O fato histórico da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, é conhecido pelos brasileiros.
Dom Pedro I, às margens do Riacho Ipiranga, proclama a separação do Brasil em relação ao país colonizador, Portugal.
Que lições podemos tirar desta separação?
Durante mais de três séculos (1500-1889), as terras brasileiras abasteceram de matérias-primas seu principal colonizador e outros povos e nações da Europa que estiveram por aqui. Eram produtos tropicais, riquezas do povo brasileiro, retiradas para atender à sociedade europeia no contexto do capitalismo mercantil. Tanto que o antropólogo Darcy Ribeiro afirma: “Nós brasileiros surgimos de um empreendimento colonial que não tinha nenhum propósito de fundar um povo. Queria tão-somente gerar lucros empresariais exportáveis com pródigo desgaste de gentes”.
No atual contexto eleitoral, emerge com grande força o tema do papel do Estado. Somos fruto dessa invasão colonial, que praticamente destruiu tudo o que encontrou aqui como organização humana, apagando o passado pré-colonial e construindo uma economia e sociedade a partir do Estado. Mas que Estado foi esse? Um Estado autoritário e privatista, a serviço do patrimônio das elites, que se beneficiaram muito de seus privilégios. Pois agora, quando o Estado sinaliza, mesmo que timidamente, exercer o seu papel de promover a cidadania e a democracia a partir de quem mais precisa, levantam-se as vozes das mesmas elites, dizendo que o Estado não é mais necessário ou, pelo menos, deve ser bastante reduzido.
Outras independências
Apesar dos avanços, o Brasil ainda é um país muito desigual. Metade da riqueza brasileira pertence aos 10% mais ricos. Para o escritor Ariano Suassuna, “é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”.
Hoje, há cerca de 200 milhões de pessoas vivendo no Brasil. Destes, 55 milhões são jovens entre 15 e 29 anos, sendo 31% considerados miseráveis, com uma renda per capita familiar inferior a meio salário mínimo, e outros 54% com renda entre meio e dois salários mínimos. Como falar de independência a quem vive, ainda, essa dura realidade?
Problemas básicos, como o saneamento, ainda fazem parte da rotina de muitos brasileiros: doenças causadas pela água contaminada são responsáveis pela maioria das internações de crianças no SUS. O Brasil tem uma dívida social histórica com suas populações mais carentes, e o resgate da sua cidadania é urgente.
Hora de reagir
Para os cristãos, uma realidade de injustiça e desigualdade não pode ser admitida. Diz Paulo, na Carta aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-o, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada” (Rm 12,2). O extermínio de jovens que acontece nas periferias das cidades ilustra que algumas de nossas políticas seguem na contramão da garantia de direitos humanos elementares. Por isso, diz o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs: “O que desejamos é transporte público eficiente, de qualidade, e que as populações afetadas pelos grandes empreendimentos sejam ouvidas e suas reivindicações atendidas. Que os governos não se fechem para o diálogo e optem por um projeto de país pensando no bem-estar de sua população, e não na garantia de lucro certo para aqueles que historicamente já ganham e desejam ainda mais. Nosso desejo é que a população seja respeitada e que políticas capazes de transformar as estruturas sociais e econômicas responsáveis pela exclusão social tornem-se reais”.
O que se espera é uma reação por parte da população que vive uma situação de injustiça, ao constatar que não dispõe de uma moradia decente, emprego, atendimento à saúde, escola de boa qualidade, distribuição de renda, ambiente e alimentos saudáveis. Precisamos de mais utopia ao lembrar a nossa independência. O que parece inalcançável hoje serve como ânimo para que não deixemos de caminhar, de exigir nossos direitos em direção a uma nação mais igualitária, já que a realidade está em permanente mudança. Assim, a nossa independência é um processo que continua atual dentro da nossa história.
Mundo Jovem -Equipe de Redação do Jornal Mundo Jovem, Porto Alegre (RS)
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