Em sua primeira visita à América espanhola, o Papa Francisco escolheu três países que podem ser denominados periféricos, tanto pelo seu papel no continente quanto pela situação de sua população, majoritariamente pobre. Sua mensagem sublinhou essa realidade, usando um termo forte: “descarte”.
Ele afirmou em sua fala aos jovens no Encontro com o Mundo da Educação no Equador:
“Não nos é lícito, mais ainda, não é humano entrar no jogo da cultura do descarte”.
Aqui, o termo cultura indica um modo de pensar e agir que se tornou costumeiro, integrado em nosso emocional ou em nossa escala de valores, como se fosse normal. É algo mais enraizado do que qualquer lei, com força para atravessar gerações, sem causar estranheza alguma.
O Papa explica que a cultura do descarte “afeta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que se convertem em lixo” (Encíclica Louvado Sejas, sobre o cuidado da casa comum, n. 22).
O descarte compreende tudo aquilo que se desperdiça sem ser reciclado, desde objetos, plantas e alimentos até os seres humanos que não são levados em conta e que estão sendo ou serão prejudicados por esse tipo de cultura.
As pessoas descartadas são aquelas consideradas irrelevantes para interesses políticos ou para a especulação financeira, cujas necessidades básicas não são contempladas pela sociedade do desperdício. Nossa geração está mergulhada na cultura do descarte, saqueando a Terra como se fôssemos a última geração a ter direito a ela.
Todos nós notamos o desequilíbrio da natureza e de seus ecossistemas devido à exploração gananciosa da produção industrial. Porém, quase ninguém se preocupa em reduzir o consumo de bens, não apenas os necessários, mas principalmente os supérfluos.
O Papa constata que a sociedade e os meios de comunicação se perturbam demais com a queda de dois ou três pontos das bolsas de valores e não dão atenção aos fatos de seres humanos que morrem de frio ou fome. Assim, a cultura do descarte se alimenta da cultura da indiferença.
Ele lembra que Deus continua a nos fazer a mesma pergunta que fez a Caim: “Onde está teu irmão?”
Para superar essa cultura do descarte, é preciso optar pelo bem comum e não apenas pelo próprio bem-estar.
Na Bolívia, ao discursar para o presidente Evo Morales e demais autoridades civis, disse o Papa:
“Sem nos dar conta, confundimos o ‘bem comum’ com o ‘bem-estar’, sobretudo quando somos nós que o desfrutamos. O bem-estar, que faz referência apenas à abundância material, tende a ser egoísta, a defender interesses parciais, a não pensar nos outros e a deixar-se levar pela tentação do consumismo… Pelo contrário, o bem comum é algo mais do que a soma de interesses individuais; é passar do que ‘é melhor para mim’ àquilo que ‘é melhor para todos’”.
Infelizmente, a lógica que se impõe no mundo é “uma lógica que procura transformar tudo em objeto de troca, em objeto de consumo e vê tudo como negociável”.
Como Jesus, é preciso “transformar uma lógica do descarte numa lógica de comunhão, numa lógica de comunidade”, insistiu o Papa em sua homilia em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.
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