Por Marcus Eduardo de Oliveira - Jornal Santuário Em Artigos

Mudança de paradigma

Parcela significativa dos sérios desequilíbrios ambientais que mudam radicalmente o semblante da natureza – pela extração de recursos naturais numa velocidade maior que a taxa de regeneração – deve-se ao jeito como está organizada a economia mundial, estruturada desde que a Revolução Industrial se consolidou na premissa máxima de que a economia deve ser expandida (crescimento físico), corroborando assim as políticas econômicas pró-crescimento, facilitadas pelo advento tecnológico e pelo aumento de produtividade do trabalho.

O problema maior, mais grave e preocupante é que esse modelo de produção econômica é inócuo e contraproducente, pois além de superaquecer o planeta (efeito estufa decorrente da emissão de dióxido de carbono “produzido” pela queima de combustíveis fósseis, “alimento” da atividade econômica) e alterar de forma sistêmica o ritmo climático, ainda ceifa aos montes vidas humanas e não humanas.

Contudo, “da crise (ecológica e social, grifo meu!) vem a oportunidade de mudança”, diz o adágio popular.

A sociedade de produção e consumo, “produto” imediato desse modelo, por estar extrapolando os limites ecológicos planetários, evidenciando explicitamente que o planeta está sufocado pelo consumismo, está “forçando” – deixando o nosso otimismo de lado – a reflexão de alguns sensatos gestores da economia mundial para a necessária elaboração de uma nova realidade econômica que, num breve espaço de tempo, mudará todo o cenário e a organização da economia global.

Grosso modo, essa reflexão tem sido facilitada pelos diversos estudos e relatórios científicos que aguçam o debate em torno do encontro de alternativas à crise ambiental, e que acaba de ganhar “nova luz” com a publicação da encíclica “verde” do Papa Francisco.

Fora isso, a reflexão necessária a que estamos aludindo é “ajudada” ainda pela evidência e clareza dos fatos. Inequivocadamente, os reflexos da crise ecológica, em especial, estão por toda parte (atente-se aos elevados níveis de poluição, por exemplo), avisando-nos, a todo o momento, que o Planeta Terra não suporta mais esse modelo econômico que transformou a natureza em fonte de lucro para atender exclusivamente o mercado de consumo global.

As mortes associadas à poluição – uma das consequências mais nefastas da produção industrial –, segundo recente estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), deverão atingir em 2050 até 3,6 milhões de pessoas – hoje, mais de 1,2 milhão de pessoas, especialmente na Ásia, têm suas vidas ceifadas ao ano por problemas advindos da respiração de poluição.

Esses mais de 3,5 milhões de vítimas fatais previstas até o ano de 2050, de acordo com o referenciado estudo, “continuarão” concentradas na Ásia, especialmente na China e Índia, mas o Brasil estará, lamentavelmente, ocupando um dos dez primeiros lugares no ranking de mais mortes por poluição no decorrer dos próximos 35 anos.

Quanto à crise social, não se pode perder de vista que parte considerável dela, hoje em dia, está intimamente associada (vem a reboque) à crise ambiental, uma vez que os mais pobres têm sido costumeiramente muito castigados pelos desmandos que as ações humanas têm provocado contra o planeta.

Por isso já é de senso comum afirmar que estamos vivendo duas situações que se interligam em uma só: a deterioração da qualidade da vida humana e ecológica e a degradação da vida social, derivadas, assim, da mais alta taxa de iniquidade a que estamos submetendo o planeta.

Temos chance de mudar essa situação? Novamente deixando nosso otimismo de lado, se há alguma chance de mudança, essa passa pela urgente alteração de rota, “criando” uma nova realidade econômica, tirando a economia global da “necessidade” de mais produção e consumo e direcionando-a para um modelo de pura racionalidade ambiental.

Essa nova realidade econômica a ser gestada deverá então contemplar, essencialmente, a noção central de que não haverá mais espaço para um tipo de economia que se coloque sobre tudo e sobre todos, principalmente submetendo a natureza em vista da acumulação de bens materiais, como se isso fosse o objetivo supremo para o alcance do progresso e da felicidade.

Esse tipo de pensamento e de modelo de economia ora vigente está completamente esgotado. É imprescindível entendermos isso e buscarmos a mudança de paradigma com bastante brevidade.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista especializado em Política Internacional

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