Por Roberto Girola Em Artigos

É possível amar duas mulheres ao mesmo tempo?

O termo amor na linguagem corrente se aplica a três diferentes conceitos que os gregos associavam a diferentes formas de amor: eros, philia, ágape. O amor erótico é movido pelo desejo e tem como objetivo a fruição do outro (gozo). Esse tipo de amor pode envolver duas formas de atração. A primeira é a atração meramente sexual. Neste caso o homem pode sentir atração por diferentes mulheres, assim como uma mulher pode sentir atração por diferentes homens ao mesmo tempo. Portanto, podemos sentir atração por alguém, mesmo amando outra pessoa.

Quando a atração se transforma em “paixão” as coisas mudam. Do ponto de vista psíquico, o apaixonamento é carregado de projeções que “colocam” com exclusividade na pessoa amada elementos internos do apaixonado. É a segunda forma de amor erótico. O fantasiar do apaixonado cria uma imagem idealizada do outro, construída para defendê-lo da ambiguidade emocional do seu mundo interno, percorrido por sentimentos ambíguos de amor e de ódio. O objeto da paixão é fruto de uma manipulação onipotente da realidade do outro. A boa notícia é que, neste caso, quem se apaixona deixa de enxergar outros possíveis parceiros amorosos e se concentra com exclusividade na pessoa “amada”.

A philia é um tipo de amor que envolve uma forte carga de empatia para com o outro, fazendo com que haja uma identificação profunda com ele. A identificação é um mecanismo psíquico através do qual reconhecemos partes nossas em um objeto externo. A philia envolve uma sintonia do si-mesmo (self) com o outro, ou seja, uma sintonia profunda em que aspectos de nossa personalidade são reconhecidos no outro e amados. Evidentemente podemos reconhecer isso não apenas em uma pessoa, mas a construção de uma história comum leva a “escolher” uma pessoa em particular para viver com ela essa experiência. É na construção dessa história comum que se funda a possibilidade da exclusividade desse tipo de amor.

O termo ágape designa o amor como comunhão com o outro, acolhido inclusive nos aspectos com os quais não nos identificamos e até, com as quais nos chocamos. É o amor que envolve aceitação e acolhimento, mesmo quando o “outro” se apresenta realmente como tal, como o desconhecido e o estranho. A união monogâmica e duradoura de um homem com uma mulher é uma construção e uma travessia que envolve esses diferentes tipos de amor.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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