Diálogos: Comunismo e socialismo

A entrevista com o Padre Antônio Aparecido Alves, teólogo, professor e membro da assessoria do Centro Nacional de Fé e Política da CNBB, traz luz sobre a complexidade dos termos comunismo e socialismo, frequentemente mal compreendidos e associados a acusações direcionadas à própria Igreja.

O socialismo e o ideal de igualdade

Padre Toninho começa explicando que o ideal de uma sociedade igualitária é, na verdade, um princípio com raízes bíblicas: “A Bíblia diz: ‘Não deve haver pobres entre vocês’”, ressaltando a busca por uma sociedade sem necessitados. Essa aspiração por igualdade aparece no Novo Testamento, no Livro dos Atos dos Apóstolos, que descreve os primeiros cristãos como um grupo que tinha tudo em comum.

O sacerdote explica que o socialismo ganhou diferentes contornos ao longo da história. Na França, surgiu o socialismo utópico, que se baseava em uma abordagem mais voluntarista, focada na boa vontade do ser humano. O termo “utópico” foi, inclusive, cunhado por Karl Marx.

Comunismo: A busca por um ideal “científico”

Marx e Engels, ao lançarem o Manifesto do Partido Comunista, buscaram se desassociar da visão “utópica” do socialismo. Por isso, utilizaram o termo comunismo para se referir ao seu projeto, que eles consideravam mais “científico”.

A Doutrina Social da Igreja: Entre a condenação e a participação

A Doutrina Social da Igreja (DSI) oferece uma visão clara sobre essas ideologias. Segundo o Padre Toninho, o comunismo é expressamente condenado. Todos os documentos e os ensinamentos dos Papas e Santos Padres se posicionam de forma contrária a essa ideologia.

Já com o socialismo, a posição da Igreja é diferente. O Papa João XXIII, por exemplo, reconheceu que “há aspectos bons no socialismo”, como o ideal de uma sociedade mais igualitária, e que um cristão poderia, de fato, participar de movimentos que defendem esses valores.

O Papa Paulo VI aprofundou essa reflexão, sugerindo que é preciso analisar o socialismo em três níveis:

• As aspirações, que muitas vezes estão em sintonia com os ideais cristãos.
• A organização do movimento.
• A ideologia de origem.

Paulo VI ensinou que um cristão pode participar do socialismo desde que a organização esteja mais próxima das aspirações por justiça e igualdade e distante da ideologia original que possa ser conflitante com a fé.

A importância da formação para o discernimento

Ao final da entrevista, o Padre Toninho e o apresentador reforçam a importância da formação e do conhecimento para que as pessoas não repitam acusações sem fundamento. É preciso usar a razão e a informação para compreender a complexidade desses temas e evitar o uso de termos de forma pejorativa, investindo em uma formação sólida.