Por Deniele Simões Em Notícias

Inclusão digital: Brasil tem recorde de acessos, mas qualidade ainda é ruim

O Brasil encerrou o primeiro semestre com 161 milhões de acessos em banda larga. Os dados são da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) e apontam aumento de 51% em relação ao mesmo período de 2013.

Ainda segundo a Telebrasil, nos últimos 12 meses houve a ativação de 54 milhões de novos acessos, num ritmo que cresce a 1,8 conexão por segundo. A maior parte desses acessos acontece via dispositivos móveis, como smartphones e tablets, atingindo 85,52% do total de conexões.

Foto de: Arquivo Pessoal

Dane Avanzi - Foto Arquivo Pessoal

Dane Avanzi: "As operadoras de telefonia são as campeãs
de reclamaçâo no Procon; aliás, elas passaram até os
bancos, que eram tradicionais nesse quesito"  

O levantamento mostra que a internet móvel – cujo início foi bastante tímido, em 2002, com as primeiras conexões sem fio – estará cada vez mais presente na vida das pessoas.

Mas, será que as redes que fornecem acesso a esses dados têm, de fato, atendido a demanda crescente brasileira.

Para o empresário do setor de telecomunicações Dane Avanzi, o usuário final ainda sente na pele a falta de qualidade, principalmente quando o acesso é feito pelas redes móveis.

“As operadoras de telefonia são as campeãs de reclamação no Procon; aliás, elas passaram até os bancos, que eram tradicionais nesse quesito”, pontua o empresário, que é diretor-superintendente do Instituto Avanzi, voltado à defesa do consumidor na área das telecomunicações.

Ele atribui as reclamações ao grande número de pacotes oferecidos, que incluem acesso à internet e ligações a centavos de Real. Com tanta promessa, as empresas acabam por não conseguir garantir a qualidade oferecida, e as interrupções nas ligações são frequentes. Houve até casos de proibição de venda de chips em alguns estados, devido à intervenção do Ministério Público.

O que acontece na maior parte dos casos, segundo Avanzi, é a impunidade. “Obviamente que as operadoras vendem porque o consumidor quer uma vantagem financeira; então elas entregam um mau serviço e não têm retaliação do governo que, no máximo, só pode multar”, opina.

Acesso ampliado

Se no passado o acesso à telefonia era muito difícil, hoje já são 273,6 milhões de telefones móveis no Brasil.

Esse quadro era impossível de se imaginar há 24 anos, quando surgiram os primeiros telefones celulares por aqui. As ligações eram caríssimas e os serviços controlados por empresas estatais, como Telesp Celular, Telerj Celular e as chamadas empresas-espelho, criadas para fazer “concorrência”.

Foto de: Arquivo Pessoal

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"Uma pessoa que comprou 50 megas tem garantidos 10
megas, que não são capazes de transmitir um canal em alta
definição sobre via de IP"

Em 1994, teve início o processo de privatização das telecomunicações, que permitiu a criação de um novo cenário. Foi nessa época que os grandes grupos estrangeiros entraram no mercado e, hoje, quatro operadoras de telefonia móvel detêm os serviços no país: Vivo (controlada pela espanhola Telefonica), Tim (Telecom Itália), Claro (América Móvil, do México) e OI (Portugal Telecom). 

Na avaliação do empresário, a privatização do setor trouxe melhorias, como a redução das tarifas e a ampliação do acesso aos serviços. No caso da telefonia fixa, na década de 1990, os preços das linhas eram exorbitantes e o acesso, restrito. “O telefone valia quase que o preço de um imóvel”, recorda.

Mas, se por um lado, o acesso hoje é mais fácil, Avanzi denuncia a precariedade dos serviços, sobretudo na telefonia móvel. Na opinião dele, a qualidade deixa muito a desejar, em comparação às primeiras redes.

“Embora os equipamentos tivessem menos recursos, a qualidade decaiu, tanto nos terminais como na infraestrutura”, acrescenta. Ele atribui como causas a falta de investimento em mão de obra qualificada e na melhoria dos serviços.

Desafio da fibra ótica

No caso das conexões fixas, como internet, televisão e telefone, um grande aliado ajuda a incrementar os serviços oferecidos. É o que explica o chefe do departamento de banda larga da Furukawa, Antônio Carlos Gonçalves.

Segundo o representante da empresa de telecomunicações, a fibra ótica já é uma realidade nos grandes centros urbanos. “O que está mudando é que o ótico está saindo desse anel principal e chegando à casa do usuário final, porque começa a crescer em larga escala”, diz.

Foto de: Reprodução

Telecomunicações - Foto Reprodução

Conexão evoluiu da forma discada, com limite de 56 kbps, para
a banda larga, que pode chegar a 50 mpbs

Gonçalves ressalta que a viabilidade dessa tecnologia é o baixo preço em relação ao cobre, utilizado no cabeamento convencional. Outra vantagem é o menor espaço que ocupa.

Em países como os Estados Unidos e nações da Ásia e Europa, a fibra já é realidade há pelo menos 10 anos e o principal meio físico de transmissão de sinais de TV, internet, telefonia fixa e móvel.

No Brasil, as novas redes já são instaladas a partir da fibra ótica, mas o grande desafio é substituir as redes existentes pela nova tecnologia, garantindo a transmissão dos sinais.

Além de garantir a fibra do lado de dentro da casa do usuário, outra questão é que a lei obriga que as operadoras entreguem, no mínimo, 20% da velocidade vendida. “Uma pessoa que comprou 50 megas, tem garantidos 10 megas, que não são capazes de transmitir um canal em alta definição sobre via de IP”, alerta.

Promessa do 4G

A chegada da tecnologia 3G, em 2004, provocou uma verdadeira revolução no mercado de telefonia móvel, com a ampliação do acesso à internet. Hoje, as operadoras já trabalham com redes 4G, que prometem ser 10 vezes mais rápidas que o 3G.

O grande problema é que a estrutura 4G atinge apenas 119 municípios do país, segundo a Telebrasil. Para Avanzi, a implantação aconteceu por exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa), com vistas à Copa das Confederações, no ano passado.

Mas, a promessa da ampliação desse recurso depende da licitação da faixa dos 700 MGhz (megaherts), que está suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Foto de: Reprodução

Telecomunicações - Foto Reprodução

Dispositivos como Skype e Viber são baseados na
tecnologia VoIP e trazem inúmeras vantagens aos
usuários

O especialista destaca que essa é a melhor faixa de frequência para a nova tecnologia, porque permite uma excelente relação de propagação em relação à quantidade de torres, o que inclui antenas e equipamentos. “Para as operadoras será um ótimo negócio, porque consegue-se cobrir mais com menos equipamentos e o retorno do investimento é mais rápido”, explica. 

De acordo com Avanzi, quase todas operadoras oferecem conexão 4G, mas o consumidor está “ressabiado” pelo fato de o 3G ainda não funcionar direito. Embora as redes de terceira geração estejam instaladas em 3.730 municípios, com 92% de abrangência da população, o empresário ressalta que em muitas cidades o sinal chega como 2G.

A esperança é que, com a facilidade trazida pela banda dos 700 Mgz, que permite cobrir mais áreas com menos equipamentos, possa trazer um avanço também na qualidade dos serviços prestados.

Evolução da internet no Brasil

A internet chegou ao Brasil como uma rede de dados restrita ao uso acadêmico, através da conexão entre a Fundação de Amparo, a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab) de Chicago (EUA), em 1988.

O número de instituições conectadas chegou a 600, com cerca de 65 mil usuários conectados através de pequenas redes, no início da década de 1990. Mas, foi apenas em 1995 que aconteceu a primeira transmissão de longa distância, reunindo os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. No ano seguinte, os ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia liberaram as operações comerciais de acesso à rede.

Foto de: Wikipédia

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Edifício Copan tem rede baseada
em fibra ótica, com velocidade
que pode atingir 2,5GB

Naquela época, a conexão era feita através de uma linha telefônica ligada a uma placa modem no computador. A chamada “conexão discada” atingia a velocidade máxima 56 kbps (quilobit por segundo) e permitia a navegação em sites leves, o acesso a bate-papo, algumas fotos, entre outros serviços. Os recursos gráficos eram bastante simples.

Quase 20 anos depois, navegar na web hoje com uma conexão discada seria praticamente impossível. Antônio Carlos Gonçalves, da Furukawa, faz uma associação bastante simples para explicar a diferença de velocidade.

“Se eu pegasse um vídeo que assisto hoje em banda larga, numa condição de 20 megabytes por segundo, levaria aproximadamente seis minutos para baixar um segundo desse vídeo”, calcula.

Se antigamente a internet era usada mais para a troca de mensagens e imagens simples, com o passar dos anos e o aumento da velocidade nas conexões os usuários foram ganhando acesso cada vez maior a recursos como fotos, áudios e vídeos em altíssima definição.

Voz sobre IP revoluciona telefonia

O sistema de voz sobre IP, também conhecido por VoIP (Voice Over Internet Protocol), é apontado como uma verdadeira revolução na área de telefonia, tanto fixa como móvel.

O método consiste no roteamento de conversação humana usando a Internet ou qualquer outra rede de computadores baseada no Protocolo de Internet.

Segundo Gonçalves, a maior parte dos sistemas de telefonia estão migrando para a plataforma VoIP. Ele ressalta que aquilo que já é realidade nas empresas e nos condomínios, como interfones, centrais telefônicas e alguns tipos de telefone fixo como OI, TIM e NET, está baseado na tecnologia de voz sobre IP.

O especialista ressalta que essa tecnologia agrega uma série de outros benefícios, como ligações internacionais mais baratas e disponibilidade de links para a realização de chamadas. Outras vantagens são a facilidade de acesso a identificador de chamadas, chamadas simultâneas e chamada em espera. “Na verdade foi tudo isso que, aos poucos, veio permitindo essa globalização”, explica.

Aplicativos como o Skype e Viber também estão baseados no VoIP e garantem ao usuário uma considerável redução nas tarifas nacionais e internacionais, ou até mesmo ligações totalmente gratuitas entre usuários do mesmo sistema, com grande fidelização.

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Telecomunicações_3 - Foto Reprodução

Ultra banda larga: cada vez mais próxima 

Se a conexão banda larga convencional, cuja velocidade pode variar de 1 a 50 mbps (megabits por segundo), é considerada rápida, imagine uma conexão que pode transportar até 50 canais de alta definição de esporte.

A ultra banda larga já é uma realidade em várias cidades do Brasil, conforme explica Antônio Carlos Gonçalves. “Já temos acessos em diversas regiões, através de operadoras e provedores de internet”, explica.

Gonçalves trabalhou na implantação de uma rede no edifício Copan, um dos maiores da cidade de São Paulo (SP). O projeto permite que os moradores dos 1.160 apartamentos e os 72 lojistas instalados no prédio recebam os serviços de TV a cabo, internet e telefonia IP em ultra banda larga.

Os sinais e dados transmitidos são compartilhados através da rede interna, dispondo uma fibra para cada apartamento em velocidade de 2,5 GB compartilhados.

A tecnologia da ultra banda larga é baseada em uma infraestrutura ótica. “Você tem uma fibra ótica que sai do concentrador de uma operadora ou de um provedor, passa por armários e dispositivos na rua, sem nenhum equipamento ativo no meio da rua, até chegar à casa do usuário, explica.

No destino final, é colocada uma unidade ótica de terminação, que provê todas as portas de dados: vídeo, telefonia e internet.

Embora a tecnologia seja relativamente nova, Gonçalves acredita que, em um futuro próximo, esse tipo de rede será tão comum quanto as redes ADSL (principal tipo de acesso à banda larga), mas com melhor qualidade de serviços, maior conexão e custo mais acessível.

Foto de: Free Images

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Dados e fatos

1996 – Nascem os primeiros provedores de acesso à internet, através da conexão discada. O usuário pagava o preço do minuto navegado de acordo com uma ligação telefônica local

2000 – Surgem as primeiras opções de acesso à banda larga no Brasil

2001 – Surgem os primeiros celulares com acesso à web, através do sistema WAP

2002 – Início da internet banda larga sem fio (Wi-fi) e popularização de serviços on line como álbum de fotos, e-mail protegido, blogs e programas para comunicação instantânea

2003 – Lançamento do iTunes para comercialização online de músicas e do browser gratuito Firefox.

2004 – Advento da primeira geração das redes sociais, com o Orkut

2005 – Brasil bate recorde de navegação na internet, com média de 15 horas e 14 minutos na internet. Lançamento do YouTube, a maior rede de compartilhamento de vídeos

2007 – Lançamento do iPhone revoluciona sistema de dispositivos móveis para acesso à web

2010 – Criação do iPad impulsiona mercado de tablets e outros dispositivos

2014 – Brasil chega a 140 milhões de acessos à internet banda larga, sendo 84% através de dispositivos móveis

Fontes: Wikipédia e Tecmundo 

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