Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja

Uma Igreja mais aberta para o mundo e para a sociedade

Quando chegamos mais próximos da Segunda Grande Guerra (1939-1945) já pode ser notado um progressivo sentido de mudanças, apesar de certas tensões e conflitos que aconteciam no interior da Igreja. A renovação da liturgia não era aceita tão facilmente, as novas ideias sociais eram vistas com reservas, sendo taxadas de comunistas e a posição do leigo na Igreja era outro foco de tensão.

Aos poucos, porém, foi entrando a necessidade de diálogo, de tolerância com o contrário e a autoridade foi mudando de sentido. 

Um catolicismo mais social

O pluralismo começou a acontecer, apesar da existência de conflitos, sobretudo, com os protestantes. Foi neste tempo que começou a tão falada história da divisão entre progressistas e conservadores, a partir do momento em que as Congregações Marianas, orientadas pelos seus diretores passaram a acusar os membros da Ação Católica de comunistas. Algumas associações e irmandades cuidavam mais dos aspectos espirituais da Igreja, outros estavam mais ligados à dimensão social, daí a separação.

O ano de 1945 marcou o final da Segunda Grande Guerra. As mudanças no panorama sócio-político, cultural e econômico cresceram ainda mais no período posterior à guerra. Caiu o regime ditatorial de Getúlio Vargas em 1945, ainda que depois ele voltasse pela via democrática, veio a democratização do país e o Partido Comunista voltou a ser legalizado. O surto industrial e a migração interna fizeram com que aumentassem assustadoramente as grandes cidades e problemas novos começaram a acontecer, como fruto do enchimento das cidades.

 

A industrialização provoca uma aceleração da urbanização do país, incentivada também pela “indústria” da seca. 

 

Com todas as mudanças sociais, políticas e econômicas acontecendo, a Igreja não poderia ficar como mera expectadora do processo social e participou pra valer destes novos caminhos da história do Brasil.

Chegamos aos anos decisivos das décadas de 40/50. O Brasil sairia da Segunda Guerra Mundial e grandes mudanças ocorriam em todos os níveis de vida de nossa pátria.

 

A Segunda Guerra, com a ação dos nossos
“pracinhas” faz surgir um novo período
na história de nosso país. 

A Igreja, como já acontecera nas três décadas precedentes, não foi só uma mera expectadora da história, mas participou pra valer na construção de um novo rumo, polarizando a sua ação, sobretudo, ao redor da problemática sócio-política. 

A Igreja no tempo de Getúlio Vargas

No tempo de Getúlio Vargas a Igreja procurou manter um bom relacionamento com os poderes constituídos. Nos anos quarenta este diálogo continuou mesmo depois da morte de Dom Sebastião Leme e da deposição de Getúlio Vargas. Mas no episcopado se notava um vazio de lideranças. A fase era de transição.

Outra questão que se colocava era a amplitude dos problemas sociais enfrentados, tanto pela Igreja como pelo estado. Por isso, ambos caminharão juntos.

Nos documentos, nas obras e atividades dos católicos, se notava uma abertura da Igreja para o povo. Neste tempo os documentos da Igreja começam a analisar a realidade, indicando possíveis soluções, numa visão bem mais realista e abrangente. 

Não se pode parar

Estamos no período Pré-Vaticano II e devido ao contexto de mundo e de Igreja, as mudanças já começavam a se avolumar. O número de dioceses cresceu ainda mais, sendo 178 em 1964; novos seminários foram criados e aumentou muito o número de religiosos, padres e leigos voluntários que entravam no Brasil, vindos do exterior. As entidades estrangeiras auxiliavam as diversas obras da Igreja e o governo também propiciava verbas e subsídios.

A partir de 1954 a reforma litúrgica se tornou oficial e na catequese, novos métodos e novos manuais foram introduzidos, superando a formula de repetições e decoração.

No campo escolar a Igreja enfrentava dificuldades com a criação de colégios secundários, empobrecimento da classe média, difusão das faculdades e multiplicação de escolas de serviço social. A regulamentação da Lei de Diretrizes e Base traria uma ampla modificação no panorama das escolas católicas.

No campo pastoral, a Ação Católica continuava, mas agora estavam surgindo diversos movimentos, cobrindo as falhas da ação e tentando responder a diversas carências e vazios.

Em 1945 a ação católica recebeu novo estatuto e se tornou mais especializada, devendo sacralizar cinco mundos: rural, estudantil-secundarista, independente, operário e universitário. Com isto os leigos vão amadurecendo em sua consciência e enfrentarão a década de sessenta que vai provocar a sua quase falência.

Chegamos então aos anos 50 e 60, tempo em que a Igreja enfrentaria alguns novos e profundos desafios. Por outro lado veria crescer fatores motivadores da sua ação pastoral. Como motivação maior teremos a Igreja se polarizando ao redor da questão social, graças, sobretudo, à ação especializada da ação social.

Como desafios teremos a principio, o vazio de lideranças e também o despontar de ideologias oponentes dentro da Igreja. A revolução militar de 1964 com o golpe de estado e o endurecimento do regime, a partir de 1967, complicaria muito a vida e ação da Igreja e também a vida da sociedade brasileira como um todo. 

Novos tempos, novo rumo

A Ação Católica, que foi de fundamental importância para a vida e ação da Igreja ao longo dos anos 30,40 e 50 estava passando por um cansaço e esgotamento. Estavam acontecendo diversos atritos, sobretudo, com as Congregações Marianas. Com a especialização de sua ação, a partir de 1945, ela ganhou um impulso novo: Criação de um secretariado nacional, novas frentes e novas possibilidades de trabalho, sobretudo no meio rural. Ainda assim surgiram novas divergências e atritos entre diversos grupos de Igreja. Estes atritos aumentaram devido a intransigência de alguns grupos.

Duas ideologias vão surgir: uma reacionária como a TFP (Tradição, Família e Propriedade) e outra progressista, naquele momento sem grupos definidos. Entre os dois grupos estarão o grosso da Igreja, com bispos, padres e leigos que se movimentam de acordo com cada situação.

 

Movimentos reacionários chegam a apoiar a ditadura no país. 

 

Neste tempo estará surgindo duas forças novas, que vão se tornar de fundamental importância para a vida e para a ação da Igreja. Em 1952 foi criada a CNBB e em 1954 foi criada a CRB.

A CNBB veio suprir a lacuna deixada pela morte de alguns membros do episcopado, pois seus objetivos buscavam: Facilitar a união, as atividades e esforços dispersos da Igreja.

A CRB terá funções semelhantes entre os religiosos que se transformariam numa grande força de ação, com os seus quase 70 mil membros espalhados, sobretudo pelos rincões mais afastados de nosso país.

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Província São Paulo

Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com

 

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