Por Pe. Leo Pessini (in memoriam) Em Brasil

Preservar a dignidade e integridade da pessoa

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Estar presente junto a uma pessoa que está na fase final de vida é procurar focar e centralizar-se nas preocupações e história do paciente. Ouvir é responder de tal maneira às suas preocupações e angústias que este se sinta compreendido. A empatia está no coração na arte de ouvir. O objetivo maior desta abordagem na fase terminal é ajudar no processo de aceitação a vida vivida e finalmente, chegar à aceitação da morte, em outras palavras, enfrentar a morte com serenidade e paz! William Breitbart afirma: “Reconhecer e encarar com serenidade a própria morte, nossa finitude de vida, pode ser para muitos, um fator de transformação. A atitude de enfrentar a própria morte leva a pessoa a se voltar para encarar e abraçar a vida que foi vivida”.

Ao olhar e examinar para a vida que viveu e que luta para aceitar, esta pessoa enfrenta uma série de desafios. Enfrentar a morte pode aprimorar o processo ao se buscar um senso de coerência, significado e completude de vida. Isto permite também que tenhamos a consciência de que o último capítulo da vida é a última oportunidade para viver toda sua potencialidade, para deixar um autêntico legado e se conectar com o além, colocando a vida numa perspectiva de transcendência. “Neste momento ainda existe vida para ser vivida, tempo para simplesmente ser, de forma que o paciente pode partir com um senso de paz e de aceitação da vida vivida. O paradoxo desta dinâmica de final de vida é que através da aceitação da vida que se viveu, surge a aceitação da partida e da morte”, conclui o psiquiatra W. Breitbart, paliativistas do Memorial Hospital de Nova Iorque.

Como seres humanos, buscamos o sentido maior das coisas e da vida e nos preocupamos com três questões básicas: 1) De onde vim? 2) Por que estou aqui? 3) Para onde vou? (Existe algo além da morte?) Estas são questões centrais na experiência religiosa e espiritual. A palavra religião vem do latim religio, onde a raiz re (novamente) e ligare (conectar), fundamentalmente diz respeito ao esforço de se reconectar ou ligar junto. A busca de transcendência ou conexão como algo a mais de nós mesmos é a maneira básica e simples de uma aventura espiritual, não importante se acreditamos em Deus ou não.

Para as pessoas que cultivam uma fé religiosa pode-se oferecer cuidados e respostas confortantes para estas questões existenciais. Para os que não possuem um sistema de crenças religiosas podemos prover conforto via solidariedade e compaixão, que ameniza os medos associados com a dor, o sofrimento e o sentimento de sentir-se relegado ao “esquecimento” após a morte.

Para além dos tratamentos farmacológicos, que visam aliviar a dor e tratar dos sintomas físicos desagradáveis, faz-se necessário o resgate da dimensão espiritual da existência humana. A maior contribuição de Victor Frankl para a psicologia humana foi de despertar para a consciência de um componente espiritual da existência e experiência humana e da importância central do significado (ou busca de significado). Os conceitos básicos de Frankl incluem: 1) O sentido da vida: a vida tem um sentido e este não é perdido na fase final da vida. O significado pode mudar neste contexto, mas nunca deixa de existir. 2) busca de significado: É uma motivação básica do ser humano; 3) livre arbítrio – liberdade de buscar um sentido na vida e escolher a atitude frente ao sofrimento e na fase final da vida. Como diz o filósofo brasileiro Oswaldo Giacóia Jr. “o insuportável não é só a dor; mas a falta de sentido da dor, mas ainda, a dor da falta de sentido”.

Nesta perspectiva de cuidados, estaríamos preservando a dignidade e integridade da pessoa em fase final de sua vida. Dignidade basicamente significa respeito à pessoa na sua integralidade de ser, bem como para com seus valores de vida. Integridade seria o esforço de preservar sua própria identidade, mantendo-a conectado com tudo o que tem sentido e valor em sua vida, mesmo diante de uma cadeia progressiva de perdas e progressão da enfermidade, até o momento final. Não podemos esquecer que como necessitamos de cuidados ao nascer, precisamos também de cuidados no momento de nos despedirmos da vida (final).

Escrito por
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, Pós doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. É religioso camiliano e atual Superior Geral dos Camilianos.

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