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No menino de Belém, um Deus que nos atrai por amor e com amor

Segundo os ensinamentos de Santo Afonso Maria de Ligório

Escrito por Rafael Peres

11 DEZ 2023 - 08H00 (Atualizada em 22 DEZ 2023 - 11H37)

Frame Stock Footage/ Shutterstock

Conforme vemos no Evangelho, a Virgem Maria, após o nascimento de Jesus, o coloca numa manjedoura, em meio aos animais, pois não havia lugar para eles na hospedaria de Belém. (cf. Lc 2,7) Imaginemos, então, o Rei dos Céus, que desce ao nosso encontro e não tem onde reclinar a cabeça. (cf. Lc 9,57-62Leia MaisNatal, festa da vida e da humildadeMúsicas Natalinas para emocionar sua noite felizVocê sabe quais são os Santos da Novena de Natal 2023?

Santo Afonso reflete principalmente sobre o fato de que este Deus, sendo o Rei da Glória, desce ao nosso encontro, encarna-se no seio da Virgem Maria, e não tem onde morar; não tem a dignidade de poder nascer num quarto e ser depositado numa cama, como os príncipes, filhos de reis, nascem.

Ao contrário, o Rei dos Céus desce das estrelas e nasce no frio de uma gruta e é colocado no cocho de comida dos animais, com um pouco de palha e envolto nos panos que a Virgem conseguiu para cobri-lo.

O próprio Deus, para confundir os sábios e entendidos (cf. 1Cor 1,19-29) começa a sua vida neste mundo, como homem, num estábulo, longe dos grandes palácios e do templo. Este Deus que ouve a voz dos pobres e sofredores, vindo ao seu encontro (cf. Ex 3,7-14) encarna-se na sua realidade; na fragilidade humana Deus nos cativa pelo seu amor.

Santo Afonso, em suas meditações para o Santo Natal, disse: “Imaginemos ver a Jesus já nascido na gruta de Belém, e ouvir os anjos cantar glória a Deus e paz aos homens de boa vontade. Quais devem ter sido os sentimentos que então se despertaram no coração de Maria, ao ver o Verbo divino feito seu filho! Qual a devoção e ternura de São José ao apertar contra o coração o santo Menino! Unamos os nossos afetos com os desses grandes personagens”¹.

Quando Santo Afonso, diz que devemos unir nossos afetos aos afetos de Maria e José, ele quer nos indicar o caminho para festejarmos, mas também nos colocarmos diante deste fato, que é o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, com reverência e devoção. É saber colocar-se diante de Deus e perceber o seu infinito amor por cada um de nós.

Amor é a palavra e o sentimento chave para Afonso compreender a Encarnação e a vida de Jesus. Um Deus louco de amor por nós que é capaz de descer; de sair da sua condição divina, vir ao nosso encontro e nos ensinar o que é o amor.

«Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no coração de Maria, quando viu o Verbo divino reduzido por amor dos homens a tão extrema pobreza»². O coração de uma mãe que vê o seu filho nascer num estábulo; num lugar onde os animais dormiam; uma mãe ter que colocar seu filho no cocho de comida dos animais, em maio a palha, enrolado em panos maltrapilhos, o que será que passava no coração de Maria, como mãe? É verdade, como diz Santo Afonso, houve um misto de sentimentos, pois, ao mesmo tempo que era Jesus, o Filho de Maria, ao mesmo tempo, era o seu Deus que havia se encarnado.

O amor e a devoção caminham juntos, da mesma forma que Maria amava e adorava Jesus como sendo o Filho de Deus, o Verbo encarnado. Ela o amava e devotava sua vida ao cuidado do seu Filho, que nasceu de seu ventre.

Um Deus que nos atrai por amor e com amor. É este Deus pequenino, que ao encarnar e assumir a nossa condição humana, menos no pecado, é colocado numa manjedoura em meio aos animais. Este Deus é rejeitado nos palácios, nos templos e nas hospedarias e nasce numa gruta. Como não amar este Deus que vem ao meu encontro? Como não amar este Deus que desce dos céus, nasce no frio e na geada numa gruta e é colocado numa manjedoura, onde é adorado pelos Reis do oriente?

Afonso resume esta história de amor e que nos convida ao amor, numa belíssima canção que ainda hoje é cantada nas noites de Natal na Itália e de modo especial na Basílica de São Pedro, enquanto o Papa leva o menino Jesus para ser colocado na manjedoura, lembrando deste Amor que assume a nossa carne para nos ensinar o que é amar: Tu scendi dalle stele — Tu que desces das estrelas, para nos amar; para nos ensinar o amor.

Eis que lá das estrelas, ó, Rei Celeste, 
Tu vens nascer na gruta, ao frio agreste. 
Ó, Menino meu Divino, eu te vejo aqui tremer, 
Ó, Deus amado, 
Ó, quanto Te custou me ter salvado!
Eis que faltam ao Senhor, Deus das alturas,
Os panos e o calor das criaturas! 
Meu divino Pequenino, 
Tal pobreza grande assim, mais me enternece, 
Se penso que é o amor que Te empobrece. 
Gozando lá no Céu toda a ventura, 
Tu sofres nestas palhas tanta agrura. 
Doce Eleito do meu peito, aonde vais no Teu amor? 
Jesus, eu penso: “Por que sofrer assim, ó Amor imenso?”
Mas se é da Tua Vontade sofrer tanto, 
Por que chorar assim sentido pranto? 
Terno Esposo, Deus ditoso, meu Jesus, 
Compreendo, sim, Senhor querido:
Tu choras, não de dor. 
Mas de amor ferido. 
Tu choras porque sabes do meu pecado, 
Depois de tanto amor Não ter amado. 
Ó Eleito do meu peito 
Se o passado foi assim, eu só reclamo: 
Não chores mais, porque já Te amo!
E quando estás assim adormecido, 
o Teu Coração não dorme, enternecido. 
Deus amado, imaculado, em que pensas então?
“Penso na morte que hei de sofrer por ti!” 
Que amor tão forte!
Morrer por mim, meu Deus,
É Teu anseio! 
E que outro amor hei de trazer no seio?!  
Ó, Maria, minha guia, 
Se não sei amar Jesus, a Ti eu chamo: 
Amá-lo vem por mim, que pouco o amo!

Frater Rafael Peres Nunes de Lima

Associado da Academia Marial
Missionário redentorista e estudante de Teologia do ITESP.

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1.  AFONSO Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 76-79.

2. AFONSO Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 76-79.

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