A palavra hipocrisia vem do grego (ὑπόκρισις), e servia justamente para definir o ator de uma peça teatral, que assumia um papel momentâneo. São Jerônimo (347-420), o santo que traduziu a Bíblia para o latim, começou a relacionar esse termo grego com o significado de fingimento na vivência da fé. Os cristãos dissimulados, que pregavam uma coisa e viviam outra, foram chamados por São Jerônimo de hipócritas (ὑποκρίτης), ou seja, atores fingindo no palco da vida.
O significado que o termo assumiu, desde então, ajuda-nos muito na compreensão das máscaras (personae) que o ser humano usa no decorrer de sua caminhada terrena. Muitos pensadores dirão: o que seria de nós se não tivéssemos à mão esta “tecnologia” natural de enganação? Como sustentaríamos as diversas facetas de nossa vida pública? É fato que se não usássemos máscaras, de vez em quando, o nosso verdadeiro rosto se mostraria, e isso não seria nada agradável aos que vivem conosco.
Podemos bradar contra as afirmações acima, mas é mais do que sabido que os seres humanos realmente usam máscaras em algum momento da vida. A própria palavra pessoa vem do latim e significa máscara! Quando tentamos desesperadamente provar para nós mesmos e para os outros que somos os únicos perfeitos e imaculados dentre toda a humanidade, tanto na vida pública quanto na vida privada, recorremos a elas. É fato que, no momento da nossa solidão, começamos a conversar com as áreas mais profundas e recônditas de nosso interior, às quais somente nós temos acesso! Este é o momento em que muitos retiram as máscaras. E o que isso tem a ver com a hipocrisia?
Bem, a hipocrisia nasce quando queremos cobrar das outras pessoas aquilo que não conseguimos colocar em prática na nossa própria vida. Se conhecemos os nossos vícios, as nossas podridões, os nossos pontos-fracos e as nossas falhas pessoais, e ainda assim cobrimos tudo isso com uma couraça reforçada, construímos um verdadeiro ser hipócrita! E quanto mais reforçada ficar a couraça que esconde os nossos perversos seres interiores, mais violentos nos tornaremos com os “imperfeitos e pecadores” que estão do lado de fora!
Por isso, ao ver alguém que reverbera contra tudo e todos, colocando-se como o baluarte da ética e da honestidade, lembremo-nos de que há sempre a possibilidade de sermos enganados por aquelas máscaras e armaduras que o revestem e cobrem a sua vida pessoal e insondável! Não nos enganemos, somos todos santos e pecadores, e é isso que nos anima. Para vencer a hipocrisia, precisamos dar uma surra em nosso ego inflado e repreendê-lo quando estivermos frente a frente com ele, na nossa vida secreta, em que Deus é a única testemunha, e tentarmos o máximo possível evitar exigir das pessoas as virtudes que ainda não conseguimos alcançar! Retirar as máscaras é um bom começo para afastar a hipocrisia!
Padre José Luís Queimado, C.Ss.R., é diretor do Portal A12.com
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