Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H53

História da Igreja na América Latina: O Sistema de Encomiendas

HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA – 10 

As Plantações

O Sistema de Encomiendas submete os povos indígenas à cobiça do explorador 

Num espaço de aproximadamente 50 anos os espanhóis conquistaram uma área de cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, submetendo a si uma enorme população indígena com mais de 10 milhões de pessoas. Até o ano de 1700 o cristianismo latino havia duplicado sua área geográfica por causa das terras conquistadas na América, compensando em muito as perdas que tivera na Europa por causa da expansão do movimento da Reforma Protestante.

Mas agora os espanhóis enfrentavam um dilema angustiante: Como colonizar essas terras e essa gente, uma vez que os sistemas usados até então pouco se encaixavam nas Américas?

Foi então que decidiram investir no chamado Sistema das Encomiendas, já era bem conhecido e já tinha provado seu acerto em outras regiões conquistadas anteriormente. 

O Sistema de Encomiendas

Não era um sistema totalmente novo. Ele surgiu nas Antilhas com o próprio Cristóvão Colombo, quando este impôs um tributo a ser pago pelos habitantes de Cibao (1495-56) e aos índios impôs um serviço que deveria ser prestado aos espanhóis (1497). Em 1503 a rainha Isabel consagrou oficialmente os repartimientos ou repartição dos índios, delegando-os a um espanhol, sendo que os índios, por sua vez, deveriam recompensá-lo pelo trabalho forçado em favor dos espanhóis na forma de um tributo indireto. Baseando-se nesse sistema o explorador Hernán Cortez organizou as encomiendas no México.

Foto de: reprodução. 

Hernan Cortez

Hernan Cortez: Pelo Sistema de Encomiendas 
os índios são delegados ao um colonizador.

O que viria ser estes Repartimientos: Os Índios de uma determinada região eram repartidos e colocados sob a tutela de um espanhol, mas em troca deveriam se colocar ao seu serviço. Em 1718 o Sistema das Encomiendas foi supresso nas Haciendas que eram as grandes feitorias, mas a exploração nas minas ainda continuaria.

Daquilo que a América exportava à Europa, 95% consistia em prata (80%), Ouro (17%) e pedras preciosas (2%). Entre 1503 e 1660 foram exportadas 15 toneladas de ouro das Antilhas. Entre os séculos XVI e XVII a cidade-mina de Potosi, Bolívia chegou a ter 150 mil habitantes. A mina de Buritica (Nova Granada) chegou a produzir 25 toneladas de ouro entre 1541-1550. Ou seja, os números provam que a pobreza das Américas está diretamente ligada à riqueza da Europa. 

Encomienda, significa “recomendar” ou “confiar” algo para alguém. Criado em 1512, esse regime deixava comunidades indígenas inteiras sob os cuidados de um encomendero que poderia utilizar a mão de obra dos índios para o desenvolvimento de atividades agrícolas ou a extração de metais preciosos (Brasil Escola.com)

Las Plantaciones (Plantações = Latifúndios):

Elas foram implantadas nas regiões com mais de 1.000 mm de precipitação pluviométrica, voltando-se à exportação de produtos tropicais, especialmente o açúcar. Eram tocadas por mão de obra escrava, primeiro com os indígena e depois com a mãe de obra negra.

Em Sevilha funcionava a Casa de Contratação e em Portugal a Casa da Índia que controlavam o comércio de escravos. Nas Ilhas da Madeira e nos Açores já existiam escravos antes dos europeus aqui chegarem, sendo que no principio do século XVI os escravos negros foram introduzidos na América, começando por São Domingos (1505) e, mais tarde, no ano de 1519, na Jamaica.

Em 1548 já existiam 35 engenhos de cana de açúcar em São Domingos, um deles com 900 escravos; em 1578 o rei de Espanha cobrava 30 ducados por cada escravo comprado. O negro era um bem de capital e sua importação seguia as regras próprias do comercio capitalista.

No Brasil, em 1513, foram feitas as primeiras experiências com mão de obra escrava na Capitania de São Vicente, sendo que em 1560 já eram 60 engenhos, 130 em 1585, 346 em 1629 e 528 em 1710, todos tocados pelos negros africanos. Até 1870 foram importados 9,5 milhões de escravos em todas as Américas:

- Norte: 399 mil      
- Francesa: 1,6 milhão
- Espanhola: 1,5 milhão
- Britânica: 1,6 milhão
- Brasil: 3,6 milhões
- Outras: 600 mil

Com o crescimento do comércio negreiro e com a necessidade de abastecer a Europa com os produtos oriundos da América, formaram-se os célebres triângulos comerciais integrando o Brasil, a África e Portugal, ou então a Inglaterra, as Antilhas, África e EUA.

Com o sistema colonial se estabeleceu a configuração de mundos distintos, configuração esta que vigorará pelo menos até 1945. A Europa era o centro, a América Latina, a África e a Ásia eram a periferia pobre, subdesenvolvida e exportadora de matéria-prima hoje chamada de commodities, mas importadora de manufaturados.

Foto de: reprodução. 

As Plantações

As grandes plantações da América visavam
abastecer o mercado europeu. 

Repartimientos e Encomiendas

Sua origem é europeia e vieram pela necessidade de explorar o então chamado Novo Mundo. Os reis queriam que os índios trabalhassem livremente, mas eles não estavam acostumados ao tipo de trabalho, daí eram obrigados pelo açoite, passando a ser chamados de “folgazões” e pouco aptos ao trabalho.

Os Repartimientos são anteriores, portanto, às encomendas, pois eram fruto do capitalismo brutal que queria, a todo custo, arrancar dos territórios de ultramar a maior quantidade possível de riqueza no menor tempo possível. Por isso, se fez os Repartimientos que era a divisão dos índios em qualidade de força de trabalho, mas é ilusão que se pensasse ou se quisesse que os índios fossem “repartidos” só entre "bons espanhóis".

Pelas encomiendas os índios tornavam-se tributários de um encomendero e esse sistema será o nervo vital da colonização Aos poucos os compromissos do encomendero com o rei, a cobiça e a busca por mais riqueza degeneraram em abusos monstruosos.

Foto de: reprodução.

Frei Bartolomeu de Las Casas

Frei Bartolomeu de Las Casas:
A ação enérgica dos missionários era
uma das poucas proteções com
as quais os índios podiam contar. 

Ao perceber os erros inerentes a esse sistema, diante do juízo dos missionários sob os pecados do Sistema de Encomiendas o imperador Carlos V extinguiu-o em 1718. Quem mais combateu os abusos do Sistema de Encomiendas foram os dominicanos, e, sobretudo, o Frei Bartolomeu de Las Casas. Entre as obras que escreveu destacam-se: "A destruição das Índias e História apologética das Índias".

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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