Por Roberto Girola Em Artigos

Medo do compromisso

Uma pergunta poderia ajudar nesse tipo de situações: “O problema sou eu ou é o outro?”. A resposta geralmente não é fácil, pois tendemos a atribuir os problemas ao outro e não a nós mesmos. No entanto, uma simples indagação poderá nos ajudar a achar a resposta: “O problema do vínculo se dá apenas com essa pessoa ou eu tenho dificuldade de me vincular também a outro tipo de situações em que o vínculo se apresenta como algo estável?”.

A dificuldade de assumir um compromisso que comporta um vínculo estável com uma pessoa (casamento) ou com uma situação (por ex. a escolha profissional), remonta na maioria dos casos ao desenvolvimento psíquico primitivo, pois é ele que determina a forma como sucessivamente vamos nos vincular ao mundo. Isto não impede que experiências traumáticas sucessivas (morte do parceiro, abandono, rejeição, desencantamentos, etc.) possam exercer um papel importante, dificultando a criação e a manutenção do vínculo amoroso.

O bebê humano nasce em total desamparo. É como se a placenta que o envolvia na barriga da mãe, se estendesse, após o nascimento, numa espécie de bolha psíquica.

No início da vida todas as percepções sensoriais do mundo externo são atribuídas pelo bebê a si mesmo. Cabe à mãe fazer a importante transição que ajuda o bebê a sair de sua “bolha narcísica” para começar a perceber e se relacionar com o mundo externo, criando os primeiros vínculos. Os vínculos sucessivos que ele estabelecerá com o mundo dependerão desse primeiro vínculo com a mãe. Se o desenvolvimento primitivo não aconteceu de forma adequada, a vinculação com o mundo tenderá a se tornar difícil.

Em casos mais graves, o psiquismo fica preso em uma posição intermediária em que nem o vínculo consegue se constituir, pois é constantemente atacado, e nem pode ser totalmente desfeito, pois sempre fica no horizonte a idealização de uma possibilidade de vínculo total, que remete ao vínculo fusional que o bebê tem com a mãe.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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