Hoje em dia é muito comum escutar que a religião é algo pessoal, entendendo-se como pessoal algo subjetivo, ligado ao âmbito do privado. Muitos dizem aquele velho jargão “religião não se discute”, não importa a religião que se tenha, desde que não interfira na convivência entre as pessoas, assim, é lícito que se tenha uma relação pessoal com Deus, mas fechada no quarto. Mas será que isso é possível em uma Igreja que nasceu para “ir por todo o mundo e pregar o Evangelho”?
É verdade que a fé é algo pessoal. Mas justamente porque é pessoal, ela é também comunitária, porque a pessoa humana é, por natureza, um ser de comunidade. O Catecismo nos diz que “a pessoa humana tem necessidade de vida social”. Dizer que algo é pessoal não é dizer que é restrito a um sujeito, pelo contrário, é dizer que necessita estar em relação com outras pessoas e, principalmente, no caso da fé, com a pessoa de Deus (mas não restrita a Ele).
Se olharmos para os princípios da Igreja, veremos que a vida em comum sempre foi algo muito importante. Podemos ler nos Atos dos Apóstolos: “Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum”. E muitos outros exemplos, como a experiência de comunidade dos 12 apóstolos, ou dos missionários que eram enviados de dois em dois a anunciar o Evangelho. Mas, talvez, o argumento mais forte que nos diz que precisamos viver a nossa fé com os outros seja a maneira como Jesus mesmo resume os mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
E o amor em sua essência é doção de si, entrega da própria vida aos demais. E isso, claramente, não é possível em uma fé confinada entre quatro paredes. O Papa Francisco nos insiste em sair, ir ao encontro dos marginalizados, dos mais necessitados. Essa é a razão de ser da Igreja, desde Jesus Cristo. Uma fé que não esteja em saída é uma fé que padece alguma enfermidade.
Especialmente, após o Concílio Vaticano Segundo, estão aparecendo na Igreja várias experiências novas de grupos com um carisma específico, com uma missão específica, sempre em comunhão e subordinada à única missão da Igreja, que reúnem várias pessoas que se experimentam tocadas por um modo particular de viver e anunciar a própria fé. E se são autênticas experiências de Deus, corroboradas pelo magistério da Igreja, são caminhos válidos por onde caminhar junto a pessoas que experimentam algo parecido com o que experimentamos. Sempre em comunidade.
É claro que, sendo uma realidade pessoal, a vida de fé também tem uma importante dimensão não-comunitária. São os momentos fundamentais de oração pessoal, nos quais nos colocamos “cara a cara” com Deus e lhe confiamos nossa vida, nossas alegrias e tristezas, esperanças, dúvidas, dificuldades, enfim, tudo o que somos. Essa dimensão não pode faltar, visto que o mesmo Jesus se retirava em vários momentos (especialmente os importantes) para rezar sozinho ao Pai. Se Ele, que era Deus e estava sempre conectado ao Pai, precisava desses momentos, quanto mais nós que facilmente nos esquecemos de Deus nas coisas do dia a dia.
Mas esses momentos só têm sentido se fazem parte de toda uma vida cristã que está em um movimento de saída, de anúncio daquilo que recebemos, da fé que professamos. A nossa fé é uma realidade entre Deus e cada um de nós, mas que precisa, para ser verdadeira fé, espalhar-se aos que nos rodeiam, para que eles também possam ter a mesma experiência e assim, como comunidade, irmos crescendo na vida cristã e na realização do anúncio do Reino de Deus.
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