Por Everton Lucas Em Crescendo na Fé Atualizada em 28 AGO 2020 - 10H01

A rede

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O homem é um ser social que vive em grupo, é um ser de relações. Somente nessas relações, este homem encontra a possibilidade de se realizar. Chega a ser impossível conceber que alguém possa, no modelo social em que se vive, não relacionar-se com algo ou alguém. Desde os tempos mais primitivos, o homem utiliza-se das tecnologias por ele criadas para comunicar-se e para tecer relações com os outros indivíduos que compõem o campo social em que estão inseridos.

Nos tempos hodiernos, surge um fenômeno cibernético que possibilita a nós formarmos um emaranhado de relações de comunicação, o que torna viável a cada pessoa estar em contato com várias outras no mesmo momento, sem, necessariamente, estarmos ligados de uma maneira mais profunda.

Leia Mais5 dicas para evangelizar nas redes sociaisNo meio de todo esse “tsunami” emergente, estamos nós, jovens católicos, e nossa ação evangelizadora. Esta onda cibernética arrasta tudo e todos que encontra pela frente, nos fazendo ser parte dela. Isso nos traz um grande desafio.

Se queremos realmente acompanhar a evolução dos tempos e manter viva a chama acesa por Jesus Cristo, precisamos nos dispor a fazer o diferencial na redeTenho certeza que você que está agora lendo esta coluna, já busca alguma forma ser esse diferencial na internet, pois você poderia muito bem estar acessando qualquer outro tipo de site, com conteúdos que certamente não acrescentam nada à sua vida.

Gostaria de trazer para esta nossa conversa uma metáfora, muito feliz, que um sociólogo polonês dos nossos tempos utiliza para tratar sobre o assunto: Zygmunt Bauman, em uma de suas obras, fala da maneira como as pessoas se relacionam hoje e diz que as pessoas vivem “surfando” nas relações. Particularmente falando, nasci numa cidade praiana e cresci vendo pessoas surfando nas belas praias de minha terra, onde tive também, embora poucas vezes, a experiência de deslizar sobre as ondas do mar. Quando Bauman faz a sua colocação sobre o constante estado de surf em que as pessoas se encontram, logo me identifiquei através de uma experiência sensível já vivida.

shutterstock
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Mas, afinal, como eu vivo surfando, mesmo sem estar numa praia? O que desejo dizer, parafraseando o pensamento do sociólogo, diz respeito à superficialidade das relações que hoje tecemos. Ora, primeiro analisemos o esporte que utilizamos para bem ilustrar a ideia. Pode observar um surfista praticando seu esporte:

- Entra na água;
- Sente como está a maré;
- Aguarda a melhor onda;
- Quando vê que ela está vindo, deita na prancha, batendo os pés e remando com os braços;
- Tendo conseguido “pegar” a onda, ele fica de pé na prancha, que desliza sobre a água fazendo manobras, até o momento em que o surfista vê que não dá mais pra surfar. Ali termina aquela relação surfista X onda.



Como podemos aplicar isso à nossa forma de viver a nossa fé?

O advento da tecnologia pode dar uma ajuda para que estejamos sempre nesse bloqueio de profundidade relacional, que faz com que a vivência da fraternidade, comunhão e até mesmo prática individual da fé sejam prejudicadas. De duas maneiras, devemos ter cuidado com o “surf relacional”.

Primeiro, na nossa relação com Deus. Muita gente por aí anda vivendo uma relação superficial com Ele. Nas redes, é muito comum ver pessoas postando fotos com frases bíblicas, juntamente com suas selfies (que por sinal, muitas vezes, foto e frase não combinam). Será que minha vivência da fé consiste em postar frases em minhas redes sociais? Muito mais do que “divulgar” frases bíblicas, nossa ação deve consistir em vivê-las. Vivendo assim, nós entramos em uma relação mais profunda com Deus. Este exemplo citado é somente uma das formas nas quais se vê hoje, onde as pessoas preferem não aprofundar um compromisso com a fé que supostamente vivem.

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Já o segundo aspecto sobre o qual devemos ter cuidado é com relação aos outros. Nossa fé não é uma relação somente "Eu e Deus", mas inclui também a comunidade fraterna em que estou inserido. É aqui que devemos fazer um esforço maior.

Ter uma boa relação com Deus é um tanto quanto fácil, do ponto de vista da convivência, pois em Deus não há defeito. Mas quando passamos para a convivência com aqueles que estão ao nosso redor, então as dificuldades aparecem. O jeito é fazer uma análise de vida, assim como São João nos propõe, afinal não posso amar a Deus e odiar meu irmão (1Jo 4, 20). A superficialidade nas relações entre os irmãos de fé pode prejudicar a vida de uma comunidade inteira.

Não estou aqui querendo, de forma alguma, dizer que as redes sociais são um fenômeno negativo para a sociedade. Apenas acho que precisamos saber utilizá-las para o nosso bem e para o bem das outras pessoas. A nossa realidade se mistura entre o real e o digital, mas precisamos ter cuidado, pois a nossa vida não pode se tornar um constante virtual.

Que sejamos jovens inseridos na rede, mas que vivem uma realidade concreta de testemunho de fé. Só assim nos utilizaremos das ferramentas que nosso tempo nos oferece para bem ser cristãos e, assim, também seremos Sal e Luz para o nosso agora.

Escrito por
Everton Lucas (Fotos Everton Lucas)
Everton Lucas

Apresentador e estudante de comunicação.

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