Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H50

Aliança entre Igreja e Estado civil possibilitou a ocupação do continente latino-americano

Estamos estudando agora, em artigos distintos, a História da Igreja na América Latina, Antes de tudo estamos olhando em rápidas pinceladas a sua Pré-História, período que compreende a ocupação de nosso território como vimos no artigo anterior, a partir de 60 mil anos antes de Cristo. Vimos ainda que a América Latina, por ter sido ocupada pelos povos da Península Ibérica (portugueses e espanhóis) pode ser considerada como que um cadinho onde fundem-se as grandes civilizações. 

Proto-história da América Latina

Na antiguidade existiram no sul da Mesopotâmia (Atual Iraque) algumas Cidades-Estados como Ur da Caldéia, que tinham uma organização muito peculiar. As civilizações que existiram no atual Oriente Médio são chamadas de Altas Culturas e entre elas existiam alguns povos nômades que viviam nos poucos espaços existentes entre essas grandes civilizações. Eles eram sedentários e dedicavam-se ao cuidado de seus rebanhos, pois eram pastores, morando geralmente em tendas. Um destes povos dará origem ao Povo de Deus do Antigo Testamento.

Ur da Caldéia

As cidades-estados levaram ao desenvolvimento das Altas Civilizações do Oriente Médio. 

Povo de Israel

Com Abraão, o clã (tribo) imigra para o norte levado por motivos religiosos e necessidade de sobrevivência. São arameus e vão viver entre os cananeus, mas todos são de origem semita. Do norte, Abraão conduziu o seu povo à Terra de Canaã. Esse foi um tempo de luta e autoafirmação. Com Abraão e seus descendentes a tribo cresceu e prosperou. Foi este o tempo de Isaac, de Jacó e de seus filhos como nos contam as Sagradas Escrituras.

Uma grande seca obrigou o povo a imigrar ao Egito que é considerado pelos historiadores como o celeiro da antiga humanidade. O povo chegou numa hora de invasão dos chamados Povos do Mar, pois o império egípcio estava enfraquecido e desorganizado. A escravidão veio pela oposição de uma totalidade concreta produtiva superior. Neste tempo aparece Moisés, o libertador, que conduziu o povo em busca da Terra Prometida. Seus sucessores reconquistaram a Terra de Canaã, reorganizando as tribos. Este já é o tempo de Josué e dos Juízes.

No período real o povo se organizou, se sedentarizou, construiu cidades e instalou a monarquia: O tempo de Saul, Davi e Salomão foi de prosperidade e crescimento Este foi um tempo de esplendor, grande desenvolvimento e contato com os outros povos e só o monoteísmo manteve a unidade. Quando o povo começou a escrever sua história uniram três tradições: Javista, eloista e sacerdotal. Paralelo a isso aconteceu o movimento dos profetas (Nabiim).

       Rei Salomão          Templo de Salomao.

O reinado de Salomão possibilitou a construção do Templo de Jerusalém marcando o apogeu do judaismo. 

Após Salomão o império se dividiu entre norte e sul e o povo foi dominado sucessivamente por Babilônios, Persas, Gregos e Romanos. Chegando a este ponto já estamos no tempo de Cristo, quando o domínio do Império Romano foi feito a ferro e fogo, domínio esse imposto a muitas províncias, englobando povos bem distintos entre si.

Neste tempo alguns partidos Político-religiosos dominavam o povo (Fariseus, Saduceus, Zelotas e Essênios eram os mais importantes) e como instituições mais importantes do povo hebreu destacamos: O Sinédrio, a Esperança Messiânica, o cuidado com o sábado e o papel da lei Por fim chegamos ao tempo da missão apostólica que vai deparar-se com o Judaísmo da Diáspora. Neste contexto, em fins do primeiro século da era cristã, o cristianismo já havia chegado à capital do Império, Roma.

   Muro das Lamentações

Do Templo de Salomão restam apenas as pedras de seus fundamentos, o Muro das Lamentações 

A Igreja Primitiva

A Igreja Católica cresceu ao redor da primitiva comunidade de Jerusalém. A partir das primeiras perseguições o evangelho se difundiu pela Samaria, pela Ásia Menor e pelas províncias do Império Romano. Os apóstolos, principalmente Paulo, com suas viagens missionárias levaram à fundação de comunidades. Foi intensa a ação evangelizadora dos outros apóstolos e das gerações sucessivas, apesar de algumas dificuldades iniciais como a Questão dos Judaizantes que levou à realização do Concilio de Jerusalém, considerado o primeiro concílio ecumênico da Igreja (ano 49-50 d.C.).

O contato do cristianismo com o mundo e com a Cultura Helênica ocasionou o choque e oposição do Império Romano, pois o cristianismo desestabilizava a ordem reinante e o "status quo" político. Logo a igreja teria que enfrentar as perseguições, desenvolvendo a Práxis do Martírio. Outro inimigo de peso da Igreja seria a Polêmica Anticristã em suas variadas correntes e protagonistas. Importante mesmo foi a experiência de base das comunidades cristãs que fez com que o poder de atração do cristianismo crescesse de forma continuada, atraindo, sobretudo, aos pobres e marginalizados.

Com o imperador Constantino veio o reconhecimento da liberdade religiosa e o incentivo ao crescimento da Igreja e, mais tarde, com o imperador Teodósio, a oficialização do Cristianismo como religião oficial e obrigatória para todos do império, com seus prós e contras que ainda hoje são motivo de polêmica.

Constantino

Imperador Constantino
A oficialização do cristianismo levará à criação das Cristandades Ocidentais. 

A partir deste momento a vida interna da Igreja atingiu um novo estágio, com as transformações na liturgia, na organização, na vida sacramental e na formação da arte e literatura cristã que são hoje um patrimônio da cultura universal. Quando chegamos ao período final da Antiguidade Clássica veio o contato com os Povos Germânicos e uma nova Expansão Missionária. 

As Cristandades:

Como definição podemos indicar que cristandade é um modelo de relação entre a Igreja e o mundo, entre a Igreja e o estado ou da Igreja com a história. Com a sua evolução ao longo dos tempos, sobretudo, a partir do momento em que foi oficializada, a Igreja tornou-se fundamento e justificação de uma totalidade Histórico-concreta (Política, Ideologia e economia) chamada de Sacro Império, usando das mediações do estado para cumprir sua missão.

Com a criação do Sacro Império no ano 800 da era cristã, formou-se uma aliança da Igreja com as classes governantes representada na figura do imperador ou dos reis e príncipes cristãos e, assim a Igreja organizou sua presença sacramental na sociedade civil. Esta presença, como autoridade máxima, começou com a oficialização do cristianismo por Constantino, fato que foi repetindo-se em outros povos e em outras épocas. O estado, a partir de então, usará da Igreja para justificar sua dominação e em troca as instituições eclesiais serão mantidas ou beneficiadas pelo estado. Por seu lado a Igreja aproveitará do Estado para expandir sua ação pastoral. Este modelo de Cristandade somente entrará em crise com triunfo da burguesia na passagem da Idade Média para a Idade Moderna.

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.  
Mestre em História da Igreja 
pela Universidade Gregoriana

Escreve série sobre a  
História da Igreja no Brasil  
para o A12.com

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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