Tudo o que é considerado arte é raro e caro. Escutar é uma arte, por isso a escuta é algo tão raro e tão caro. Caro, não no sentido de preço, mas de valor. A escuta não tem preço, mas é valiosíssima, tem um valor incomensurável e somente aqueles, que um dia tiveram a graça de serem escutados por alguém, conhecem esse valor.
Quem aprende a escutar, aprende um dos ofícios mais raros e nobres, que está cada dia mais escasso, porque as pessoas desaprenderam a escutar umas às outras. Não há mais tempo para o exercício dessa arte, porque andamos muito ocupados com as coisas e acabamos nos esquecendo das pessoas. Ouvimos uma avalanche de coisas que são bombardeadas pelos meios de comunicação, mas não sentamos mais para ouvir as pessoas. Não percebemos que a humanidade está ficando doente porque não nos escutamos mais uns aos outros.
As famílias já não têm mais o hábito de conversar, de escutar uns aos outros. Casais não se escutam mais; filhos e pais já não se escutam mais; até mesmo namorados não escutam mais uns aos outros. Todos estão muito ocupados nos seus celulares e atividades eletrônicas, que, até nas refeições, preferem trocar mensagens com alguém distante, de modo virtual, a olhar nos olhos de quem está à frente, ou ao lado, para conversar.
Por isso é rara, por isso é cara a pessoa que sabe escutar. Os meios de comunicação são importantes, mas eles não devem substituir a conversa pessoal, olho no olho. Essa conversa atenta, sincera e fraterna faz um bem enorme para o corpo, a mente e a alma. O mundo está carente de pessoas que saibam escutar, ouvir em silêncio; de pessoas que gastem o seu tempo com outra pessoa, simplesmente porque não tem medo de gastar a vida pela vida dos outros. Se gastássemos com as pessoas, pessoalmente, o tempo que gastamos com o celular, com a internet ou com outros meios de comunicação, que quase nada comunicam, nós estaríamos investindo mais na vida e no amor ao próximo.
Não vamos salvar o mundo escutando as pessoas, mas podemos salvar vidas. Não são poucos os que falam com as paredes e para as paredes as coisas que lhes atormentam o coração. Se elas tivessem alguém que simplesmente as escutassem, suas vidas mudariam e seriam pessoas bem melhores e mais saudáveis. Não haveria tanta violência; tantas pessoas amarguradas e desencantadas com a vida; não haveria tanta depressão e sofrimento, pois boa parte dos sofrimentos humanos pode ser curada pelo simples fato de se ter alguém que os escute.
Experimente fazer o exercício da escuta silenciosa, sem querer dar respostas, ou conselhos, ou ensinamentos. É dessa escuta que as pessoas e o mundo mais precisam, pois elas dissipam as falas vazias, dando lugar à conversa edificante, ao diálogo, à partilha de vida. Esse é o caminho do acolhimento.
Padre José Carlos Pereira, CP é sociólogo e escritor de mais de 50 livros
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