Por Roberto Girola Em Artigos

Dificuldade de se entregar na relação amorosa

Tenho dificuldade de me relacionar amorosamente, pois tenho muito medo de me magoar. Isso pode ser algum trauma que vivi na infância? (Anônimo)

Os homens se queixam: “As mulheres são difíceis”. Por sua vez as mulheres também reclamam: “É difícil encontrar um cara legal”. Tema preferido de filmes, novelas, romances e peças teatrais, a relação amorosa de fato não é fácil.

O pior é que, na maioria das vezes, a dificuldade não está apenas em “achar” o parceiro certo, e sim nos problemas pessoais que cada um enfrenta quando se trata de se “vincular”. O vínculo e a capacidade de se vincular estão de fato profundamente relacionados à vida primitiva do bebê e às experiências vividas na infância.

O nosso cérebro é uma imensa base de dados que contém as memórias de todas as experiências afetivas vividas desde que nascemos. As primeiras sensações vividas pelo bebê são muito intensas e marcantes do ponto de vista afetivo, mas elas ainda não podem ser registradas pelo cérebro como “representações”, ou seja, como traços mnêmicos associados a memórias afetivas, elas apenas circulam como núcleos energéticos de sensações que buscam uma representação mnêmica adequada. Somente com o tempo o bebê começa a associar as sensações a memórias significativas que passam “representar” o seu mundo interno e o mundo externo sob forma de memórias ligadas a imagens, sons, cheiros, sensações táteis e gustativas.

Quando uma determinada experiência sensorial é vivida na vida adulta ela busca no cérebro um caminho neuronal já traçado que a leva a resgatar e reviver experiências do passado, cuja intensidade emocional é trazida para o presente. Freud chamava essas ligações neuronais de “caminhos facilitados”, através dos quais a vida pulsional inconsciente se manifesta.

Embora muitos pensem que seus problemas de vinculação residam apenas na vida amorosa, na realidade eles são comuns a todos os vínculos que o indivíduo estabelece, na vida pessoal e profissional, com pessoas, objetos e situações.

O “medo de se magoar” é apenas uma dessas memórias afetivas, relacionada a experiências primitivas em que a mente registrou a pouca confiabilidade do ambiente externo. “Ficar com um pé atrás” se tornou um caminho facilitado para a mente, que buscou nessa atitude psíquica uma forma de se defender da angústia que o encontro com o “outro” provoca.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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