Espiritualidade

São Bernardo e a sua busca pela santidade

João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)

Escrito por João Antônio Johas Leão

20 AGO 2014 - 06H24 (Atualizada em 22 AGO 2022 - 08H16)

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“Há 24 quilômetros ao sul de nós, nas profundidades daqueles bosques onde o vento geme e as árvores suspiram, existe uma colônia de homens com uma única ocupação na vida. Para mim, eles são os verdadeiros cavaleiros de Borgonhaapesar de que muitos procedam dos servos. Eles são os protetores do único torneio que vale a pena; os que batalham a única batalha digna de entregar até o sangue; os que guerreiam pelo único Rei ao qual o homem deve guardar fidelidade eterna. Por isso me vou a Citeaux. Vou buscar a Deus. Vou me fazer santo.”

Esse pequeno texto foi retirado de um livro chamado “A Família que alcançou Cristo”, escrito por M. Raymond. Nesse trecho, Bernardo conversa com sua irmã Humbelina sobre a sua decisão de deixar sua casa paterna para se fazer monge do monastério de Citeaux. É um diálogo muito bonito, que faz arder no leitor um desejo, parecido com o de Bernardo, de viver a vida com os ideais mais nobres. Desejo de viver a vida de verdade.

De fato, o diálogo continua com a perplexidade da irmã diante dessa afirmação. “Vai se fazer santo? Não sejas ímpio, Bernardo!” Ao qual o jovem Bernardo responde: “Eu acho que já é hora de parar de brincar de viver e me dedicar a viver de verdade. Vou em busca de Deus. Vou me fazer santo. Para isso fui criado.”

Poderíamos falar muito sobre São Bernardo. Poderíamos falar sobre sua capacidade de atrair as pessoas para a vida religiosa, sobre seu carisma bondoso, inteligente, simpático. Poderíamos falar sobre suas várias obras teológicas como o Tratado do amor de Deus ou sobre sua profunda devoção mariana.

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São Bernardo é um santo que viveu entre 1090 e 1153, ou seja, finais do século XI até meados do século XII. Uma época em que a Igreja passava por muitas dificuldades. Os sacerdotes, bispos e inclusive o Papa estavam extremamente subordinados aos senhores feudais, não dispondo, muitas vezes, da liberdade necessária para pastorear o rebanho de Cristo.

"Quantos de nós, católicos, vivemos a nossa vida com a certeza de que só vale a pena viver se for para amar de verdade"?

Mas o que eu gostaria de ressaltar com esse texto é que, mesmo em meio a essas dificuldades, o jovem Bernardo conseguiu entender algo que até hoje muitas pessoas demoram muito para entender. E muitas, infelizmente, passam a vida inteira sem entender. A vida e o amor são uma mesma coisa. De fato sabemos que Jesus disse: “Eu sou a Vida.” E em outra passagem podemos ler: “Deus é Amor.”

Voltando ao livro, Bernardo se lamenta: “Quantos entre nós, mortais, refletem sobre isso?” Considero uma pergunta pertinente até hoje. Quantos de nós, católicos, vivemos a nossa vida com a certeza de que só vale a pena viver se for para amar de verdade? Quantos de nós nos contentamos com uma vida “normal” onde podemos até chegar a ser boas pessoas, mas nunca santos?



Talvez você esteja pensando: “Isso parece muito exagerado, o que tem de mau em ser apenas boas pessoas? A santidade já é demais para mim!”

A irmã de Bernardo fez essa mesma pergunta, a qual ele respondeu:

E quanto ao exagero, tudo que não é medíocre parece exagerado. E se existe algo que eu rejeite com toda a minha alma é a mediocridade.”

Todos nós somos chamados a ser santos, e não apenas pessoas boas. É na santidade que encontramos a felicidade que buscamos.

Acho que hoje, celebrando a memória de São Bernardo, podemos fazer um exame de consciência e perguntar-nos:

Eu já entendi meu chamado a ser santo? Já compreendi que a única vida que vale a pena viver é a vida entregada ao Amor?

Bernardo ardia interiormente com essas perguntas e, como é da natureza do fogo, esquentava tudo o que estava ao seu redor. Esse fogo é tão forte que ainda hoje, no século XXI, podemos nos aquecer com ele, para depois aquecer os corações de muitas outras pessoas que passam frio longe do Amor e da Vida verdadeira.

Para terminar, vou deixar mais um trecho do diálogo de Bernardo com sua irmã, no qual ele explica quem são os santos para ele

“É triste dizer, mas existem homens que nem compreendem nem buscam a Deus. Esses, para mim, estão mortos. Existem outros que o compreendem, mas não o buscam, são os ímpios. Outros, os tontos, o buscam, mas não o compreendem. Outros, enfim, o buscam e o compreendem. Esses são os santos, e eu quero ser um deles!”

 

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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