Por Pe. Leo Pessini (in memoriam) Em Igreja

Bioética na era do 'bios' e do 'pós-tudo' ... (I)

Cada época histórica da humanidade é marcada por certas “palavras chaves” que se tornam uma espécie chave para a compreensão daquele momento, no aspecto cultural, socioeconômico e político. Os historiadores, antropólogos e arqueólogos, dividem a chamada pré-história humana em três períodos consecutivos, segundo o método de manufatura de ferramentas, utensílios e armas da época. Temos assim a chamada idade da Pedra, ou período neolítico (6 mil a.C. a 2.5 mil a. C), seguiu-se a idade do bronze (Oriente Médio, 2.300 a.C.), com o desenvolvimento de uma liga metálica, resultante da combinação de cobre (descoberto em torno de 6500 a.C.) com o estanho; e finalmente a idade do ferro (de 1200 a.C. a 550 a.C.), quando surge a metalurgia do ferro, embora os primeiros indícios de utilização do ferro são de 3200 a.C.

bioetica

Numa rápida olhada para a história do Brasil, tempo de colônia e império, veremos a existência de vários “ciclos econômicos”, assim temos: 1) Ciclo do pau-brasil (100-1530), momento do descobrimento; 2) depois segue-se o ciclo da cana-de açúcar, com a utilização de mão-de obra escrava de negros africanos); 3) o ciclo do ouro começa no final do sec. XVII e atinge o auge no século XVIII, principalmente na região de Minas Gerais; 4) O Ciclo do Algodão, também chamado de “ouro branco, a partir de meados do séc. XVIII e início do século XIX (quando estava em curso a Revolução Industrial na Inglaterra – necessidade de matéria prima); 5) o ciclo do café, também chamado de “ouro negro”. As primeiras mudas de café chegam ao país em meados do séc. XVII e atinge o auge no séc. XIX. 6) O ciclo da borracha, no norte do Brasil com a plantação da seringueira e extração do látex para produção de borracha que era exportada (1890-1920).

Hoje, vivemos a chamada época do “Bios”, que teve início com a descoberta da dupla hélice do DNA (Watson e Crick, em 1953) que inaugurou entre nós a chamada “era genômica, como uma instigante novidade, singular atrativo do progresso técnico cientifico, com promessas de “revoluções milagrosas”, mas também trazendo serias questões e inquietudes relacionadas com o futuro da vida no planeta e o quanto não ficará manipulável e vulnerável a identidade do ser humano neste contexto. Os economistas afirmam que a “biotecnologia” será o carro chefe da economia neste século XXI. E a ladainha do novo dicionário de palavras que se inspira em “bios” aumenta muito rapidamente: biologia, biogenética, biogenômica, bioterrorismo, bioerro, biopoder, bioestatística, biocombustíveis, biodiesel, biodegradáveis (Produtos), biogerontologia, biodiversidade, biociência, bioenergética, bioenergia, bioengenharia, bioequivalência, bioestatística, biofísica, bioinformática e tantas outras.

Nesta contemporaneidade marcada pelo reinado do “bios”, apresenta-se também a mentalidade o ideologia do “pós tudo” .... Enfim, vivendo num momento de mudança de época, mais que de uma época de mudanças, falamos de: pós modernidade, pós-humanismo, pós- cristianismo, pós-genômica, e agora também, pasmem senhores, algo um tanto mais sofisticado e sutil, a “era da pós-verdade”! O que seria isto? Como atinge as nossas vidas? Veremos no próximo texto que segue a este.

Em meio a este cipoal de neologismos que se ligam a raiz “bios” e ao prefixo “pós”, que nomeiam novos processos de pesquisa e dão nomes a novos produtos, descobertas, e épocas históricas, emerge uma novidade! Ainda de uma maneira tímida, esta novidade aos poucos vai ganhando maior visibilidade e sendo valorizada, como uma necessidade em todos os âmbitos da vida, desde o pessoal até o cósmico ecológico. Trata-se do surgimento do neologismo “bioética”. Na perspectiva de um dos seus pioneiros, o bioquímico norte-americano, pesquisador no âmbito da biologia molecular, V. R. Potter (1911-2001), bioética seria a “ponte para o futuro” e também “ciência da sobrevivência” ou “moralidade da sobrevivência humana” (1970). Estamos sem dúvida alguma diante de um lance de esperança para humanidade em termos de humanização do progresso tecno científico, proteção do meio ambiente (ecologia), enfim de valorização da “vida e da ética”, ou de uma “ética da vida”, como sendo definida como “sabedoria humana”, ou seja, o conhecimento de como utilizar o conhecimento para a proteção da dignidade do ser humano, promoção do bem social e vida cósmico-ecológica.

Assinatura Pe. Léo Pessini - Atualizada

Escrito por
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, Pós doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. É religioso camiliano e atual Superior Geral dos Camilianos.

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