Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 25 MAR 2019 - 17H28

Quaresma: preservar o estado de bem estar, alegria e vida plena!

Tentação no deserto

Basílica de São Marcos - Veneza

Mt 4, 1-11- 1º Domingo da Quaresma

Com a imposição das cinzas na quarta-feira passada a Igreja iniciou o ciclo da Páscoa no seu calendário. São 40 dias da penitência quaresmal que precedem a maior festa católica. De um lado, na Bíblia as cinzas simbolizam o nada; de outro, sinalizam a passagem para a ressurreição, a páscoa com Jesus. Viver o espírito da Quaresma é estar convencido que tudo vai passar e vira cinzas na vida terrena. Logo, comprometer-se a assumir à luz da fé nossos limites humanos. Apelo à conversão, ao arrependimento dos erros e à penitência! As cinzas nos alertam a sabermos investir a vida naquilo que é duradouro. O corpo humano hoje embelezado, cultivado, modelado nas academias com exercícios aeróbicos, ou ao contrário sacrificado no duro trabalho diário, na fome e nas doenças, é apenas a “embalagem” do espírito. Em si é pó, mas o sopro do Espírito, o hálito divino o anima e lhe dá vida. O esforço espiritual das práticas quaresmais nos ajuda a sujeitar a carne ao espírito. A dominar as paixões. A nos libertar das tentações que afagam e seduzem nosso corpo, nossas sensações e emoções. É preciso treinar a vontade e fazer de tudo para preservar em nós, o alento espiritual, o sopro vital do Espírito Santo! É ele quem nos livra da corrupção da morte produzida pelos pecados.

O itinerário da Quaresma nos 40 dias conduz à Páscoa de Jesus, ao seu Êxodo. Refere-se à longa jornada do povo bíblico libertado da escravidão do Egito. Ao buscar unir-se numa pátria precisou viver no deserto, lutar contra inimigos mais fortes, superar tentações e corrigir-se das infidelidades nas provas. A Igreja é o novo povo de Deus, formado por Jesus e com Ele peregrinando na fé e no amor fraterno acolhendo o mistério do seu êxodo pascal. Com Ele caminhamos para a liberdade e a vida conforme o projeto salvador de Deus: libertar-nos do pecado e restaurar-nos na santidade. Jesus é o novo Adão. Ele reparou a primeira desobediência, causa da nossa desgraça (1ª leitura e 2ª leitura). Assumindo radicalmente a vontade do Pai, superou todas as tentações que podiam afastá-lo dela. Passando da morte para a ressurreição nos introduziu numa nova Criação, não aquela de Adão e Eva, mas vida com Deus, na fraternidade e paz! Ler: Romanos, 5,12. 17-19. Mateus, 4, 1-11.

 

Quando Mateus diz que o “Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo” refere-se às duas naturezas na pessoa de Jesus.

O diálogo entre Jesus e o tentador é um artifício literário de Mateus. Mostra-nos a fidelidade extrema do Cristo à vontade de Deus não só no início de sua atividade. A expressão simbólica ‘40 dias e 40 noites’ resume a vida inteira. A cena literária retrata as duas propostas, os dois caminhos entre os quais cada um de nós deve escolher. Ou o caminho da obediência fiel ao querer de Deus, ao seu projeto salvador. Ou o caminho da desobediência, do pecado, das tentações sedutoras. Quando Mateus diz que o “Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo” refere-se às duas naturezas na pessoa de Jesus. A natureza divina: Jesus é movido pelo Espírito. A natureza humana: ele é solidário conosco, suportando nossa condição de pecadores sem ter pecado algum. Os 40 dias de jejum e tentação no deserto são memória histórica da travessia do povo bíblico libertado, mas centralizam em Jesus o sentido do acontecimento. É Ele e somente Ele quem realiza a salvação e abre o caminho para todos. Mesmo se limitado como nós pela carne sujeita às tentações, Jesus, movido pelo Espírito superou as artimanhas do pecado e venceu o adversário (diabolus). Foi vencedor permanecendo fiel ao Pai até na cruz, a sua última provação.

Mateus fez aqui uma catequese teológica sobre a missão, o papel messiânico de Cristo. O seu êxodo, no caminho da fidelidade suprema ao Pai, repele o triunfalismo, os esquemas dos interesses mesquinhos e egoístas. O do poder que escraviza e profana a imagem pessoa humana imagem e semelhança de Deus. O da fome da abundância e do acumulo de bens; de cultivar o carreirismo e prestígio também na religião. Meditando sua vida à luz da Palavra de Deus naquela primeira quaresma lá no deserto, Jesus rejeitou as tentações que costumam nos seduzir. Suas opções foram na contramão das seduções e expectativas dominantes. Isso era o que levava o povo a esperar um messias que distribuísse bens em abundância ou reunisse as multidões em espetáculo popular. Ora, reproduzir o uso do poder com seu cortejo de violência, dinheiro, politicagem, anularia a libertação messiânica. Lá atrás no primeiro êxodo o povo hebreu sucumbira a todas as tentações e infidelidades. Jesus, novo Moisés e novo Adão, é o nosso vencedor. Vence pela obediência humilde à vontade do Senhor confiando totalmente nele e colocando sua vida a serviço de todos.

Podemos pensar que o “Êxodo” de Jesus passou do seio eterno do Pai para o seio virginal de Maria. E dali para frente até o Calvário ela lhe foi mãe, mestra e discípula fidelíssima, inseparável que é da vida e libertação pascais. A sua humilde imagem de Mãe Aparecida no Santuário vem acolhendo nesses 300 anos de bênçãos, os passos dos peregrinos na fé que aos milhões recorrem a sua materna intercessão para “em romaria e prece pedir paz nos desaventos”. A todos ele inspira “a amar e andar com Jesus!”.

  

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