Por Jornal Santuário Em Artigos Atualizada em 21 SET 2018 - 18H24

A imagem da mulher na Bíblia é a filha predileta do Pai

A teologia feita na perspectiva mariológica, no Brasil, vem revestida com a veste do feminino, que tem em Maria de Nazaré sua inspiração e manifesta o Deus Uno e Trino, presente e atuante no povo com sua religiosidade, vivida na fé do Cristo que intercede por seu povo e deixa sua Mãe participar desta intercessão. Nesta estrada não estamos sós, mas caminhamos como Igreja de Comunhão e de Serviço ao Reino pregado por Jesus.

Tomando o Documento da V CELAM, encontramos lá o nome de Aparecida referida ao lugar e, ao mesmo tempo, referente a Maria, sem distinção geográfica e sem distinção de natureza mariana, desde a abertura da V Conferência até sua conclusão.

Na abertura, o Papa fala do lugar de Aparecida como o lugar onde Maria, Mãe de Jesus Cristo e de seus discípulos e discípulas, acolheu e cuidou dos grupos que acorriam ao Santuário e dos trabalhos dos bispos, amparando-os, como a Juan Diego e a nossos povos, na dobra de seu manto, sob sua maternal proteção.

O pronunciamento do Papa, suplica que a Mãe Maria, perfeita discípula e pedagoga da evangelização, ensine-nos a ser filhos e filhas em seu Filho e a fazer o que Ele nos disser (cf. Jo 2,5). (cf. DAp 1). Valoriza a oração da multidão de peregrinos e peregrinas de todo o Continente que acorrem ao Santuário de Aparecida, edificando-nos e evangelizando-nos (cf. DAp 3).

Segundo o Papa, nossos povos têm como maior riqueza a fé no Deus amor e manifesta sua fé madura, também, na piedade popular à Virgem de Guadalupe e a Mãe Aparecida, sem contar outros milhares de títulos nacionais e locais com que Nossa Senhora é invocada e cultuada (cf. DAp 7).

Atribui a Maria a fé e a forte religiosidade com que nossos povos suplicam a ternura de Deus para que Ela reúna os filhos e filhas, os quais integram nossos povos ao redor de Jesus Cristo (cf. DAp 265). Convoca a multidão de romeiros e romeiras a que se inspirem nos ensinamentos que nos vêm da escola desta Mulher (cf. DAp 270), guardando no coração as luzes que Ela, por mandato divino, envia a cada pessoa que a invoca e a cultua. A imagem da Filha predileta do Pai é a imagem esplêndida da conformação ao Projeto Trinitário que se cumpre em Cristo (cf. DAp 141).

Ela participa, com seu filho, da formação do discípulo e da discípula, que tantas vezes só entende e vive da piedade popular, pois esta penetra, delicadamente, a existência de cada fiel, que nos diferentes momentos da luta cotidiana, recorre à imagem querida de Maria, para encontrar o sentido da dor que vive e a alegria singela da transcendência de Deus e da Igreja (DAp 261-262), que na sua fé, proclama: “Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem”, que desafia a nossa evangelização e seu processo e desafia também as estruturas eclesiais por meio das quais falamos (cf. DAp 392).

Esta é a fé cristológica que muda o jeito de enfrentar a realidade tão cruel dos nossos povos.

Gustavo Cabral
Gustavo Cabral
Nossa Senhora Aparecida

Maria é a imagem da Filha predileta do Pai porque vive no Verbo a máxima realização da existência humana em seu modo de ser feminino. Esta realização se cumpre em ser a interlocutora do Pai em seu Projeto de enviar seu Verbo ao mundo e ela, com sua fé, chegar a ser o primeiro membro da Comunidade dos crentes em Cristo, que se legitima com sua presença, junto com outras mulheres seguidoras de Jesus.

No dia de Pentecostes, dia feliz do nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano que a identifica, profundamente. Levantamos esta hipótese:

Esta Filha predileta do Pai e filha de Abraão como tantas outras mulheres que a precederam (cf. LG, capítulo VIII), não foi isenta de viver o mistério de Deus no Verbo, filho de suas entranhas, na esperança, mas também na dúvida, na sua plenitude temporal, mas também na experiência impactante de se sentir chamada a viver o chamado trinitário no tempo e na história limitada de seu povo. Com ela, chega a plenitude desse tempo (Gl 4,4), que traz o cumprimento da esperança dos pobres e realiza o desejo de salvação da família de Deus, porque, em Maria, encontramo-nos como irmãos e irmãs com Cristo, com o Pai e com o Espírito Santo (cf. DAp 265-267).

Finalmente, com o SIM da Filha predileta do Pai, foram atraídas multidões de povos à comunhão com Jesus e sua Igreja, como se experimenta nas peregrinações aos inúmeros Santuários do Brasil e do Mundo inteiro, o que fundamenta a maternidade espiritual da Virgem e da Igreja. Esta visão do princípio mariano da Igreja, é o melhor remédio para uma instituição eclesiástica, meramente, funcional e burocrática que necessita de reforma urgente e visível.

Ser a imagem da Filha predileta do Pai, implica missão histórica e missão trans-histórica porque missão de fé, na participação do destino do Filho de Deus que se fez Verbo para a salvação de toda a humanidade. Por meio de Maria Deus se fez carne, começou a fazer parte de um povo, constituiu o centro da história. Maria é ponto de união entre o céu e a terra. Sem Maria des-encarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista (cf. DP 301). A Filha predileta do Pai, torna-se, assim, um elemento qualificador e intrínseco da genuína piedade popular que caracteriza nossa cultura, nosso culto e o nosso amor devotado à Mãe do Filho de Deus e “madroeira” dos povos do Brasil e do extenso Continente latino-americano.

Lina Boff é professora emérita da PUC-Rio e do Centro Loyola de Fé e Cultura

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