Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja

Moral, nada tão fácil como parece!

É muito fácil saber o que é certo e o que é errado, certo? Errado! O entendimento sobre o que é certo e o que é errado é mais complexo do que imaginamos. Provas disso são os dilemas morais. Todos nós nos deparamos com eles no decorrer da vida. Vamos falar sobre um exemplo bem conhecido nas rodas filosóficas.

Moral

Em 1967, a filósofa britânica Philippa Foot apresentou o seguinte dilema moral: “Um bonde desgovernado avança sobre os trilhos em direção a cinco pessoas. Eu tenho em minhas mãos a alavanca que pode desviar o bonde. No entanto, ao ser desviado, ele vai atropelar uma pessoa que anda sobre os trilhos. Devo puxar a alavanca matando um para salvar cinco?”. Com certeza, a resposta é difícil. Mas se você respondeu, sem hesitação, que puxaria a alavanca, com certeza, o utilitarismo está arraigado na sua reflexão ética. Matar um é preferível a matar cinco! Seria isso mesmo?

Bem, para provar que muitas escolhas morais que fazemos estão intrinsecamente ligadas à subjetividade, à afeição ou ao nojo que sentimos pelo outro, vamos dar nuances ao dilema acima. Suponhamos que o bonde continua a vir desgovernado em direção a cinco pessoas, desconhecidas, mas você tem o poder de desviá-lo, direcionando-o a uma só pessoa, no entanto, essa pessoa é a sua mãe, você puxaria a alavanca para salvar os cinco estranhos, atropelando a sua mãe? A resposta se torna mais difícil. Mas, por quê? Não é o mesmo raciocínio usado no primeiro exemplo? Por que, então, mudamos radicalmente de opinião?

E se tornarmos ainda mais complexo o dilema: o mesmo bonde, desgovernado, vem em direção das cinco pessoas, três desconhecidas mais o seu irmão e o seu pai. Puxando a alavanca, o bonde é desviado para atropelar a sua mãe. O que você faria? E se aquela única pessoa fosse seu inimigo, que lhe fez muito mal, puxaria a alavanca para mata-la, salvando as cinco pessoas? Exatamente, tudo isso para dizer que nem sempre é fácil dizer o que é certo ou o que é errado. Esses dilemas levam-nos a refletir a situação de muitos cristãos nos dias de hoje que sofrem perseguição. Se forem obrigados a negar a Cristo, a esconder a própria fé, estariam fazendo o certo ou o errado? É melhor viver ou é mais sábio ser fiel às ideias e às crenças em situações-limite?

É por isso que se torna compreensível a admoestação de Jesus sobre tomar cuidado com o julgamento aos outros, pois não temos elementos suficientes para saber o que se passa no coração de um ser humano. Assim diz o Mestre: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai, e vos será dado. Colocarão sobre o vosso colo uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também. (Lc 6, 37-38). Até mesmo os juízes terrenos jamais saberão o que se passa no íntimo da mente do réu, e a verdade pode ser apenas parcial, pois os juízes terrenos são limitados e falhos, susceptíveis, como quaisquer outros, a erros constantes.

Portanto, tomando contato com esses dilemas morais, somos instados a refletir sobre como estamos vivendo a nossa fé em Cristo. Estamos buscando ser simples como as pombas e prudentes como as serpentes? Para nós que pertencemos à Igreja Católica, preocupa muito as atitudes de alguns grupos de “juízes” que se fortalecem a cada dia. Na maioria, formado por “senhores” da moral e por uma multidão de jovens ovelhas que bebem da mesma água de seus mestres. Tudo é errado! Tudo é anti-litúrgico! Tudo é heresia! Todos estão errados, somente eu estou certo! Talvez, relendo alguns dilemas morais, essas ovelhas vão ouvir o verdadeiro Bom Pastor, abandonando a prática de canibalismo em que ovelhas devoram ovelhas, dando inveja a qualquer lobo feroz que está lá fora espreitando as incoerências dos seguidores de Jesus!  

Padre Queimado articulista colunista

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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