História da Igreja na América Latina - parte 7
"Um império onde o sol nunca se punha"
Para compreendermos mais a fundo a história da Igreja na América Latina, é preciso conhecer bem o contexto de onde partiu a força evangelizadora que trouxe a fé cristã ao nosso continente. Por isso mesmo, estamos estudando e conhecendo melhor a situação da Espanha na época da colonização, pois da história do Brasil e de Portugal já temos um maior conhecimento.
Após o processo de luta contra os muçulmanos que ainda estavam ocupando a Península Ibérica e após a luta pela reconquista de seu território, veio a unificação dos reinos da Espanha, através do casamento dos reis Fernando e Isabel, chamados de "Reis Católicos". Desta forma a Espanha estava pronta para sair à conquista do mundo, formando um vasto território onde “o sol nunca se punha” como se dizia na época.
O século dos "Reis Católicos"
Em 1469 Isabel de Castela se casou com Fernando de Aragão e, aos poucos, unificaram os diversos reinos da Península. Com isso se deu a restauração da Cristandade de modo mais completo, com a influência da monarquia sobre a Igreja.
Na vida interna da Igreja espanhola, o Concílio de Aranda (1473) marcou o inicio de sua reforma, completada pelo Concílio de Sevilha (1478). Neste tempo os muçulmanos já estavam reduzidos ao enclave de Granada que foi conquistada finalmente no ano de 1492, exatamente quando os espanhóis chegavam à América, através de Cristóvão Colombo.
Contexto Espanhol – População dos reinos:
- Reino de Castela - 7 Milhões
- Reino de Aragão - 1 Milhão
- Reino de Navarra - 100 Mil
- Reino de Granada - 700 Mil
- Reino de Portugal - 1 Milhão
Lembramos agora um outro dado importante com relação à distribuição desta população, pois 80% dela morava na zona rural. As maiores cidades eram Valência, com 75 Mil habitantes, seguida por Sevilha, Barcelona e Toledo.
Organização da sociedade espanhola:
A primeira classe, a nobreza, era formada por poucas famílias formando mais ou menos 1% da população total. Os militares e a aristocracia urbana formavam outro 1%. O clero formava ainda outro 1% e a classe média urbana, formada por artesãos e pequenos proprietários, chegava a 12%. O restante era a arraia miúda ou o povo. E a condição de vida do povo todos sabemos. Como era? Bem, o povo... o seu destino era o mesmo de agora.
Da classe média surgiria a Burguesia pré-industrial. O camponês não era feudal, mas arrendatário das terras que cultivava, com exceção daqueles do reino de Aragão. O alto clero procedia da nobreza e o baixo clero da classe média e dos pobres. De toda a riqueza da península cerca de 1/3 ficava com a Igreja. A renda anual da Igreja era de 6 milhões de ducados (1 ducado correspondia a 20 dias de trabalho não especializado e 8 dias de trabalho especializado). Desta renda, 2 milhões ficavam com o Clero religioso e 4 milhões eram para o clero secular.
Estruturas Eclesiásticas:
Na Espanha: Havia 5 Arcebispados (Toledo, Santiago, Terragona, Sevilha e Saragoza) e mais Valência e Granada, criadas em 1942, pois ainda estavam ocupadas. Havia também outras 40 Dioceses.
Foto de: reprodução.
Catedral de Toledo: A diocese de Toledo era a sede primaz da Igreja espanhola.
Em Portugal: Havia 2 Arquidioceses (Lisboa e Braga)
Os Reis Espanhóis adquiriram o poder para reformar a Igreja pela bula Inter Curas Multíplices do papa Alexandre VI (1499). Eles podiam depor bispos e párocos que fossem considerados imorais.
Para alguém ser nomeado bispo devia conhecer teologia e direito, devia ser de nacionalidade espanhola e conhecido pelos bons costumes, além de permanecer em sua diocese.
Entre o episcopado espanhol predominavam algumas figuras de destaque como Hernando de Talavera (Arcebispo de Granada), Diogo de Deza (Bispo de Sevilha) e o Cardeal Francisco Junior de Cisneros (de Toledo) que foi um grande reformador.
Foto de: reprodução.
O Cardeal Cisneros foi uma
das grandes figuras da
Igreja Espanhola do século XV.
O catolicismo da Península Ibérica:
Somente no século XI, com o papa Gregório VIII, o Rito Latino foi assumido plenamente, mas o Rito Mozárabe que tinha raízes na cultura dos visigodos permaneceu vigente até o século XVI. Neste tempo começava a se formar o catolicismo popular medieval, marcado por devoções e outras formas de expressar a fé e a religiosidade, pois o rito oficial era pouco maleável diante das circunstâncias: Procissões, peregrinações a lugares santos, bênçãos, veneração a "santos não oficiais", fundação de confrarias eram alguns dos elementos mais populares do catolicismo espanhol. A maior parte desses elementos passaria à América junto com o colonizador.
Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.
Mestre em História da Igreja
pela Universidade Gregoriana
Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com
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