Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja

Fofoca: veneno que mata aos poucos!

Quem não se lembra daquela bela história de São Filipe Néri e da mulher que não conseguia parar de fofocar? Certa vez, uma mulher chegou até São Filipe Néri, que já era padre, e confessou que não conseguia parar de falar da vida dos outros. O santo da alegria absolveu a pecadora e disse-lhe que não cometesse mais aquele pecado.

 

fofoca

A mulher, insatisfeita, pedia uma penitência forte. Ouvindo a insistência da mulher, São Filipe Néri levou-a, num dia de muita ventania, ao telhado de uma casa bem alta. Tendo um saco de pena nas mãos, começou a lançar as penas ao vento. Eram tantas e tantas que se perdiam de vista. Todas desapareceram carregadas pelo vento. Então São Filipe Néri disse àquela mulher: “vá e recolha todas as penas e as ponha neste saco!”.

A mulher assustada respondeu que era impossível tal empreitada. Ai então é que vem a frase famosa que ressoa até hoje em nossos ouvidos: “assim é a fofoca – são palavras destrutivas que o vento carrega e jamais poderão ser recolhidas!”. O estrago sempre é irreparável, e é impossível detectar a fonte da destruição!

A palavra “fofoca” possivelmente tem a sua origem no banto, com raízes do quimbundo, da palavra “Fuka”, que significa: revirar, revolver, remexer. Mas é exatamente isso que acontece. Uma pessoa fala de outra pessoa, e esta fala para outra pessoa, e assim se vai virando e revirando, mexendo e remexendo, como se fosse uma gororoba requentada.

O interessante é que todas as palavras sinônimas de fofoca trazem esse sentido de destruição, de devastação ou de irreparabilidade. Por exemplo, o excêntrico verbo “fuxicar” ou “futricar” tem a sua raiz no francês – “Foutriquet”, e tem como significado alguém que é muito desprezível, reles, sem valor nenhum.

Aquele que fuxica perde o valor do seu caráter, da sua honra, e também leva a honra e o caráter dos outros para a lama. Também há outra palavra: “mexeriqueiro”, que vem da palavra latina “miscere” – mexer. É o mexedor, aquele que mexe nas coisas até conseguir descobrir algo; é o que confunde, é o que mescla.

Não existe fofoca boa, mas há níveis de maldade nos mexericos. O nível mais baixo de maldade é a fofoca que surge de um segredo. Um amigo confia em você, abrindo todo o íntimo do coração, e num resvalar de sua língua, todo o bairro saberá daquele segredo inquebrantável. Outro baixíssimo nível de maldade surge das fofocas nascidas da calúnia.

O latim nos deu a palavra “calumnia” que significa falsa acusação, enganação e tapeação – mentira sórdida. Alguém inventa algo sobre a sua pessoa, e isso se vai transmitindo como uma doença contagiosa. Geralmente, a calúnia nasce de um boato, do latim – “boatus”. Interessante que boato significa o mugido do boi. Se você for à zona rural um dia, preste atenção no mugido do gado: um berra, outro responde; um responde, outro berra. Assim é o boato humano: um inventa, outro passa para frente; um repassa, outro completa. Infinito estrago na vida humana.

É certo que o ser humano tem dificuldades enormes para controlar a língua. Como dizia São Tiago, com certa implacabilidade: “Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pelo ser humano; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal”. (Tg 3, 7-8).

Bem, há muita verdade na fala do escritor bíblico, mas hoje sabemos que há possibilidades de se atingir o autocontrole. Afinal, Jesus sempre nos aconselhou a sermos simples como pombas e prudentes como serpentes, ou seja, que pudéssemos ser pessoas bondosas, que acolhem a todos ao nosso redor, mas que tomássemos muito cuidado com as nossas atitudes e palavras; é como se ele dissesse: filhinhos, pensem duas vezes antes de dizer isso ou de fazer aquilo!

Enfim, peçamos a Deus que nos livre das fofocas, pois elas destroem famílias, amizades de décadas e amores verdadeiros. Ela é o veneno que nos mata aos pouquinhos, pois abre feridas incuráveis em nosso corpo e nos corpos alheios.

Rezemos sempre com a música do Pe. Zezinho: “Senhor Jesus, dá-me a palavra certa, na hora certa e do jeito certo, e para a pessoa certa. Quem sabe o valor da palavra cuida bem do que diz. Quem sabe o que diz há de ser mais feliz!”. Pensemos!

Padre Queimado articulista colunista

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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