quaresmal
As cinzas, na Quarta-feira, abrem um tempo de profundo questionamento existencial e espiritual. Recorda a condição frágil do ser humano que caminha para a morte, sua situação pecadora e penitente, mas que deve converter-se e caminhar para a vida nova em Jesus. Propõe um itinerário com três atitudes: o Jejum, a Oração e a Caridade, um combate espiritual ao ter, ao prazer e ao poder, deuses interiores e da sociedade, que ofuscam a experiência do Deus de Jesus Cristo.
O jejum: liberdade diante da opulência
Jejuar não significa apenas privar-se de alimentos. É uma experiência muito mais ampla. É abster-se das forças interiores que nos fragmentam.
O jejum ajuda-nos a libertar de nossos vícios e paixões desmedidas. Abre o nosso ser para a simplicidade. Ensina-nos a permanecer com o essencial. Abre o nosso apetite às coisas de Deus, elimina as impurezas interiores. Predispõe o espírito humano para integrar-se ao Espírito de Deus e questiona a nossa solidariedade com aqueles que nada têm, por causa da opulência de outros.
Reafirma nosso itinerário espiritual, libertando-nos do egoísmo e incita a uma busca de vida plena, na vida nova que emanará da Páscoa do Senhor.
A oração: a intimidade com Deus
Orar é colocar-se, numa atitude de fé perante Deus com o coração aberto, num diálogo de profundo amor.
Neste tempo quaresmal, a oração deve interpelar-nos a uma prática concreta de vida, ao testemunho e a contemplar o rosto das pessoas sofridas, vítimas da exclusão de nosso tempo e a evitar tudo o que é prejudicial à vida pessoal e à do próximo.
O exercício da oração pessoal e comunitária deve-se tornar nosso alimento diário para nos fortalecer não somente neste período, mas por toda a nossa vida, para que ela seja fundada na vontade de Deus.
A oração é uma maneira de ler a ação de Deus na história humana e do mundo e perceber o seu rosto amoroso que acolhe a todos sem usar instrumentais de poder e de opressão.
Caridade: compadecer-se como Jesus
O ter, o poder e o prazer, as tentações que Jesus sofreu no deserto, cegam a pessoa para prática da caridade, pois a distanciam de si mesma e do outro. Não permite a atitude do Bom Samaritano, que diante do homem caído chegou junto dele, viu e moveu-se de compaixão, aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramou óleo e vinho, colocou-o me seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados (Lc 10, 23-37).
A caridade é a base para uma espiritualidade da compaixão, aquela semelhante à de Jesus que quando via as multidões famintas, tristes, desesperançadas, sem esperança, movia-se até elas e restituía-lhes a dignidade.
Na Quaresma percorremos com Jesus Cristo o itinerário da tentação, da provação e da obediência filial ao Pai. Transfigurando-nos Nele, cujo brilho cura-nos das cegueiras, renovando nossos olhos para a fé.
É tempo de converter, renovar o templo interior, a fidelidade à Aliança com Deus e crer de todo o coração rasgando-o para a vida nova, libertando-se das amarras interiores para impelir-nos à misericórdia e à reconciliação.
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