Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H42

Igreja na América Latina: A Igreja Hispano-Americana no Século XVIII

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Parte 29

Galicanismo_

A Igreja Hispano-Americana no Século XVIII

Durante muito tempo a Espanha esteve ligada à Casa da Áustria, com a dinastia dos Habsburgos. Neste tempo a Igreja funcionava como um aparato ideológico do estado, trabalhando para legitimar a ação dos reis e demais governantes. Havia uma ligação bastante forte entre trono e altar, símbolos do poder temporal e espiritual. A estabilidade do estado espanhol era vital para o desenvolvimento e expansão da fé cristã e na edificação das estruturas eclesiásticas, não só na metrópole, como também nas novas terras conquistadas.

Mais tarde, ao longo do Século XVII a Igreja foi ganhando autonomia, especialmente pela falta de um projeto mais definido da coroa espanhola.

No século XVIII com a dinastia dos Bourbons veio o esforço de dominar novamente a Igreja, vendo nela um inimigo potencial, aliada aos que se opunham à hegemonia burguesa. Este foi um período muito complicado na vida da Igreja devido às medidas repressoras tomadas pelo Império. Neste tempo começa a se fortalecer cada vez o Sistema Liberal.

Entre as medidas atentadas contra a Igreja podemos destacar a expulsão dos jesuítas da metrópole e de todas as colônias espanholas, a secularização dos bens da Igreja, a reforma das ordens religiosas determinada pela instrução de 1768 e o controle das nomeações ao episcopado, indicando ou aceitando a indicação apenas daqueles que fossem afinados com as determinações reais. O liberalismo visava criar uma 'igreja nacional', afastada o mais longe possível das influências de Roma.

Ebulição social

Naquele tempo os religiosos (especialmente os Jesuítas) com frequência eram acusados de insuflar a rebeldia e a revolta do povo contra a monarquia. Nas colônias muitos religiosos participavam dos movimentos que se organizavam pleiteando a independência e a formação das nações autônomas.

O século XVIII se transformou num período de grande ebulição social, pois a nobreza, as oligarquias rurais e os burocratas estavam sendo superados pela nova classe burguesa que se fortalecia. Enquanto isso, as classes oprimidas recorriam à Igreja como espaço de defesa de seus direitos.

Como nas demais instituições, também a reforma de Igreja visava exterminar os ideais de autonomia, especialmente depois da independência das treze colônias inglesas da América em 1776 e a disseminação dos ideais da Revolução Francesa.

Foto de: reprodução. 

Independencia Americana

Os ideais da Independência das 13 Colônias
Americanas e da Revolução Francesa entraram
decisivamente nas Colônias Espanholas.

O controle da Igreja pelo estado

Aos poucos o estado espanhol foi tomando uma série de medidas restritivas para dominar a Igreja. Essas medidas recebem o nome de galicanas ou regalistas. A instrução real de 1768, por exemplo, dizia que a religião devia "inspirar o respeito e o amor ao soberano e a obediência aos seus ministros". Com isso, dava uma conotação patriótica à Igreja com a finalidade de justificar a dominação do estado. Ou seja, se a religião não tivesse este caráter patriótico perdia a sua legitimidade.

Por outro lado, os catecismos regalistas deste tempo ensinavam que a autoridade procede de Deus e que o rei a exerce em seu nome. O poder ganha um caráter divino e previa que rebelar-se contra a autoridade seria como que rebelar-se contra o próprio Deus.

O controle do estado sobre a Igreja fazia com que o poder dos bispos fosse aumentado, significativamente, em detrimento do poder do clero secular e religioso.

Com esta legislação os Concílios Provinciais passaram a ser convocados até sem a aprovação de Roma, como foi o caso do Concílio do México de 1771, o de Lima em 1772, o de La Plata em 1774 e o de Bogotá em 1774.

Neste tempo foram criadas novas dioceses sendo 6 no Brasil e 8 na América Espanhola, sendo criados também 4 novos arcebispados.

Quando chegamos ao final do século XVIII já haveria 10 arcebispados nas Américas, mas deles só 01 ficava no Brasil (Salvador, BA).

Galicanismo
O Estado Moderno contestava a autoridade absoluta dos papas e sua influência no mundo.

Conflitos

Como consequências da pressão do estado e de sua ingerência na vida interna da Igreja o final do século XVII e o século XVIII será um tempo marcado por conflitos no contexto interno e externo da Igreja. Aconteceu um aumento significativo do conflito dos bispos com o clero e uma nova distribuição de forças dentro da Igreja. Por outro lado, grandes setores da Igreja não se submetiam facilmente ao domínio do estado e da burguesia.

A Igreja se colocou ao lado das classes que mais sentiam o peso da dominação bourbônica, se distanciando cada vez mais do seu projeto político.

Neste período vão aumentando cada vez mais os fatores que funcionarão como antecedentes das lutas de emancipação, especialmente este descontentamento de vastos setores da Igreja com a dominação do estado.

Foto de: reprodução. 

Independência de Cuba

A Espanha foi perdendo suas colônias na América.
No final do século XIX só umas
poucas colônias restavam.

O final do século XVIII no Brasil

O Catolicismo patriarcal e escravista do Nordeste foi sendo substituído aos poucos por um catolicismo de origem laica, menos clerical e mais enraizado nas confrarias e irmandades, tendo como exemplo o catolicismo das Minas Gerais.

Esta característica se deu pelo fato das ordens religiosas não poderem se organizar, sofrendo mais ainda ingerência do estado. No Brasil, por exemplo, as ordens religiosas serão condenadas a uma morte lenta, pela proibição de receberem noviços. Com isso, houve lugar para as confrarias, irmandades e ermitães.Mas, na região das Minas o controle do estado sobre a Igreja foi muito mais rigoroso.

Colunista padre Inácio

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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