Estamos vivendo a Semana Santa, iniciada neste final de semana, com a celebração do Domingo de Ramos, e já é possível perceber algo diferente no ar, algo que pede que nosso coração se volte para Deus. Na mesa do altar e nos paramentos do sacerdote, os tons de roxo nos convidam a interiorização e nos chamam a penitência. À noite, quebra seu silêncio costumeiro com as vozes que cantam "pela virgem dolorosa...", passos que caminham na Via-Sacra, meditando os passos do Cristo salvador.
Para os fiéis que atentos se preparam rezando a cada semana a via-sacra na comunidade um novo som passa a ressoar nos ouvidos, um som oco, estridente que convida a penitência: o som da matraca, um instrumento musical constituído geralmente de madeira e ferro que quando balançado pelas mãos emite som.
A matraca é um instrumento muito antigo, utilizado geralmente nas pequenas cidades de interior onde o sino da torre da Igrejinha, com seu badalar das horas dita o ritmo tranquilo do povo simples. Com a chegada do tempo de conversão, e principalmente da Semana Santa, os sinos se calam, dando lugar ao som da matraca.
De fato, com o término da Celebração da Ceia do Senhor na Quinta-Feira Santa, cessam os sons festivos, os sinos emudecem e a Igreja acompanha apreensiva e atenta cada passo do Filho de Deus em direção a cruz. O som oco da matraca substitui a festividade dos sinos. Na Sexta-Feira da Paixão com o Cristo, esperança da humanidade pendendo no madeiro do calvário, a matraca chora a morte do Filho enviado e ecoa um triste lamento de angústia.
O Sábado Santo é o dia do vazio, onde o silêncio deveria falar mais alto. Não há mais esperança, pois a esperança do mundo jaz num sepulcro escavado na rocha. Aqui a matraca nos lembra a dor do vazio, do nada, da perda e da desolação.
Com o cair da tarde e o pôr do sol a matraca, esse instrumento de som forte e oco, pode enfim descansar de seu pranto, certa de ter cumprido sua missão, para ceder lugar aos sinos que cantam alegres e jubilosos, rompendo todos os silêncios para aclamar que o Filho de Deus, nossa esperança não está mais no sepulcro, mas ressuscitou!
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