““Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor. Jesus disse de novo para eles: “A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.” (Jo 20, 20-21)”
A ressurreição de Jesus Cristo é um marco para a fé de todos os cristãos e é relatada inclusive em diversas religiões. A enternecedora cena de Maria Madalena no Evangelho de João (20,1-10) se dirigindo e permanecendo junto ao túmulo de Jesus na madrugada do domingo, revela em seus gestos de profunda tristeza uma certeza de que tudo havia se acabado. O Evangelista Lucas afirma que não somente Maria Madalena mas também outras “mulheres foram ao túmulo, levando os perfumes que tinham preparado” para ungir o corpo do Senhor (Lc 24,1-12). Ao passo que Lucas apenas cita a presença de outras mulheres no túmulo sem nomeá-las, o Evangelista Marcos sana a nossa dúvida em relação a identidade dessas mulheres afirmando serem elas: “Maria, mãe de Tiago, e Salomé” (Mc 16,1-8). São Mateus em seu Evangelho afirma que a companhia de Maria Madalena naquela manhã teria sido apenas “a outra Maria” (Mt 28,1-8) que trata-se de Maria, mãe de Tiago e José, segundo Mateus e Marcos (Mt 27,56; Mc 15,40) ou simplesmente a mãe de Tiago conforme nos relata Lucas (Lc 24,10).
Diante dos relatos evangélicos, não somente as mulheres e Maria Madalena como testemunha ocular, mas também os Apóstolos contemplaram Jesus Ressuscitado dos mortos. Os evangelhos narram ainda outras aparições do Cristo após a sua ressurreição. Na tarde daquele mesmo domingo, Jesus apareceu aos Discípulos no caminho de Emaús (Lc 24,13-35; Mc 16, 12-13). Menciona-se durante o diálogo entre Jesus e os discípulos de Emaús uma aparição do Senhor ao apóstolo Pedro (Lc 24, 34; 1Cor 15,5). Na noite daquele mesmo dia no lugar da Última Ceia, o Ressuscitado apareceu aos Apóstolos, sem a presença de Tomé (Jo 20, 19-23) e uma semana depois, com a presença do mesmo (Jo 20, 26-29). No livro dos Atos dos Apóstolos relata-se uma aparição do Senhor na Cidade de Jerusalém aos Apóstolos, tendo presente outras testemunhas (At 1, 3-11). A Galileia também foi palco das aparições do Ressuscitado, aparecendo a sete discípulos, durante a segunda pesca milagrosa (Jo 21, 1-23), à beira do mar de Tiberíades, e, depois, aos Onze Apóstolos, em uma montanha indicada por Jesus (Mt 28, 16-20). O apóstolo Paulo na sua primeira Carta aos Coríntios, relata que o Ressuscitado apareceu em primeiro lugar a "Cefas, e depois aos Doze”. Paulo ainda afirma que posteriormente o Senhor teria aparecido a mais de quinhentos irmãos de uma vez, depois a Tiago e a todos os apóstolos. Por último, teria aparecido a ele (1Cor 15,5-8).
Curiosa e intrigante é a ausência da presença de Maria, Mãe de Jesus, nos relatos das aparições de Jesus Ressuscitado. Por que Maria de Nazaré não foi ao túmulo juntamente com Maria Madalena e as outras mulheres? Estaria Maria profundamente deprimida a ponto de não conseguir acompanhá-las ao túmulo? Por que os Evangelistas, Pedro e Paulo não falam de um encontro da Mãe e do Filho após a vitória sobre a morte? Dada a importância de Maria na vida de Jesus, não seria normal que sua presença fosse a primeira a ser notada no túmulo ou até mesmo nos grupos aos quais o Ressuscitado designou-se a aparecer? Cristo, ressuscitado, não deveria ter ido ao encontro de sua amada Mãe para converter as lágrimas derramadas por ela no Calvário em lágrimas profundas de alegria? Mas nada se fala deste encontro que teria sido posteriormente o ideal dos pincéis de um grande pintor, a cena mais comovente a ser interpretada por grandes artistas... a lágrima mais pura e singela a escorrer às faces dos fiéis devotos da Virgem no dia de Páscoa.
Após a flagelação impiedosa de Jesus, sua morte na Cruz e seu sepultamento, os seus apóstolos e discípulos julgaram estar tudo acabado. Seu “Mestre e Senhor” (Jo 13, 13; Jo 1, 4) estava morto e a esperança da restauração em Israel parecia ter sido sepultada com Ele. O desânimo nas palavras dos discípulos no caminho de Emaús, que não reconhecem o ressuscitado, nos faz compreender que o estado de ânimo e a fé de seus apóstolos e discípulos estava abalada: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam” (Lc 24, 21). Aqueles homens cheios de fé e alegria que voltavam de suas missões louvando e bendizendo a Deus pelos seus feitos: “Senhor, até os demônios se submetem em teu nome!” (Lc 10, 17), estavam perturbados, abatidos, desanimados e cheios de temor. Caminhavam como “homens de pouca fé” (Mt 8, 2; 14, 31; 16, 8) e não conseguiam recordar-se de que Jesus mesmo havia falado de sua morte, e também a sua ressurreição no terceiro dia (Lc 24, 7).
Silenciosa, Maria medita nos dias que se seguem a crucificação, as consequências de seu “Sim” no dia da Anunciação. Diferente dos seguidores de seu Filho, Maria de Nazaré, segue acreditando nas palavras de Jesus com grande serenidade e movida por um espírito sobrenatural. Diante da provação, a Mãe de Deus, conservou íntegra a virtude de sua fé inabalável. Aquela que contemplou “desde a planta dos pés até o alto da cabeça” (Is 1, 6) o corpo de seu amado Jesus continua a caminhar na obscuridade da fé na certeza de que Deus vai cumprir o que prometeu. “Devemos imaginar Nossa Senhora num estado excelso de recolhimento, no qual se concentravam toda a dor, todo o júbilo, toda a esperança da Igreja, para serem depois distribuídos para todos os fiéis ao longo de todos os tempos”.¹ A fé da Virgem nos faz aplicar a sua confiança nas palavras do Salmo 22,4: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo”. Por ter conservado esta fé na ressurreição, a Tradição da Igreja nos afirma “unanimemente que foi a Santíssima Virgem a primeira pessoa a contemplar seu Filho ressuscitado”². Santa Teresa de Ávila, conta que “um dia, depois de comungar, pareceu-me clarissimamente que Nosso Senhor se sentava junto de mim [...]. Disse-me que, em ressuscitando, fora ver Nossa Senhora, que estava já em grande necessidade, pois a pena a tinha tão absorta e trespassada que não tornava a si para gozar daquele gozo... E que tinha estado muito tempo com Ela, porque havia sido preciso até consolá-la”.³ É consolador a ideia de que a mais bela e forte de todas as criaturas tenha gozado da presença de seu amado Filho ressuscitado. O que Teresa de Ávila nos narra de sua visão, na Igreja primitiva não era notável pois não tinham um livro das Escrituras. Mas tudo isso estava impresso em seus corações, os cristãos sabiam da grande importância da presença de Maria no seguimento de Jesus. “Provavelmente os evangelistas tenham considerado supérfluo narrar o fato, por ser algo muito evidente”.4 “Naquele momento decisivo da história, não somente para o cristianismo, mas para toda a humanidade, a Santíssima Virgem, mais do que nunca, silenciou e meditou profundamente a respeito da Palavra de Deus encarnada, de seu Filho Jesus Cristo, que deveria ressuscitar ao terceiro dia. No silêncio de seu coração materno, Nossa Senhora já contemplava aquela Presença que mais tarde seu Filho anunciaria explicitamente: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20)”5 Diante dos mistérios do encontro de Maria Santíssima e do Ressuscitado, cabe-nos silenciar como bem fez a Mãe de Deus, conservando e meditando tudo em nosso coração. “Porque na soleira da porta do quarto onde se encontrava a Virgem Maria não penetrou o cronista do Evangelho, e também nós não somos dignos de penetrar”6 mas permanecer do lado de fora e nos aprofundar na devoção a Nossa Senhora.
Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida
Bibliografia:
1. RIBEIRO, Leandro Cesar. A Luz venceu as trevas. ARAUTOS, 2018. Disponível em:< https://www.arautos.org/secoes/artigos/especiais/a-luz-venceu-as-trevas-143433 >
2.Idem.
3. Santa Teresa de Jesus, Contas de consciência ou revelações e mercês.
4. RIBEIRO, Leandro Cesar. A Luz venceu as trevas. Arautos, 2018. Disponível em: < https://www.arautos.org/secoes/artigos/especiais/a-luz-venceu-as-trevas-143433 >
5. RICARDO, Paulo. Cristo Ressuscitado apareceu a Maria?. Canção Nova, 2016. Disponível em: < https://blog.cancaonova.com/tododemaria/cristo-ressuscitado-apareceu-a-maria/#sdfootnote1sym >
6. RIBEIRO, Leandro Cesar. A Luz venceu as trevas. Arautos, 2018. Disponível em: <https://www.arautos.org/secoes/artigos/especiais/a-luz-venceu-as-trevas-143433>
Consulta de Pesquisa:
- Bilblia Online Paulus
Soberana Rainha: A devoção a Nossa Senhora Gregoriana
Maria Santíssima possui muitos títulos, e entre eles, sabemos que alguns foram atribuídos pela piedade popular, outros por papas e teólogos ao longo dos séculos. Alguns títulos trazem referência às virtudes da Virgem Maria, outros se relacionam a fatos históricos, aparições ou mariofanias acontecidas ao redor do mundo. Há também os títulos relacionados a elementos simbólicos. O fato é que a Virgem Mãe de Deus se revela sempre próxima de cada povo, especialmente dos mais simples homens e mulheres de cada época ou nação: é a padroeira de muitas gentes!
A importância da Mariologia na formação sacerdotal e religiosa
“Como todas as disciplinas teológicas também a mariologia oferece um precioso contributo à pastoral”, analisa Ir. André de Oliveira, C.Ss.R sobre a mariologia na formação do clero
Palavra do diretor: Maria é modelo para nossa Quaresma
Nossa Senhora é muito presente em nossas orações por ocasião da Quaresma, e é saudável que ela nos acompanhe com seu carinho maternal.
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.