Por Pe. César Moreira, C.Ss.R. Em Igreja

Cientista político analisa cenário político do Brasil

Quem acompanha o noticiário atualmente tem motivos para estar confuso. A grande imprensa, em sua maioria, faz campanha para o afastamento da presidente Dilma e mais: quer atingir o ex-presidente Lula, para que não seja candidato na próxima eleição.

Uma ou outra revista, como a Carta Capital, tem posição oposta; denuncia a campanha orquestrada para acabar com o governo do PT e o próprio partido. Em busca de análise que ajude a entender a crise política atual, falamos com o historiador e cientista político, Roberto Gonçalves.

Bandeira do Brasil

Padre César Moreira: A existência da crise política é patente?

Roberto Gonçalves - A crise política brasileira invadiu todos os lares, não poupando regiões, classes sociais, grau de escolaridade, idade, sexo, revelando a complexidade e totalidade de um tormento que virou rotina na mídia e na mente da sociedade brasileira. A crise política tem várias causas e muitas explicações, mas a razão principal é que acabou o dinheiro, em casa onde falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão.

A crise política tem como causa principal o binômio gastança/corrupção exageradas, fenômenos que marcaram a era lulopetista. Gastaram dinheiro a rodo com projetos faraônicos, inacabados, e dinheiro muito acima da condição orçamentária em projetos sociais de cunho eleitoral. Os personagens principais são o ex-presidente Lula, líder populista e messiânico, megalomaníaco notório, capaz de absurdos nunca experimentados na vida pública brasileira. E o segundo personagem é a presidente Dilma, eleita com as armas afiadas do populismo financiado pela corrupção das estatais. Tudo estourou nas mãos delas, mas nasceram das mãos dele.

Padre César Moreira: Derrubar Dilma e enfraquecer o PT é solução para a situação atual do Brasil?

Roberto Gonçalves - A pergunta se derrubar Dilma e enfraquecer o PT é solução para a situação atual do Brasil comporta duas respostas. A primeira é que tumor, em qualquer parte do corpo, é sempre bom ser extirpado, porque abre espaço para curativos e remédios cicatrizantes, além dos necessários antibióticos. Como Dilma é um tumor plantado por Lula em nossa garganta, deve, como todo tumor, ser removido, para melhorar o quadro clínico do paciente.

Derrubar Dilma é uma necessidade, urgente, de mudanças na vida política brasileira. A segunda reflexão é que derrubar Dilma é uma coisa e enfraquecer  o PT é outra, porque o PT é hoje uma sigla de organização criminosa, rejeitado por mais de 70% do povo brasileiro. E PT lembra Lula, seu mentor, fundador e grande beneficiário das mentiras e peripécias que marcaram a trajetória da era petista na vida brasileira. Derrubar Dilma abre espaço para o povo ficar livre da era petista. Derrubar Lula, através do voto, em 2018, ou através da prisão, via Operação Lava Jato, cada vez mais próxima de seu calcanhar, sim, seria o melhor caminho para erradicar os desatinos do PT na história  do Brasil.

Padre César Moreira: Em que a presidente Dilma tem errado? Afinal, Lula a apoia ou quer enfraquecer sua afilhada? 

Roberto Gonçalves - A presidente Dilma tem errado em tudo. Quer montar seu time e não consegue, porque o dono do PT e das alianças é Lula. Outro erro grave de Dilma é seu autoritarismo e arrogância, defeitos graves para quem precisa de apoio popular e institucional para comandar um país. Lula nunca apoiou vários nomes indicados por Dilma para o Ministério, mas teve que engolir publicamente, embora nunca tenha parado de xingar nos bastidores.

A eleição de Dilma, um poste, repete o ciclo da criatura que se volta contra o criador e vice-versa. Embora tenha sido o pai da corrupção, via mensalão ou petrolão, Lula continua se fingindo morto, como se não soubesse de nada e não tivesse culpa. E Dilma, perdida num governo perdido, também nunca levantou para valer a bandeira de combate à corrupção da era Lula, também fingindo de morta para não melindrar seu criador. E hoje, Lula e Dilma vivem o terrível abraço dos afogados, fazendo água por todos os lados.

Padre César Moreira: E oposição? Como tem se portado? Ou ela inexiste no cenário de esvaziamento de credibilidade nos políticos?

Roberto Gonçalves - A oposição brasileira, em 2015, dá vontade chorar. De vez em quando alguém fala alguma coisa e não organiza a sociedade para sair às ruas ou se movimentar para engrossar as vozes revoltadas. E tem também o detalhe do pouco espaço que a mídia oferece à oposição.  Dilma, dona do dinheiro que patrocina os comerciais na televisão aberta  de Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Federal, etc., nada de braçadas no noticiário, sempre em posição favorável, em longos períodos.

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Para a oposição, aqueles cinco segundos onde o entrevistado não consegue nem completar o pensamento.

A junção de mídia parcial e falta de apetite oposicionista prejudica, em gênero, número e grau, a organização da sociedade brasileira em torno de seus partidos políticos. E o povo, equivocadamente, entra na conversa que só interessa ao PT, Lula e Dilma, de que políticos são todos iguais, convivendo no mesmo mar de lama, como se todos fossem iguais os assaltantes dos cofres públicos que hoje dominam o Brasil, através da aliança PT/PMDB.

Padre César Moreira: Analistas entendem que a crise econômica vai perdurar até o final de 2016. E a crise política? Termina antes?

Roberto Gonçalves - O que existe de "chute" na boca de analistas econômicos não é brincadeira. A que referências se apegam os "analistas" para declararem que a crise econômica vai terminar no final de 2016? O estado em que o Brasil se encontra, segundo todos indicadores que determinam a saúde econômica de uma nação, é de paciente quase terminal. O Brasil está na beira do abismo, em estado de coma. Como poderá sair do atoleiro em apenas dois anos?

O Brasil é um doente para ser tratado com remédios de última geração e a longo prazo, nas mãos de médicos de primeira linha. Agora, nas mãos dessa quadrilha que domina o Brasil, não há perspectiva de cura. E se a quadrilha for derrubada, acredito que após muitos anos e vários governos, possamos voltar ao Brasil de 2002, quando o Plano Real colocou o Brasil de pé, estabilizando a economia e permitindo a distribuição de renda, através da rede de proteção social criada nos governos FHC.

Padre César Moreira: Em meio às crises políticas, o fantasma da intervenção militar e da ditadura costuma dar as caras. Fala–se nisso atualmente ou não?

Roberto Gonçalves - Apenas meia dúzia de reacionários e conservadores da extrema direita falam em golpe militar. Recorrer a soluções autoritárias é um absurdo que a democracia que conquistamos, após a longa noite da ditadura de 1964 a 1985, não comporta mais. Nas manifestações pró impeachment de Dilma, pequenos grupelhos com cartazes falando em golpe militar foram enxotados pela multidão. E também está passando da hora de o Brasil tornar-se um país civilizado, como a Europa e Estados Unidos, que têm instituições sólidas, com alternância de poder entre os partidos representativos das várias correntes de opinião pública. Democracia, sempre! Golpe militar, nunca mais!

Colunista - Padre César Moreira

Escrito por
Padre Antônio César Moreira Miguel (Arquivo redentorista)
Pe. César Moreira, C.Ss.R.

Sacerdote, jornalista, radialista e escritor com muitos anos de atividade nos meios de comunicação social. Foi diretor geral da Rede Aparecida de Comunicação e fundou a Rede Católica de Rádio, hoje atua na área de assistência social da Província de São Paulo.

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