Por João Antônio Johas Leão Em Espiritualidade

Sexta-Feira Santa: Contemplar o crucificado

Foto de: Thiago Leon

Encenação via-sacra - Thiago Leon

 

A Sexta-Feira Santa é um dia difícil, desconcertante. Hoje somos convidados a “olhar para aquele que traspassaram”, como com lembra o Evangelho de João.

Olhar para “o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo”, como vamos escutar na celebração desse dia, no momento de adorar a Cruz. A crucificação de Jesus é o momento culminante de sua prova na terrena.

Nesse momento se cumpre aquela profecia feita por Simeão a Maria: “Uma espada te traspassará o coração e ficarão descobertos os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 35).

É um momento de muita dor para Jesus, para Maria e para seus discípulos. Nesse dia não se celebra a Eucaristia.

Hoje celebramos a Paixão do Senhor e durante a celebração se utilizam as hóstias consagradas do dia de ontem para a comunhão. O altar deve estar totalmente despojado, sem cruz, sem candelabros e toalha. Tudo isso para representa o clima de recolhimento interior, de respeito à memória da Paixão de Jesus.

Getsêmani

Depois da última ceia, Jesus sai com seus discípulos para rezar no horto de Getsêmani. Sabemos desse momento que os discípulos mais próximos não conseguiram rezar uma hora com Jesus apesar dele ter pedido com essas palavras: “Minha alma está triste a ponto de morrer, ficai aqui e velai comigo”.

Sabemos também que Jesus, apesar de todo o sofrimento do momento, mostra uma confiança muito grande no Pai ao dizer: “Que não se faça a minha vontade, mas a sua.” Essa passagem pode ensinar-nos muito sobre como viver os momentos difíceis da nossa vida.

 

Nunca estamos sozinhos nas dificuldades porque Deus sempre está do nosso lado.

Assim como Jesus, somos convidados a colocar toda nossa confiança em Deus, que não defrauda nunca. Se nossos amigos estão aparentemente dormindo, podemos confiar que nunca estamos sozinhos nas dificuldades porque Deus sempre está do nosso lado.

Por outro lado, temos que perguntar-nos se seríamos capazes de velar com Jesus nesse momento tão doloroso. Os discípulos sabiam quem era Jesus, mas parece que ainda não tinham entendido a gravidade da situação em que estavam, porque se tivessem entendido, talvez não dormiriam.

Compreendemos a gravidade da situação em que vive o mundo muitas vezes? A gravidade de um mundo sem Deus? A gravidade de um mundo que quer matar a Deus? Essa passagem termina com Jesus sendo abandonado por seus discípulos enquanto é preso. Como seria a nossa atitude nessa situação? Jesus nos dá hoje outra possibilidade de o acompanhar de perto durante seu sofrimento. Aproveitemos essa oportunidade. 

Foto de: Thiago Leon

Encenação via-sacra - Thiago Leon

 

Via-Sacra

Nesse dia é muito comum no mundo inteiro a piedosa prática da Via-Crucis, que significa o caminho da cruz. Nela acompanhamos o caminho de Jesus desde que é condenado a morte até a sua ressurreição. Também a chamamos via-Sacra, que lembra quão sagrado é esse momento.

A nossa vida, como cristãos, também é uma via-Crucis, um caminho da cruz. Lembremos do chamado do Senhor: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz de e siga-me.” (Mt 16, 25). As exigências dessa via sacra da nossa vida são difíceis: Somos convidados a dar morte em nós ao pecado e crescer em santidade.

 

Aprendamos com Jesus a confiar sempre na infinita misericórdia de Deus, mesmo em meio as dificuldades.

A meditação dos mistérios do caminho de Jesus com sua cruz podem ajudar-nos a que nós também carreguemos nossa cruz sem desfalecer. O Mistério da dor é um dos mais incompreensíveis para o homem. Jesus ilumina essa realidade com a sua paixão, morte e ressurreição.

A partir de Cristo sabemos que a dor e a morte não possuem a última palavra. Por isso Jesus quer que estejamos muito próximos dele em sua dor, para que aprendamos com Ele a confiar sempre na infinita misericórdia de Deus, mesmo em meio as dificuldades.

Um sacerdote disse uma vez: “Quando estamos com alguma dor muito grande é porque Deus nos está abraçando com mais força.” Às vezes, quando abraçamos alguém, olhamos por cima do seu ombro e não o vemos, mas nunca duvidamos que ele está realmente ai.

Foto de: Thiago Leon

Encenação via-sacra - Thiago Leon

 

Olhar a Cruz

O Papa João Paulo II escreveu uma carta sobre a dor que salva. Nela, ele diz: “A Cruz de Cristo projeta a luz salvífica de um modo assim tão penetrante sobre a vida do homem e, em particular, sobre o seu sofrimento, porque, mediante a fé, chega até ele juntamente com a Ressurreição: o mistério da paixão está contido no mistério pascal.”

Hoje somos convidados a olhar para a Cruz. Todos temos um crucifixo em casa. Hoje é um dia para olhar para ele de maneira especial e ver nele a salvação do mundo.

 

Contemplemos o crucificado e percebamos a força do amor de Deus que vence, no meio das provas, o pecado e a morte.

Olhar é uma coisa, ver é outra muito diferente. Muitas vezes olhamos os crucifixos, mas talvez poucas vezes vemos o que realmente está ai. Contemplemos o crucificado e percebamos a força do amor de Deus que vence, no meio das provas, o pecado e a morte.

O que celebramos hoje dá sentido à toda nossa vida, também aos momentos de dor e fracasso. Não nos foi assegurado aos cristãos que não íamos ter dificuldades, ou que não experimentaríamos a doença, a solidão, o fracasso e a morte.

Mas possuímos uma luz e uma força, que vêm de Deus, para que vivamos todos esses momentos em sintonia com Jesus. Ainda que não entendamos totalmente o mistério do mal e da morte, eles não são em vão porque possuem uma força salvadora e pascal, que nos levam à vida nova que Deus nos prepara. Confiemos no poder do amor de Deus.

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Por João Antônio Johas Leão, em Espiritualidade

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