Foi a partir do crescimento exponencial da economia global, alterando substancialmente as relações existentes “dentro” do meio ambiente, que se estabeleceu a suprema e inadiável necessidade de uma reflexão mais detalhada e mais cuidadosa entre a economia e a ecologia.
Até a chegada da Revolução Industrial, a economia “cabia” dentro da ecologia; o sistema econômico era pequeno em relação à grandeza de um sistema ambiental que lhe fornecia matéria e energia, servindo ainda de “baú” para a absorção de toda a produção econômica.
Após a economia global atingir escalas de crescimento sem precedentes na história, tornou-se clara a existência de limites da natureza para continuar “servindo” à atividade produtiva.
O sistema econômico então passou a “engolir” o sistema ecológico. A economia já não mais “cabia” dentro do sistema ecológico. A visão de progresso ilimitado, propugnada especificamente por um sistema econômico expansivo que engendra esforços para produções em larga escala, e, em curto espaço de tempo, está além da capacidade de suporte do planeta.
A capacidade de oferta de recursos naturais, bem como a “disposição” em receber os resíduos vindos da atividade econômica tornou a ecologia “pequena” frente a uma economia cada vez mais expansiva, mais produtiva, mais poluidora e muito mais destruidora das bases e do patrimônio da natureza.
O salto do crescimento econômico global foi absurdamente avassalador: a economia saiu de um PIB global de US$ 4,5 trilhões, em 1950 para, 50 anos depois, atingir US$ 50 trilhões. De 2000 para cá, o PIB mundial cresceu em mais US$ 25 trilhões.
O crescimento contínuo da atividade econômica é, simplesmente, incompatível com uma biosfera finita. Insistir num acentuado crescimento físico da economia, tendo em conta a finitude dos recursos naturais e energéticos é incorrer gravemente em mais custos (ambientais) que benefícios (econômicos).
Quanto mais as economias modernas crescem, mais se dilapidam os principais serviços ecossistêmicos; mais vidas humanas, fauna e flora se perdem em decorrência de alterações climáticas, fruto de ações antrópicas, “patrocinadas” pela atividade expansiva de uma economia que pretende ser rotulada de “moderna”; como se o sinônimo de modernidade fosse, de fato, a aquisição material.
Mais produção, para atender a mais consumo, faz o planeta “pedir socorro”. O consumo humano ultrapassou em 40% a capacidade de reposição dos bens e serviços naturais produzidos pela Terra.
No mundo, ao ano, são mais de 70 milhões de veículos consumidos. O consumo da humanidade em bens e serviços em 1960 atingiu o equivalente a US$ 4,9 trilhões (dólares de 2008); em 1996, chegou a US$ 23,9 trilhões e, dez anos depois, atingia mais de US$ 30 trilhões.
Na França, a média do consumo de proteínas é de 115 gramas/dia, ao passo que em Moçambique é de apenas 32 gramas. Cada cidadão dos Estados Unidos, na média, consome 120 quilos de carnes ao ano (10 quilos por mês), enquanto um angolano consome 24 quilos/ano, (2 quilos/mês).
Os 315 milhões de estadunidenses comem nove bilhões de aves todos os anos. Na Ásia inteira, com mais de quatro bilhões de pessoas, consome-se 16 bilhões de aves ao ano. Há 150 carros para cada mil habitantes na China, enquanto nos países da OCDE essa relação é de 750, e na Índia, apenas 35.
Os gastos com cosméticos ao ano, somente nos EUA, chegam à importância de US$ 8 bilhões. A Europa gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões e mais US$ 105 bilhões são dispendidos em bebidas alcóolicas. A Terra não suporta isso.
A Terra é um “ser vivo” que se mexe e não suporta tamanha agressão. Da reflexão entre a economia e a ecologia, que começamos a falar no início, faz-se necessário surgir, brevemente, um caminho alternativo que rompa, definitivamente, com a cultura do consumo que “virou” um consumismo desenfreado.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista especializado em Política Internacional
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