Por Marcus Eduardo de Oliveira - Jornal Santuário Em Artigos

Diferenças Sociais

Estejamos certos que todo e qualquer esforço empreendido para a “construção” de um mundo melhor somente terá validade quando forem rompidos os determinantes que estabelecem os abjetos padrões de desigualdades. Sem essa ruptura, nada avançará.

Nesse pormenor, é de crucial importância entender que as diferenças sociais não são “naturais”, mas, antes, são condições impostas e, em geral, “facilitadas” por modelos econômicos que não captam a realidade social.

Assim é, por exemplo, o drama da fome mundial. A fome existe em algumas partes do mundo não por escassez de alimentos, mas pela péssima distribuição. Por isso, nos dias de hoje, há quase 1 bilhão de estômagos vazios e bocas esfaimadas.

De igual forma, a cada ano, mais de nove milhões de crianças espalhadas pelo mundo não chegam a completar cinco anos de vida, em decorrência da falta de alimentos.

Há recursos financeiros de sobra para eliminar esse terrível drama; no entanto, “o modo econômico” como é gerenciado a economia moderna passa longe da resolução dessa questão.

Fazer “guerras” ainda é mais “lucrativo” que salvar vidas ceifadas pela fome. Atentemos, por exemplo, ao seguinte fato: somente os países membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS-ONU) foram, juntos, responsáveis por 81% das exportações mundiais de armas no período de 1996 a 2000.

Numa mesma perspectiva, os países do conhecido “grupo dos ricos”, o G8, “venderam 87% do total de armas exportadas no mundo inteiro. Somente a parte dos Estados Unidos chegou a quase 50% do total de vendas no mundo. Além disso, chega a 68% o total de exportações americanas de armas que foram para os países em desenvolvimento”, diz Amartya Sen prêmio Nobel de economia (1998).

Esse parece ser por parte dos “gerentes econômicos mundiais” o “modo econômico” predileto de administrar o mundo, “produzindo” mais mortes, miséria, pobreza, destruição e degradação.

Tudo isso, em grande medida, são “fatores” impostos e determinados por grupos de interesses que se manifestam explicitamente. Não tenhamos dúvidas, contudo, que o modo econômico ora em voga nas economias modernas contribui para a existência do drama social, uma vez que os homens (e os grupos) que “manipulam” a economia o fazem no sentido de auferirem lucros, em detrimento das condições de vida dos mais necessitados.

Definitivamente, a ciência econômica moderna não pode mais ser pensada e ensinada sem a irrestrita inclusão da esfera social. Incluir os indivíduos que compõem o cenário social é imprescindível; assim como também é imprescindível pensar, por exemplo, em desenvolvimento econômico sem desconsiderar o problema ecológico (incluindo a problemática em torno da limitação dos recursos e a consequente agressão ao meio ambiente).

Junto a isso, tendo em conta à necessidade de se levar a economia para perto da análise social, para definitivamente construir, a partir disso, uma sociedade menos injusta, é de fundamental importância condenar o mito de que os mercados se autorregulam.

Para incorporar a preocupação social no conjunto das análises econômicas, a dinâmica do crescimento da economia, por exemplo, deve ser pensada “por dentro”, e não “por fora” das fronteiras de um país.

Na essência, esse crescimento deve ser endógeno, e não exógeno. Devem ser priorizados os capitais social e humano de dentro do território nacional; devem ser canalizados todos os recursos via poupança doméstica, não usando recursos externos que sopram a favor dos ventos da especulação e da volatilidade, fazendo com que os países que assim procedem se tornem reféns do capital internacional.

Essa é a ideia defendida pelo economista chileno Osvaldo Sunkel que formulou o conceito de “desenvolvimento a partir de dentro”, ou seja, respeitando-se e levando-se em conta as idiossincrasias próprias de cada lugar, de cada povo, de cada necessidade básica, de cada peculiaridade.

Para aqueles que se identificam com esse jeito de pensar a atividade econômica, resta dar mais validade à seguinte prédica: a vida só faz sentido quando dela fazemos uma ferramenta capaz de transformar o mundo em que vivemos.

A economia (ciência e atividade produtiva), por sua vez, não pode se furtar a esse compromisso, até mesmo porque essa ciência surgiu com a intenção de transformar para melhor a vida das pessoas.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista especializado em Política Internacional

 

 

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