Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H49

Uma Igreja que caminha entre luzes e sombras, entre o medo e a esperança

A evolução pela qual a Igreja passou a partir das décadas de 40 e 50 do século XX trouxe fortes mudanças em sua estrutura e organização interna que coincidiram com as profundas alterações no contexto sócio-político e econômico do Brasil. Desta forma, sobretudo, a partir dos anos 80, coincidindo com a instauração do Neoliberalismo no país, a Igreja passou a sentir o impacto da modernidade ou da pós-modernidade que alguns estudiosos chamam de líquida e fluida. 

O impacto da modernidade:

São sinais característicos do impacto da modernidade:

Na Política: A instabilidade e agitação dos anos 50 e início dos anos 60, que vão levar ao golpe militar de 1964 e à ditadura militar, a partir de 1967/68. A partir do fim dos anos 60 surgem os movimentos guerrilheiros que pregam a luta armada e o terrorismo, como forma de debilitar o sistema. Tais movimentos são duramente reprimidos com o endurecimento do regime de exceção que governa através de Atos de Exceção, os famigerados AIs de triste memória como o AI-5. Estes atos substituem a constituição.

Na Economia: A industrialização e a modernização levam a uma presença maior do Brasil no cenário internacional, apesar de sermos ainda um país exportador de matérias primas (commodities). Para combater o leão voraz da inflação, planos e mais planos econômicos, alguns mirabolantes, são engendrados, mas sem conseguir solução. O último, Plano Real, de 1994, conseguiu por fim estabilizar a moeda e a economia, recuperando o poder de nossa moeda.

Foto de: reprodução.

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O sucesso do Plano Real garantiu a
eleição do ministro Fernando Henrique
como presidente da República.

Sociedade: O êxodo rural e as migrações internas, especialmente no sentido Norte/Sul, acompanhados de uma forte explosão demográfica provocam o enchimento das cidades e todas as consequências daí decorrentes, sobretudo, a falta de planejamento e o estrangulamento do transporte.

Cultura: O impacto dos meios de comunicação, e mais recentemente com o fenômeno das redes sociais, determina mudanças no comportamento individual, grupal e familiar e a consequente crise de valores que hoje experimentamos de uma forma muito mais cruel e avassaladora. Por isso mesmo, vivemos a “Era do Descartável” e do transitório.

Se os anos 70 do século XX foram marcados pelo famoso “Milagre Brasileiro” com forte desenvolvimento interno, investimentos em obras faraônicas, mas com o endividamento externo, os anos 80 serão marcados pela desigualdade continuada e acelerada; o sistema neoliberal foi implantado nos anos 90, mas apesar disso o Brasil continuava atrasado, com forte desigualdade social, endêmico e com grande índice de analfabetismo. Nem a melhoria da qualidade de vida conseguida no início do terceiro milênio conseguiu reduzir de todo esta marca, até porque o governo federal enveredou mais uma vez pelo caminho das medidas assistencialistas e clientelistas como o Projeto Bolsa Família.

Todas estas mudanças fizeram com que o impacto da modernidade fosse duramente sentido, obrigado o Brasil rural a se transformar rapidamente, mas pagando um alto preço para isso.

Foto de: reprodução.

Impacto da Modernidade

Vivemos na “era do descartável”
e do transitório.

Uma Igreja que surge das bases

Os anos 70 e 80 trouxeram o desafio da mudança qualitativa da Igreja, com um grande esforço na renovação das paróquias e nas instituições tradicionais de Igreja. A consequência seria a rápida difusão das Comunidades de Base (CEBs) e das pastorais sociais que se desenvolveram sob o patrocínio da CNBB.

A Igreja se inseriu nos meios populares e redobrou sua atenção para com os excluídos da sociedade. Surgiram novas formas de vida religiosa e a mulher e os leigos ganharam um destaque na sua ação pastoral. A partir de 1979, depois de 15 anos de regime militar, começou o processo que na época foi chamado de distensão. O país começou a voltar à normalidade democrática. O processo somente seria concluído em 1985, quando tivemos as eleições diretas para presidente da republica, e a instauração da chamada Nova República, com a normalização democrática, num processo que dura até os dias de hoje.

As aceleradas transformações dos anos 80 mudaram o nosso contexto social e político, com forte impacto nas estruturas econômicas. Naquele tempo, por influência do papa João Paulo II, a Igreja começou a despertar para o que se chamou de Nova Evangelização.

A volta da democracia, a Nova Constituição (1988), a grave crise econômica sofrida pelo Brasil que o levou à moratória da dívida externa nos anos 80, o impeachment do Presidente Collor, a implantação do Plano Real e diversos outros acontecimentos fizeram com que a Igreja se abrisse para um novo esforço evangelizador, destacando-se a necessidade da inculturação e o enfrentamento dos desafios sociais, especialmente no grande meio urbano.

Foto de: reprodução.

Encontro de CEBs - Juazeiro

Pela primeira vez um papa enviou mensagem a um encontro de CEBs.

 

Hoje, com a eleição e o pontificado do Papa Francisco a Igreja no Brasil e no mundo vive novos ares. Janelas e portas são abertas e a renovação, tão temida por alguns setores, finalmente começa a acontecer, inclusive com o fortalecimento das Comunidades de Base e com o desejo de que a Igreja volte de novo para o meio do povo.

 

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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