Por Roberto Girola Em Artigos

Finalmente alguém fala comigo!

Dias atrás o noticiário da CBN divulgou uma informação curiosa. Cerca de 20 milhões de chineses usam um aplicativo que “conversa” com o usuário. Com tanto chinês disponível para conversar, a notícia não deixa de surpreender. A finalidade é bater um papo com um amigo virtual que interage exatamente como seria esperado.

O filme Ela foi um pouco mais longe ao imaginar a possibilidade de uma “relação” amorosa de caráter totalmente virtual, já que a parceira era nada menos que um sistema operacional (OS) que ia “sacando” o usuário e suas necessidades no campo amoroso.

Em ambos os casos a grande vantagem do/a “parceiro/a virtual” é que ele/a vai se “adaptando” perfeitamente às necessidades e aos desejos do usuário. Sem contar que periodicamente é possível baixar uma versão nova, corrigindo eventuais erros de programação da versão anterior. Já pensou se você pudesse baixar uma nova versão dos seus pais, ou da sua mulher, ou dos seus filhos, ou até da sogra?

Parece que realmente Deus, no momento da criação, ao criar Eva como companheira do solitário Adão, deixou passar alguma coisa. Esqueceu que a “parceira” deveria ser feita exatamente de acordo com os desejos de Adão e não como alguém que ficaria para sempre “na sua frente” anunciando assim a diferença essencial e o estranhamento que todo “outro” estabelece e provoca ao quando nos relacionamos com ele.

Bom, parece que o problema foi resolvido pelos chineses. Agora podemos ter um “correspondente” à nossa altura, que deixa de nos causar estranhamentos. Naturalmente a “previsibilidade” dessa criatura cibernética acabará por nos aborrecer um pouco, mas certamente menos do que ao nos deparar sempre com um “outro” que é tão distante daquilo que nós desejaríamos. Além do mais, por ser chinês, esse outro cibernético deve ser provavelmente barato.

Conversando com o nosso “alter ego” poderemos andar por aí ainda mais concentrados em nós mesmos e, em condições de nos alienar cada vez mais do mundo real. Claro isso poderá ter algum inconveniente, tipo algum atropelamento na rua, por exemplo, mas nada grave, afinal o pedestre desavisado morrerá feliz, talvez um pouco incomodado quando um tal são Pedro virá se intrometer na sua conversa, a não ser naturalmente que até lá o céu se adapte e permita baixar um são Pedro virtual, devidamente programado.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

Escrito por
Roberto Girola
Roberto Girola

Psicanalista e terapeuta familiar

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Carolina Alves, em Artigos

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...