Por Miguel Júnior Em Artigos

Cultura da ignorância

Todos os povos têm cultura, isso é inegável. A palavra significa todo um complexo de costumes, crenças e doutrinas seguido por um grupo de pessoas. Antigamente, em Roma, a palavra significava “agricultura”, ou seja, toda espécie vegetal cultivada pelo homem.

Ambos os significados expõem contextos que desejo debater neste texto. Aquilo que emana ou é criado do homem, que se recicla e se mantém com o passar dos anos. A falta disso é um problema no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

As cidades do Vale não oferecem elementos culturais a fim de que possam ser firmados conceitos importantes como as artes e música. O que temos de sobra e com boa qualidade são os cinemas das cidades maiores, mas que se limitam apenas a lançar filmes americanos, o que é compreensível, pois eles é que dão lucro.

A cidade de Cruzeiro (SP), por exemplo, tem alguns pontos culturais importantes, como o Teatro Capitólio e o Museu Major Novaes. O primeiro está fechado desde 2008 e, hoje, está totalmente deteriorado. Considerado um dos mais lindos da região, encontra-se depredado e com tapumes no lugar dos vidros. O forro está caindo, fruto da ação dos cupins. O segundo foi reformado pelo Governo do Estado, porém continua fechado. Marco histórico da fundação de algumas cidades do fundo do Vale, ainda conta com a boa vontade de gestores para voltar a funcionar. É possível que parte do acervo tenha desaparecido.

Lorena (SP) tem uma excelente opção: o Teatro Teresa D’Ávila. Sob responsabilidade do talentoso dramaturgo Caio de Andrade, que já trabalhou na extinta Manchete e no SBT, oferece peças maravilhosas a um baixíssimo custo. Vão aqui nossos aplausos.

Num contexto geral, não há nenhuma vontade política em incentivar a cultura. Vez ou outra há festivais gastronômicos por aí, mas é muito pouco pela importância em se expandir a mente do povo. Talvez seja pertinente aos governantes deixar a massa com preguiça de refletir sobre os problemas sociais. Tudo o que possa promover o raciocínio é tolhido com a desculpa da famosa falta de verbas. De um jeito ou de outro, não há perspectivas para que isso melhore, pois a ignorância no Brasil parece ser um “patrimônio cultural”; a começar pelos que detém o poder de mudar. Como diz a música de Zé Ramalho: “vida de gado, povo marcado, povo feliz”.

Miguel Júnior é mestre em Linguística, jornalista e professor universitário

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Miguel Júnior
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