Por Roberto Girola Em Artigos

Meu ídolo querido

Muitas pessoas se prendem em ídolos, fazem tudo por eles ao ponto de se tornarem fanáticas. O que leva as pessoas a terem esse comportamento? (Luís Gustavo Braga Menegusso – Valinhos – SP)

De alguma forma todos temos nossos ídolos. Um artista, um líder religioso, um político, um intelectual, enfim qualquer pessoa que nos inspire e que alimente a nossa admiração pode se tornar alvo de uma ligação que, apesar da maioria das vezes ser ignorada pelo outro, torna-se extremamente importante para nós. O que muda é a intensidade do vínculo que estabelecemos com o nosso ídolo. Em alguns casos a ligação é tão profunda que pode se tornar uma adesão fanática, favorecendo o irromper de manifestações histéricas ou até maníacas, dominadas por sentimentos de euforia.

O que movimenta esse curioso comportamento humano é a necessidade que o mundo interno tem de se identificar e de projetar partes suas sobre o mundo externo. No tratamento da psicose é possível perceber uma característica do mundo interno que é presente também nos neuróticos (os que se consideram “normais”). Os “objetos” que habitam o nosso mundo interno se apresentam como reais, mas, ao mesmo tempo, há uma constante necessidade da mente de “comprovar” sua realidade no mundo externo, projetando-os sobre objetos “reais”.

Este mecanismo está na base do processo identificatório e projetivo. Quando nos identificamos com algo que está fora de nós, comprovamos a realidade do que está em nós, introjetando, ao mesmo tempo, os aspectos pertencentes ao objeto externo – uma pessoa no caso do ídolo – capturados pela nossa mente. Os aspectos introjetados passam assim a reforçar e enriquecer os aspetos internos já existentes, tornando-os ainda mais “reais”.

O mesmo processo pode ser vivido também a partir do sentimento de “falta”. O nosso mundo interno identifica a falta de aspectos por ele desejados e vai em busca deles no mundo externo. O ídolo é, portanto, o depositário de aspectos presentes ou faltantes no nosso mundo interno que, por serem investidos eroticamente pelo inconsciente, precisam ser encontrados no mundo externo.

O contato com o ídolo proporciona o sentimento de ampliação e de apropriação fantasiosa de algo que o nosso psiquismo gostaria de ter... Isto explica por que é tão importante para um fã “roubar” algo do ídolo preferido, seja uma peça do vestuário, um autógrafo, um beijo ou um simples abraço...

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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