Estamos estudando agora, em artigos distintos, a História da Igreja na América Latina, Antes de tudo estamos olhando em rápidas pinceladas a sua Pré-História, período que compreende a ocupação de nosso território como vimos no artigo anterior, a partir de 60 mil anos antes de Cristo. Vimos ainda que a América Latina, por ter sido ocupada pelos povos da Península Ibérica (portugueses e espanhóis) pode ser considerada como que um cadinho onde fundem-se as grandes civilizações.
Proto-história da América Latina
Na antiguidade existiram no sul da Mesopotâmia (Atual Iraque) algumas Cidades-Estados como Ur da Caldéia, que tinham uma organização muito peculiar. As civilizações que existiram no atual Oriente Médio são chamadas de Altas Culturas e entre elas existiam alguns povos nômades que viviam nos poucos espaços existentes entre essas grandes civilizações. Eles eram sedentários e dedicavam-se ao cuidado de seus rebanhos, pois eram pastores, morando geralmente em tendas. Um destes povos dará origem ao Povo de Deus do Antigo Testamento.
As cidades-estados levaram ao desenvolvimento das Altas Civilizações do Oriente Médio.
Povo de Israel
Com Abraão, o clã (tribo) imigra para o norte levado por motivos religiosos e necessidade de sobrevivência. São arameus e vão viver entre os cananeus, mas todos são de origem semita. Do norte, Abraão conduziu o seu povo à Terra de Canaã. Esse foi um tempo de luta e autoafirmação. Com Abraão e seus descendentes a tribo cresceu e prosperou. Foi este o tempo de Isaac, de Jacó e de seus filhos como nos contam as Sagradas Escrituras.
Uma grande seca obrigou o povo a imigrar ao Egito que é considerado pelos historiadores como o celeiro da antiga humanidade. O povo chegou numa hora de invasão dos chamados Povos do Mar, pois o império egípcio estava enfraquecido e desorganizado. A escravidão veio pela oposição de uma totalidade concreta produtiva superior. Neste tempo aparece Moisés, o libertador, que conduziu o povo em busca da Terra Prometida. Seus sucessores reconquistaram a Terra de Canaã, reorganizando as tribos. Este já é o tempo de Josué e dos Juízes.
No período real o povo se organizou, se sedentarizou, construiu cidades e instalou a monarquia: O tempo de Saul, Davi e Salomão foi de prosperidade e crescimento Este foi um tempo de esplendor, grande desenvolvimento e contato com os outros povos e só o monoteísmo manteve a unidade. Quando o povo começou a escrever sua história uniram três tradições: Javista, eloista e sacerdotal. Paralelo a isso aconteceu o movimento dos profetas (Nabiim).
O reinado de Salomão possibilitou a construção do Templo de Jerusalém marcando o apogeu do judaismo.
Após Salomão o império se dividiu entre norte e sul e o povo foi dominado sucessivamente por Babilônios, Persas, Gregos e Romanos. Chegando a este ponto já estamos no tempo de Cristo, quando o domínio do Império Romano foi feito a ferro e fogo, domínio esse imposto a muitas províncias, englobando povos bem distintos entre si.
Neste tempo alguns partidos Político-religiosos dominavam o povo (Fariseus, Saduceus, Zelotas e Essênios eram os mais importantes) e como instituições mais importantes do povo hebreu destacamos: O Sinédrio, a Esperança Messiânica, o cuidado com o sábado e o papel da lei Por fim chegamos ao tempo da missão apostólica que vai deparar-se com o Judaísmo da Diáspora. Neste contexto, em fins do primeiro século da era cristã, o cristianismo já havia chegado à capital do Império, Roma.
Do Templo de Salomão restam apenas as pedras de seus fundamentos, o Muro das Lamentações
A Igreja Primitiva
A Igreja Católica cresceu ao redor da primitiva comunidade de Jerusalém. A partir das primeiras perseguições o evangelho se difundiu pela Samaria, pela Ásia Menor e pelas províncias do Império Romano. Os apóstolos, principalmente Paulo, com suas viagens missionárias levaram à fundação de comunidades. Foi intensa a ação evangelizadora dos outros apóstolos e das gerações sucessivas, apesar de algumas dificuldades iniciais como a Questão dos Judaizantes que levou à realização do Concilio de Jerusalém, considerado o primeiro concílio ecumênico da Igreja (ano 49-50 d.C.).
O contato do cristianismo com o mundo e com a Cultura Helênica ocasionou o choque e oposição do Império Romano, pois o cristianismo desestabilizava a ordem reinante e o "status quo" político. Logo a igreja teria que enfrentar as perseguições, desenvolvendo a Práxis do Martírio. Outro inimigo de peso da Igreja seria a Polêmica Anticristã em suas variadas correntes e protagonistas. Importante mesmo foi a experiência de base das comunidades cristãs que fez com que o poder de atração do cristianismo crescesse de forma continuada, atraindo, sobretudo, aos pobres e marginalizados.
Com o imperador Constantino veio o reconhecimento da liberdade religiosa e o incentivo ao crescimento da Igreja e, mais tarde, com o imperador Teodósio, a oficialização do Cristianismo como religião oficial e obrigatória para todos do império, com seus prós e contras que ainda hoje são motivo de polêmica.
Imperador Constantino
A oficialização do cristianismo levará à criação das Cristandades Ocidentais.
A partir deste momento a vida interna da Igreja atingiu um novo estágio, com as transformações na liturgia, na organização, na vida sacramental e na formação da arte e literatura cristã que são hoje um patrimônio da cultura universal. Quando chegamos ao período final da Antiguidade Clássica veio o contato com os Povos Germânicos e uma nova Expansão Missionária.
As Cristandades:
Como definição podemos indicar que cristandade é um modelo de relação entre a Igreja e o mundo, entre a Igreja e o estado ou da Igreja com a história. Com a sua evolução ao longo dos tempos, sobretudo, a partir do momento em que foi oficializada, a Igreja tornou-se fundamento e justificação de uma totalidade Histórico-concreta (Política, Ideologia e economia) chamada de Sacro Império, usando das mediações do estado para cumprir sua missão.
Com a criação do Sacro Império no ano 800 da era cristã, formou-se uma aliança da Igreja com as classes governantes representada na figura do imperador ou dos reis e príncipes cristãos e, assim a Igreja organizou sua presença sacramental na sociedade civil. Esta presença, como autoridade máxima, começou com a oficialização do cristianismo por Constantino, fato que foi repetindo-se em outros povos e em outras épocas. O estado, a partir de então, usará da Igreja para justificar sua dominação e em troca as instituições eclesiais serão mantidas ou beneficiadas pelo estado. Por seu lado a Igreja aproveitará do Estado para expandir sua ação pastoral. Este modelo de Cristandade somente entrará em crise com triunfo da burguesia na passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.
Mestre em História da Igreja
pela Universidade Gregoriana
Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com
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