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Igreja

Educar para seguir fielmente o que é justo e reto

Joana Darc Venancio (Redação A12)

Escrito por Joana Darc Venancio

10 NOV 2021 - 13H00 (Atualizada em 10 NOV 2021 - 14H58)

Aristóteles, ao apresentar uma concepção de homem que foge à reflexão feita hoje por grande parte daqueles que têm na educação seu principal interesse, desloca o problema dos preceitos morais, apresentando-os como disposições para uma reflexão mais ampla sobre a educação, sua extensão e seus sujeitos.

Percebe-se sem grande dificuldade, que a reflexão feita no meio educacional, escolar e acadêmico, tem como um dos seus elementos a ética, já que buscam um comportamento equilibrado, controlado e disciplinado por parte dos alunos.

É naturalmente aceita também a constatação de que estamos em um momento histórico onde a ética é fundamental, necessária à retomada do rumo perdido pela sociedade atual, extrapolando a instância escolar: professores e alunos, cidadãos em geral, homens públicos em especial, todos devem reavaliar suas posturas éticas, sua conduta moral.

Cartaz elaborado por aluno da Escola de Educação Básica Joaquim Nabuco, Xanxerê, Santa Catarina, Brasil
Cartaz elaborado por aluno da Escola de Educação Básica Joaquim Nabuco, Xanxerê, Santa Catarina, Brasil. 

O Catecismo da Igreja Católica orienta sobre a Lei moral natural: 

"O homem participa da sabedoria e da bondade do Criador, que lhe confere o domínio de seus atos e a capacidade de se governar em vista da verdade e do bem. A lei natural exprime o sentido moral original, que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o bem e o mal, a verdade e a mentira". 

A indisciplina escolar e a resposta a ela, proveniente das instituições; a violência urbana e os pequenos atos de corrupção cotidiana; o desrespeito pela coisa pública e o clima de impunidade generalizado; são múltiplas as consequências da ausência ética. O individualismo, por outro lado, tão presente nas relações da sociedade contemporânea, é indicado como um dos responsáveis por esta estrutura social.

Num momento em que a humanidade parece se encaminhar cada vez mais para a tomada de decisão sobre seus novos rumos, as grandes questões que perpassam as ações humanas aparecem cada vez mais sedentas de atenção.

A ética talvez seja uma das mais pulsantes dessas questões, pois é balizadora das ações que se apresentam em problemas práticos, na afetividade, nas relações profissionais, políticas, econômicas, educacionais, enfim, na existência humana. É cada vez mais latente a necessidade da ética como fundamento das ações humanas.

Assim, se o que nos falta é ética, desde as instâncias mais particulares até as mais públicas, um outro problema se impõe, além da simples constatação de sua ausência: como regular o comportamento a partir da ética, dos preceitos morais, se estes estão ausentes? Porque, se ausentes, onde buscá-los?

Deve ser evidente que não se poderia deixar a cargo de cada indivíduo esta busca, ou mesmo a determinação do que seria ou não questão ética, moral, a fim de não se cair no individualismo; mesmo no erro supostamente aceito como gerador do problema. Por esta razão, estes preceitos devem estar explícitos nos planos curriculares e nos documentos que orientam a Educação, e devem voltar à sala de aula como objeto de estudo; portanto, de aprendizado. A ética pertence ao campo da deliberação humana.

Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, nos ajuda a entender: 

"O discernimento, por outro lado, relaciona-se com as ações humanas e coisas acerca das quais é possível deliberar; de fato, dizemos que deliberar bem é acima de tudo a função das pessoas de discernimento, mas ninguém delibera a respeito de coisas invariáveis, ou de coisas cuja finalidade não seja um bem que possamos atingir mediante a ação. As pessoas boas de um modo geral são as capazes de visar calculadamente ao que há de melhor para as criaturas humanas nas coisas passíveis de ser atingidas mediante a ação. Tampouco o discernimento se relaciona somente com os universais; ele deve também levar em conta os particulares, pois o discernimento é prático e a prática se relaciona com os particulares. ... O discernimento se relaciona também com a ação, de tal modo que as pessoas devem possuir ambas as suas formas, ou melhor, mais conhecimento dos fatos particulares do que conhecimento dos universais". (Cf. p. 119) 



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Pensar em uma educação para a ética enquanto processo de construção do próprio sentido da ética é necessariamente pensar uma Educação que leve à capacidade deliberativa e instituinte do sujeito. Se a ética, aqui entendida como disposição moral, não está constituída nem definida em uma determinada instância, imanente ou transcendente, de uma vez por todas, não há, então, o que ser ensinado; pelo menos não na forma como o ensino é geralmente abordado, e aqui trazido como constitutivo do impasse. A educação deverá, então, a partir de mais um limite imposto à sua prática, encontrar possibilidades de contribuir para que cada indivíduo seja sujeito neste processo de constituição dos hábitos morais.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: 

"A consciência moral é um juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral dum ato concreto que vai praticar, que está prestes a executar ou que já realizou. Em tudo quanto diz e faz, o homem tem obrigação de seguir fielmente o que sabe ser justo e reto".  

Se não se pode esperar que a sociedade atual sugira hábitos considerados éticos, é bom que se interrogue acerca da constituição destes hábitos vigentes.

Se a escola é chamada a assumir sua responsabilidade neste processo, e se esta mesma escola não pode buscar, na sociedade em que está inserida estes hábitos morais será necessário redimensionar toda a significação do que é educação para a ética. E por dever saber que apenas “deliberamos sobre as coisas que estão ao nosso alcance e podem ser realizadas” este projeto educacional deve estar disposto a encontrar as condições necessárias para que tanto o professor quanto o aluno possa identificar seus objetos de deliberação. Esse Projeto exige a “denúncia de um presente intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído, política, estética e eticamente pelo homem”.

Paulo Freire, em sua obra 'Pedagogia da Esperança', afirma que:

"E neste espaço, espera-se, que os preceitos morais que deveriam ser ensinados, passem a ações escolhidas, refletidas, a hábitos morais que formarão as condições para uma sociedade menos heterônoma, cujos rumos não podem ser traçados desde já. Porém, podem ser aspirados como nascidos da autonomia de seus sujeitos, plenamente conscientes de suas responsabilidades de agentes neste processo. Sem dúvida, porém, não é uma tarefa fácil".

Escrito por
Joana Darc Venancio (Redação A12)
Joana Darc Venancio

Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)

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