Por Cankin Ma Lam Em Redação A12 Atualizada em 16 MAR 2020 - 09H06

Violência e religião: nexo necessário?

Dmitri Sorokin/ Shutterstock
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Falam que o trigo e o joio são muito parecidos. Quando o joio brota, é difícil distingui-lo do trigo, mas na hora da colheita fica claro o que é cada coisa. Se bem que essa imagem tenha sido usada num sentido específico numa das parábolas de Nosso Senhor, também pode ser usada para indicar uma realidade bastante comum: às vezes, quando não temos uma visão amadurecida, duas coisas diferentes podem confundir-se. Na atualidade acontece assim com duas realidades que, para alguns, são muito distintas e para outros, estão muito ligadas: a violência e a religião.

Vale a pena começar fazendo algumas observações. Para alguns, uma visão monoteísta se projeta em direção a um tipo de imposição (e em definitivo, violência) pois ao "defender" o Deus único, entra em conflito com um saudável pluralismo. Além disso, não é estranho ter notícia de ideologias revestidas de religião. Quando tais ideologias têm visões conflitantes, chegam a colocar a religiosidade como uma desculpa que tudo permite.

Um extremo lamentável é o fenômeno do terrorismo, fantasiado de motivações religiosas. Sobre o terrorismo, em particular, observe-se a complexidade de tal fenômeno, ligado a fatores políticos e sociais; tentando forçar, através do terror, determinadas decisões ou simplesmente buscando intimidar a população para reafirmar seu poder.

Diante disso tudo, deve-se observar que “os excessos do ‘fundamentalismo’ religioso, no Ocidente e no Oriente, surgem radicalmente problemáticos também do ponto de vista da sua genuína inspiração religiosa”*. Por outra parte, pode-se observar que "as qualidades do cristianismo, que inspiraram também a melhor cultura humanista ocidental, são esquecidas e ignoradas pela geral interpretação da fé como renúncia à liberdade de pensamento e fanatismo da identidade"*. Incluindo um questionamento aprofundado no texto que está guiando estas reflexões*: "Politeísmo tolerante? Uma metáfora discutível"*.

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No seu fundamento
“a fé revelada do cristianismo introduz um fermento de viragem radical para a concepção da religião e do humanismo”*. Deve se afirmar que:

"o evento cristológico falsifica – na raiz – todo o apelo à justificação religiosa da violência. (...) O Filho, no seu amor pelo Pai, atrai a violência sobre si, poupando amigos e inimigos”*.

Esses pontos evidenciam a necessidade de conhecer, a partir de dentro, a realidade alheia. Na verdade, toda religião autêntica manifesta um caminho que leva a Deus, e, Nele, ao bem comum (neste aspecto, dando um destaque ao valor da "não violência").

Assim, pode ser desconsiderado o suposto nexo entre violência e religião autêntica. E, por sua vez, ser destacado o valor de um verdadeiro conhecimento mútuo, que permita ter contato com os valores que guiam a compreensão do relacionamento do homem com o divino e com os seus irmãos.

*COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Deus Trindade, unidade dos homens. O monoteísmo cristão contra a violência (2013)

Escrito por
Cankin Ma 2020 (arquivo pessoal)
Cankin Ma Lam

Nascido no Equador, filho de pai chinês é apóstolo de plena disponibilidade no Sodalício de Vida Cristã. Atualmente faz caminho ao sacerdócio e estuda teologia na Universidade Católica de Petrópolis.

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