Por Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. Em Artigos

É tempo de um novo Êxodo Pascal

O povo israelita foi, por longos séculos, escravo do faraó do Egito. Deus ouviu o clamor de seu sofrimento e o libertou por meio de Moisés. Esse foi o primeiro Êxodo, quando, aos pés do monte Sinai, as 12 tribos fizeram uma aliança com Deus, prometendo obedecer aos 10 mandamentos e adorar somente Javé como seu único e verdadeiro Deus.

Começou assim a história de Israel, que, como povo de Deus, conquistou a terra prometida e construiu sua vida social e religiosa. Mas, à medida que o tempo foi passando, os compromissos foram se enfraquecendo.

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Agora estamos sentindo como a vida de cada um é indissociável da vida do outro. O cuidado pelo outro reverte em cuidado por si próprio e vice-versa.


Muitas vezes, o
povo eleito do Antigo Testamento foi infiel a seu Deus, praticou injustiças, adorou outras divindades mais atraentes a suas ambições e seus vícios, enfim, rompeu aquela primeira aliança. No entanto, quando os sofrimentos desabavam sobre o povo, levando-o a passar por derrotas, exílios, catástrofes etc., imediatamente ele tomava consciência de suas infidelidades e buscava o caminho de volta para o verdadeiro Deus.

Dentro dessa moldura histórica do Antigo Testamento, nós, cristãos, celebramos anualmente nossa Páscoa, como um novo Êxodo, muito mais necessário do que o primeiro. De fato, pelo mistério da Encarnação, o Verbo eterno veio até nós como o novo Moisés, para nos libertar não apenas das escravidões políticas, mas da escravidão do pecado e da morte eterna. Ele veio para nos trazer vida em abundância, que se prolonga além da morte física. Ele penetrou em nossa própria natureza humana para resgatá-la de sua limitação física e espiritual, tornando-nos membros do Reino dos céus e filhos adotivos de seu Pai.

O anúncio dessa Boa Notícia, ou seja, Evangelho, custou-lhe a doação da própria vida, para testemunhar que Ele era o Caminho, a Verdade e a Vida para todo aquele que acolhesse a revelação de seu amor pelo ser humano. Sua ressurreição foi a confirmação divina de sua missão, de tudo o que falou e realizou nos poucos anos em que conviveu em nosso meio.

Estamos no tempo pascal, fazendo a experiência de uma pandemia. Será que Deus não está convidando todos nós para um novo Êxodo?

Vivemos mergulhados no mundo do progresso tecnológico e científico, que nos domina quase como se fosse uma nova divindade. As estruturas do mundo usam isso para impor decisões políticas, em que o crescimento econômico ilimitado, alimentado pelo mercado financeiro, escraviza-nos dentro do círculo vicioso de produção e de consumo insaciáveis.

A vida humana deixou de ser prioridade ou finalidade do progresso. Nessa engrenagem, que vem da era industrial e desemboca no mundo digital, não há lugar para igualdade social e há milhões de pessoas descartadas. Não interessa a ecologia, e a vida do planeta continua sendo explorada e ameaçada.

A própria instituição familiar passou a ser secundária e descartável, porque é mais importante fazer funcionar a máquina de produção e de consumo, que faz alguns poucos lucrarem sempre mais. Será que não estamos bem dentro de um novo “Egito”?

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De repente, a vida humana ergueu seu clamor em todo o mundo, fazendo-nos tomar consciência de sua fragilidade: a vida não tem sido cuidada, não somente a vida frágil dos pobres, mas também a vida dos ricos. Agora estamos sentindo como a vida de cada um é indissociável da vida do outro. O cuidado pelo outro reverte em cuidado por si próprio e vice-versa.

Eis a nova terra prometida no horizonte da história humana atual: que todas as pessoas, que todos os povos, que todas as instituições se deem as mãos e caminhem para a meta proposta por Jesus ressuscitado: que todos tenham Vida e a tenham em abundância! Páscoa é paz, páscoa é liberdade, páscoa é Vida!

Escrito por
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. (Aquivo redentorista)
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R.

Missionário Redentorista e membro da Academia Marial de Aparecida

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