Tradições populares e a identidade do povo

Entre as expressões da cultura popular, uma das mais interessantes é o folclore. Quem não sabe direito o que essa palavra significa, basta lembrar de "causos" que aconteceram na região em que mora e são contados de modo dramático por alguém mais antigo.

Ouvir histórias folclóricas é reviver sonhos (ou pesadelos); é relembrar figuras conhecidas e temidas; é tocar nos sentimentos de quem viveu situações que, embora não sejam verdadeiras, valem como se fossem. O folclore é mais amplo: compreende costumes, tradições, crenças, superstições, cantos, festas, vestes, lendas, artes, etc., que são conservados no meio do povo.

Para você saber um pouco mais deste tema tão próximo de quem gosta de reverenciar a cultura, entrevistamos a professora Efigênia Freitas. Você vai gostar do que ela falou.

Padre César Moreira: Professora, você gosta do folclore? Por quê?

Professora Efigênia: Há muitos anos eu amo e estudo o folclore. Sinto que sou parte desse universo. O arqueólogo inglês Willian John Toms, em 22 de agosto de 1846, usou a palavra folk-lore (conhecimento do povo). Em 1878, ele fundou a Sociedade de Folk-lore com o objetivo de conservar e publicar esse conhecimento do povo. Mário de Andrade escreveu: “Nada melhor do que as tradições populares para retemperar a saúde da nossa alma brasileira”.

Leia MaisFolclore: cultura do bem comumPadre César Moreira: Qual a melhor maneira de definir e caracterizar o folclore?

Professora Efigênia: O folclore é a história não escrita de um povo. Os fatos folclóricos são as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservados pela tradição. Suas características:

- anonimato: não tem autor conhecido.
- aceitação coletiva: o povo é dono.
- a transmissão é oral.
- tradição e funcionalidade: tudo no folclore tem uma função.

Padre César Moreira: O folclore tem ligação com a religião? Pode citar exemplos?

Professora Efigênia: A devoção popular está presente no folclore. Há uma profunda relação com o sagrado, sem o intermédio da Igreja Católica ou qualquer outra religião. Exemplos: no Nordeste, se chover no dia de São José (19/3), vai ser ano de muita chuva e boa colheita; Rezar na 2ª feira para as almas, rezar para quebrar encanto...

Padre César Moreira: Conhece algum caso de narrativa folclórica aqui de Aparecida?

Professora Efigênia: A narrativa folclórica está presente na vida do ser humano. Aqui em Aparecida, a professora Zilda Augusta Ribeiro, em seu livro “Braseiros e Causos da Capella”; narra o causo do Corpo Seco do Caparapá.

A história conta que dois homens foram lenhar e um deles viu uma árvore sequinha. Ao se preparar para a primeira machadada, ouviu uma voz que vinha da árvore: '- Quem tá mi cortando?' O lenhador tremeu de medo. E a voz continuou... '- Eu sou o corpo seco'. O homem caiu desacordado no chão, precisou o amigo vir socorrer. Diz também a lenda que criança que bate na mãe vira corpo seco.

Padre César Moreira: O folclore diz respeito apenas ao passado ou ele continua acontecendo hoje? De que jeito?

Professora Efigênia: Todo o povo tem em sua formação uma mistura de tradições e lendas que alicerçam a sua formação histórica. Quando crianças, somos embalados pelas cantigas de ninar, de roda, pelos contos. Já adultos frequentamos festas populares, enfeitamos nossa casa com artesanato, utensílios caseiros (lamparina, pilão).

O folclore integra os conhecimentos de um povo e, por isso, ele é dinâmico. Tem sua base no passado, mas está sempre se acomodando ao tempo presente. Toda essa herança cultural sofre interferências, mas o essencial continua lá guardado nas nossas memórias mais queridas.

Padre César Moreira: Quais as formas de se cultivar o folclore?

Professora Efigênia: O Folclore está ligado às Ciências Humanas e o seu estudo vai do ensino fundamental às universidades. Além das escolas, outra forma de cultivar o folclore é incentivar a criação de pontos de cultura com verbas públicas destinadas à cultura popular.

:: E na sua região, quais as tradições folclóricas mais fortes?
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