Por Elisangela Cavalheiro Em História da Igreja

25. Páginas da História da Igreja

História da Igreja no Brasil – XXIV

O mundo brasileiro antes da chegada do branco europeu no século XVI era de uma rica natureza com fauna e flora abundante e ainda hoje em grande parte inexplorada. Foi neste contexto de clima tropical, meio físico pouco hostil e população autóctone próxima à Idade da Pedra que Portugal passou o organizar e sistema colonial, abençoado pela Igreja.

01. O Estado Cristão existente em Portugal:

Desde a luta pela independência contra os Mouros e a criação de um estado próprio, Portugal usou da religião para unificar as forças nacionais e levar ao expansionismo imperialista e colonial. Os reis portugueses tomaram em suas mãos alguns direitos que antes eram do papa, como a nomeação de bispos para as dioceses a serem criadas. Por outro lado o estado português passou a ser o defensor da ordem religiosa ameaçada, aplicando por leis civis e religiosas, as penas contra os inimigos da religião.

Esta união de forças entre Igreja e estado vai receber entre nós o nome de Lei do Padroado e suas consequências serão muito cruéis para a Igreja, cujo clero será como mero funcionário do estado português.

Esta situação será aqui adaptada e quebrada apenas com a separação Igreja – Estado no período republicano, com a primeira constituição nacional republicana.

Pela Lei do Padroado a Igreja usava da força do estado para implantar a fé e criar estruturas como dioceses e paróquias, mas na verdade não passava de uma prisão dourada. Só bem mais tarde os malefícios desta situação serão de todo sentidos.

O catolicismo colonial implantado no Brasil carregava uma herança cultural recebida de Portugal. No Brasil, como nas demais colônias americanas, evangelizar será a mesma coisa que inculturar e vice - versa.

Os portugueses aqui chegaram como parte de um processo de expansão da Europa, patrocinado pela burguesia e pelo capitalismo comercial. Este expansionismo foi aceito e abençoado pela Igreja, que estava ligada ao estado português e até mesmo dele dependente pela famosa Lei do Padroado.

O mundo europeu do século XVI era um mundo religioso, com intensas formas de piedade e de predomínio da Igreja, como força política e social. Ainda que esta força estivesse sendo combatida e enfraquecida pelo movimento da Reforma Protestante que se espalhava por toda Europa, levando a Igreja a perder vastas áreas de influencia, sobretudo ao norte. Mas, chegando aqui, que mundo os europeus encontraram?

02. O mundo brasileiro em confronto com o mundo português:

Os primeiros vestígios humanos encontrados no Brasil são datados mais ou menos de 30 mil anos antes de Cristo. Estes vestígios tornam - se abundantes a partir de 11 mil anos antes de Cristo, com manifestações espalhadas por algumas regiões de nosso país.

Quando os portugueses chegaram às nossas terras, mais tarde chamadas de Brasil, aqui existiam cerca de 06 milhões de indígenas, com os mais otimistas dizendo que o seu número possa ter chegado a 17 milhões. A cifra de 06 milhões é mais realista. Esta quantidade de indígenas estava organizada em nações, em povos distintos, muitos deles com parentesco entre si.

Esta população autóctone passou a sofrer um longo e cruel processo de massacre e destruição, e a partir de 1530, quando Portugal percebeu o interesse de outras potencias coloniais, começou de fato a ocupar este território.

Pela história tradicional sabemos que foram distribuídos lotes de terras entre nobres falidos e outros em processo de enriquecimento para exploração e colonização. Estes possuidores de terra tinham todos os direitos, mas ao mesmo tempo certas obrigações para com a coroa portuguesa e para com a Igreja.

Este sistema de colonização foi cunhado de Capitanias Gerais. Mais tarde virão os Governadores Gerais e os Vice-Reis, sistema que vai predominar até a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, já no século XIX.

03. Modelo de Igreja implantado nas colônias:

Era um modelo de Igreja oriundo da decadência medieval, por isso mesmo era bastante artificial. Portugal transplantou no Brasil experiências que vinham sendo realizadas em outras áreas com sucesso, como reação ao movimento reformista.

Marcas deste modelo de Igreja e de profissão e vivência da fé:

A) Clima religioso existente na vida quotidiana e na ordem do dia e da sociedade:

Múltiplas formas de religiosidade e de fé coexistindo com tantas outras formas de superstição e atitudes de comportamento contrárias à fé. O homem medieval é um homem religioso por natureza.

B) A espiritualidade do homem medieval e pré-moderno:

Caracterizam-se pelo culto aos santos, pela busca de suas relíquias, pela vida mística, pela profusão de manifestações religiosas como romarias, procissões, atos de fé. A religião determina a vida do ser humano na idade média.

O mais importante é que a religião contribuía para manter a ordem social, na qual até mesmo as posições eram determinadas pela religião. A ordem social implantada nas colônias baseia-se na tradição e está determinada pelo fator religioso.

Na Europa esta ordem seria quebrada pela nova sociedade que surgia, mas nas colônias por muito tempo ainda iria predominar.

O poder dos papas, incontestável até então, começa a ser combatido. Por isso muitos reis e príncipes aproveitam o movimento reformista para se livrarem desta denominação, inclusive da obrigação de pagar taxas e dízimos à Igreja.

Se na Europa a reforma protestante quebrou a hegemonia política e social da Igreja católica, em Portugal e Espanha muito pouco entrou desta nova ordem. A reforma protestante quebrou a hegemonia espiritual de Igreja e a crise foi acentuada pela revolução comercial.

Em Portugal e na Espanha será criada uma forma nova de catolicismo, com um espírito de luta muito grande. A este espírito damos o nome de Cruzada. Este vai reinar no modelo de Igreja implantando há mais de 500 anos entre nós.

Em meados do século XV e por todo o século XVI a Europa passou a enfrentar a revolução comercial propiciada pela ascensão da Burguesia, pela instauração do domínio do capital, oriundo do comércio de metais nobres e especiarias e pelo domínio da realeza que readquire o seu poder.

A Igreja católica por sua vez sofria com a reforma protestante, que começou na Alemanha e se espalhou por toda a Europa, levando à quebra da hegemonia espiritual da Igreja.

A defesa da fé, dos dogmas, da vida sacramental e da liturgia levou a Igreja a se utilizar de um novo espírito, na forma de Cruzada, lançando mão não apenas da reafirmação de sua doutrina por meios usuais, mas quando preciso pelo recurso da força, além da liderança política encarnada na famosa Lei das Duas Espadas.

A força da Igreja, representada no ideal de Império Cristão, estava protegida em países como Portugal.

Neste tempo, até mesmo as guerras , como hoje ainda acontece, tinham um sentido de Guerra Santa. Na empreitada colonial a Igreja e o Estado têm seus frutos garantidos: Ao Estado novas áreas a serem colonizadas, à Igreja compensação pelo terreno perdido na Europa. Por esta razão os papas serão os primeiros a legitimarem as conquistas levadas a cabo pelos reis de Portugal.

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