Por Pe. Leo Pessini (in memoriam) Em Igreja

Atenção: A AIDS volta a atacar!

Morrer de HIV/AIDS, já não é mais notícia como era no início dos anos 1980. Naquele momento, além da incurabilidade, quem fosse acometido desta doença era morte certa, em pouco tempo, com situações terríveis de abandono e indiferença. Enfrentávamos muitos preconceitos e discriminações. Fala-se de “peste gay”, de “castigo de Deus” pelos pecados, e tantos outros.

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Ficou conhecida como sendo a “síndrome do medo do outro”. Como capelão no Hospital Emílio Ribas, entre os folhetos distribuídos nas enfermarias aos doentes, encontrei um com este título: “A.I.D.S: A Ira do Senhor”! Em síntese o paciente portador do vírus HIV/AIDS era duplamente vítima, da doença e do preconceito, que o levava a uma “morte social” antes da morte física.

Segundo dados da UNAIDS, agência das Nações Unidas encarregada de combater a AIDS, em 2013 havia 35 milhões de pessoas no mundo vivendo com HIV. Desde o início da epidemia, em torno de 78 milhões de pessoas foram infectadas com o vírus HIV e 39 milhões morreram de Aids e doenças relacionadas.

Em termos de terapia antirretroviral, em junho de 2014, 13,6 milhões de pessoas vivendo com o vírus HIV tinham acesso à terapia antirretroviral. Em 2013, o número era de 12.9 milhões ou seja 37% de todas as pessoas portadoras do vírus HIV.

Destes 38% de todos os adultos vivendo com o HIV estão recebendo tratamento, contudo somente 24% de todas as crianças vivendo com o HIV, estão recebendo esta medicação que possibilita uma sobrevida a pessoa. Estima-se que durante o ano de 2013, 1.5 milhão de pessoas morreram de Aids e doenças relacionadas (World Aids Day Report 2014).

No Brasil, a epidemia do vírus HIV/AIDS estava estabilizada na faixa de 20 novos casos por ano a cada grupo de 100 mil habitantes. De 2003 a 2013, a taxa de mortalidade caiu de 6,4 óbitos por 100 mil habitantes para 5,7, no entanto, o número de infecções na faixa etária entre 15 e 24 anos seguiu direção contrária, crescendo em 32%. Esta é um grande problema. A atual juventude é mais liberal, está muito bem informada a respeito dos meios de como se proteger e prevenir a doença, mas os ignora. Esses jovens não vivenciaram o drama da epidemia da Aids nos seus inícios, quando o diagnóstico de AIDS era uma sentença de morte.

Hoje no Brasil dos 734 mil portadores do HIV existentes, estima-se que 20% não sabem que têm doença. Como esta enfermidade demora, em média 10 anos para apresentar os primeiros sintomas, muitos infectados disseminam o vírus sem saber. Daí a importância de estimular os testes.

Desde 2011 o número de casos voltou a crescer e hoje ocorre um aumento preocupante do número de mortes. Somente em 2013 foram 12.700 mortes por AHIV/AIDS, Número similar ao de 15 anos atrás, quando a política de acesso aos antirretrovirais foi implantada.

O Brasil no cenário mundial assumiu o compromisso de atingir metas para aumentar as taxas de diagnóstico e tratamento. Até 2020, 90% dos infectados devem saber que carregam o vírus HIV. Destes, 90% precisam começar a tomar os antirretrovirais. Dos que entraram em tratamento, 90% devem ter a carga viral suprimida. Estas metas chamadas, “política dos três 9”, foram ratificadas pelos países membros dos BRICS, Brasil Rússia, China, Índia e África do Sul.

A meta maior é de eliminar a epidemia de Aids até 2030, como vislumbra a Unaids, órgãos da Nações Unidas responsável para o combate do vírus HIV/AIDS.

Ainda não é possível erradicar a doença, mas podemos acabar com os níveis epidêmicos. A tão aguardada vacina, anunciada para o ano dois mil, ainda não temos. A grande novidade foram os antirretrovirais que ajudam a pessoa a viver mais, convivendo com a doença, mas ainda sem a cura.

Além das campanhas na mídia para estimular a realização do exame de HIV, O Ministério da Saúde aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para disponibilizar testes rápidos em farmácias. Uma forma de vencer um velho tabu: a vergonha de muitas pessoas em procurar o diagnóstico em um posto de saúde.

É urgente implementarmos vigilância ético-sanitária em termos de saúde pública, e o necessário cultivo de responsabilidade pessoal e comunitária, frente ao cuidado e respeito para com própria vida e a saúde dos nossos semelhantes.

Assinatura Pe Leo Pessini

Escrito por
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, Pós doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. É religioso camiliano e atual Superior Geral dos Camilianos.

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