“Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal (monte da Páscoa) e à terra A Terra de Vera Cruz!”
Carta - Pero Vaz de Caminha

Depois de algumas semanas viajando em pequenas caravelas através do Oceano Atlântico, os portugueses de Pedro Álvares Cabral puderam ouvir o tão aguardado grito do vigia no alto do principal mastro da principal caravela: “Terra à vista!”. Aos poucos foram enxergando o Monte Pascoal, na Bahia, e depois Porto Seguro, achando um bom porto para a segurança das caravelas.

Mesmo sabendo que as terras do país que hoje chamamos de Brasil já eram conhecidas desde o século XIV, o dia 22 de abril de 1500, marca oficialmente o “descobrimento do Brasil.” Frei Henrique de Coimbra, chefe dos franciscanos que estavam na expedição, celebrou a primeira missa nas novas terras em 26 de abril.

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A existência de territórios a oeste do Atlântico já era conhecida, mas as limitações cartográficas da época levavam a crer que a terra descoberta fosse apenas uma ilha. Por esse motivo, as novas terras receberam o nome de Ilha de Vera (verdadeira) Cruz.

Uma segunda missa foi celebrada no dia 1º de maio, ocasião em que também foi fincada no solo uma grande cruz de madeira com as insígnias do rei de Portugal. Por meio deste ato simbólico, os portugueses a partir de então tomavam posse do território.

Em sua célebre carta, datada de 1º de maio de 1500, o escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, comunicou ao Rei Dom Manuel I, chamado de “o venturoso”, o achamento do lugar. Porém, não tardou muito para que os portugueses se convencessem de que não se tratava de uma ilha, e o nome foi alterado para Terra de Santa Cruz.

Em 1604, esse nome seria substituído pelo de Brasil, em referência ao pau-brasil, madeira de cor avermelhada abundante no litoral da América portuguesa, e que foi muito explorado pelos colonizadores nos primeiros tempos da ocupação.

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Ilha ou terra firme?

Quando a expedição dos portugueses atracou no Brasil, Pedro Álvares Cabral, que comandava a caravana exploratória, determinou que o local de desembarque fosse denominado como “Terra de Vera Cruz”. Isso ocorreu porque, naquela época, era comum que as expedições exploratórias que partiam rumo ao desconhecido carregassem lascas de madeira que “supostamente” seriam da verdadeira cruz de Cristo, ou seja, da “vera cruz” na qual Jesus havia sido crucificado.

O nome de ilha foi oficializado pela carta que o escrivão da expedição enviou ao rei de Portugal porque os recém-chegados acreditavam que o território seria uma formação insular entre a Europa e as Índias e não parte do que hoje se conhece como América. O nome de Ilha de Vera Cruz ou Terra de Vera Cruz, dado por Cabral ao Novo Mundo, atualmente corresponde somente a uma parte do Nordeste da costa brasileira, relatado na Carta de Pero Vaz de Caminha, onde se localizava o Monte Pascoal, a primeira porção de terra da América vista pelos lusitanos. Além do relato do "descobrimento", Pero Vaz de Caminha data sua carta já com a localização da Ilha de Vera Cruz no 1º de maio: “Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500”.

Os navegadores portugueses acreditaram numa primeira impressão de que aquelas terras seriam parte de uma ilha que estava entreposta no Atlântico, separando a Europa das Índias, talvez a meio caminho para as ilhas Molucas, na Oceania, e para as Índias Orientais, o grande objetivo das navegações portuguesas. A posse da Ilha de Vera Cruz auxiliaria as futuras navegações, devido à grande concorrência espanhola.

A Ilha de Vera Cruz, que passou a ser chamada pelos portugueses de Terra Nova durante as primeiras expedições de reconhecimento, ganharia, a partir de 1504, uma nova denominação, que serviria como sinônimo para o primeiro nome.

Terra de Vera cruz

O nome de Ilha de Vera Cruz não seria usado por mais do que quatro anos, pois já em 1504, quando Fernando de Noronha recebeu da Coroa Portuguesa a Ilha de São João que hoje é batizada com o seu nome, é possível ler oficialmente o nome “Terra de Vera Cruz” na Carta de Doação publicada pela monarquia portuguesa:

“A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que havendo-nos respeito aos serviços que Fernando de Noronha, cavaleiro de nossa casa nos tem feito e esperamos ao diante dele receber, e querendo-lhe por isso fazer graça e mercê, temos por bem e nos apraz que vindo-se a povoar em algum tempo a nossa ilha de São João, que ele ora novamente achou e descobriu cinquenta léguas ao mar da nossa Terra de Santa Cruz, lhe darmos e fazermos mercê da Capitania dela em vida sua e de um seu filho…”

A partir de 1504, portanto, o nome de Terra de Santa Cruz passou a ser usado oficialmente pela monarquia aparecendo, por exemplo, na carta enviada pelo Rei Dom Manuel I para os demais reis católicos da Europa, informando sobre a chegada da expedição lusitana às novas terras.

O nome de Terra de Vera Cruz ou Santa Cruz refere-se também à cruz da Ordem de Cristo, que as caravelas capitaneadas por Cabral ostentavam em suas velas. Entretanto, já no século XVII, o nome “Brasil” também já era usado para se referir a tais terras, ainda que não oficialmente.

Lance/Xaxim

Portugal anuncia ao Papa a “Descoberta” da Ilha do Brasil

É possível que, desde 1343, a existência das terras que hoje formam o Brasil já fosse conhecida e que o rei de Portugal, Afonso IV, filho de Dom Dinis, já houvesse enviado “as escondidas” expedições exploratórias nessa direção.

O primeiro registro da Ilha Brasil encontra-se na Carta Náutica do cartógrafo genovês Angel Dalorto, elaborada em 1325, onde figura a oeste da costa sul da Irlanda, 175 anos antes do Brasil ser oficialmente descoberto. O conhecimento dessa terra pelo cartógrafo genovês se explica pelo acesso a mapas elaborados por navegadores portugueses, orientados por genoveses, que cruzavam os mares e aportavam no Novo Mundo.

Além disso, o rei Dom Dinis, de Portugal, nascido em 1260, é considerado o pai do projeto das grandes navegações que levaram aos descobrimentos, por contratar navegadores genoveses considerados os melhores da época, para a construção da primeira armada portuguesa, tendo em vista as futuras navegações. Foi este monarca que plantou pinhais em várias partes do reino, para futuramente fornecer a madeira necessária à construção das embarcações.

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O ano de 1325, em que apareceu a Carta Náutica de Ângelo Dalorto, foi também o ano em que morreu Dom Dinis, subindo ao trono seu filho Afonso IV. Uma navegação realizada pelo explorador Sancho Brandão foi informada por Dom Afonso IV ao papa Clemente VI em carta de 12 de fevereiro de1343, acompanhada de um mapa com a inscrição de “Ínsula do Brasil ou de Brandam”, porque havia uma lenda medieval que falava da existência de uma mítica ilha chamada de São Brandão, na região da Irlanda, mas que nunca havia sido encontrada.

A “descoberta” de 1500 foi, na verdade, uma “tomada de posse”, uma vez que os reis de Portugal já sabiam da existência das terras bem antes da navegação ordenada pelo rei Dom Afonso IV, preparada anteriormente pelo seu pai, Dom Dinis, chamado por Fernando Pessoa de “plantador de naus”.