Desde o início da Igreja, os cristãos fazem da arte um instrumento para promover os ensinamentos de Jesus Cristo. As catacumbas, utilizadas nos primeiros séculos para enterro dos mártires e fiéis, apresentam as primeiras expressões da arte sacra cristã.
“Por vários séculos as catacumbas tinham sido refúgio para os cristãos sepultarem seus mortos e expressarem sua fé, com símbolos gravados nas paredes que chegam a ser verdadeiras obras de arte. Nelas, através de gravuras, pinturas e afrescos, bem como pela utilização de símbolos, era expressado o desejo dos cristãos de atingirem o paraíso e, ao mesmo tempo, as pinturas murais constituíam elementos dos ritos funerários, inclusive dos enterros, ajudando a preservar os sepulcros”, explica o missionário redentorista e mestre em História da Igreja, padre Inácio de Medeiros.
Ao visitar um templo cristão podemos observar que essa manifestação artística está presente nos edifícios dedicados às celebrações religiosas. O Catecismo da Igreja Católica declara que a arte sacra “leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Santo e Santificador”.
“Não se trata de expressar qualquer ideia do artista, mas trata-se de dizer a fé da Igreja, como a Liturgia”, afirma o padre Marko Ivan Rupnik, um dos artistas sacros mais influentes da atualidade.
O religioso é o responsável pelo revestimento das fachadas do Santuário Nacional, transformando-as em uma grande Bíblia a céu aberto. A obra dará continuidade ao projeto de acabamento artístico-arquitetônico da Basílica, iniciado no começo dos anos 2000.
Além dos relatos bíblicos, o conjunto composto pelas quatro fachadas vai apresentar o mistério da Santíssima Trindade, que o Catecismo da Igreja Católica define como “o ensinamento mais fundamental e essencial na ‘hierarquia das verdades de fé’”.
“O projeto das fachadas é Trinitário”, adianta padre Rupnik. “Queremos manifestar a presença relacional do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
Para traduzir esta catequese, foram escolhidos mosaicos feitos de diversas cores e tipos de pedras. Cada um possui significados próprios.
“Vermelho, azul e o branco que estão por toda a fachada são símbolos da Santíssima Trindade. Vermelho, o Pai; azul, o Filho que se fez Homem; branco, o Espírito Santo”, detalha a doutora em Ciências da Religião, Wilma Tommaso.
A primeira fase dessa obra está a todo vapor, com a finalização da fachada Norte. Somente neste espaço, de 47 metros de altura, serão aplicados 4.000m² de mosaicos, que vão retratar o livro do Êxodo.
As cenas vão apresentar a libertação do povo judeu do Egito, guiado por Moisés. Entre as histórias retratadas está a passagem pelo Mar Vermelho (Êx 14,15–31), as pragas do Egito (Êx 7-12), o recebimento das tábuas da Lei (Êx 34,1-29) e a Sarça Ardente (Êx 3,1-7.17), que conterá uma representação mariana.
“A Sarça, para os Pais da Igreja, é a Mãe de Deus, pois ela acolheu a Cristo sem se consumir”, adianta o artista.
Outro detalhe que insere a Virgem Maria na obra poderá ser visto na representação das tendas que abrigaram a Arca da Aliança. Nela, Nossa Senhora está tecendo um pedaço do Tabernáculo. “Ela está ali, pois começou a tecer a carne da Palavra”, reitera o padre.
O revestimento das fachadas só pôde acontecer graças à generosidade da Família dos Devotos. Desde o ano de 2019, com o início do projeto Jornada Bíblica, além de auxiliar nas obras da Fachada Norte, os devotos recebem mensalmente estudos bíblicos para estarem mais próximos de Deus por meio das Sagradas Escrituras.
Após a finalização da fachada Norte, a Jornada Bíblica vai continuar com o revestimento da fachada Sul, que contará a Páscoa de Cristo. No futuro, as paredes das fachadas Leste e Oeste também serão revestidas com as cenas do Gênesis e do Apocalipse, respectivamente.
Junto com a obra, o projeto Jornada Bíblica também vai continuar levando a evangelização a partir da Palavra de Deus para a casa de milhares de brasileiros. Dessa forma, mais do que revestir as fachadas do Santuário Nacional, cada devoto poderá revestir-se da Palavra de Deus.
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