A deterioração do meio ambiente, o esgotamento de alguns dos principais serviços ecossistêmicos, a depleção dos recursos naturais para “abastecer” uma economia de mercado cada vez mais exigente em matéria de produção econômica, e, em especial, as extinções de fauna e flora, fruto da ação antrópica, alcançou ritmo jamais visto no último século; razão essa que levou o Nobel de química, Paul Crutzen, a declarar que desde o final do século XVIII “entramos” no período “antropoceno”, ou seja, na era em que predomina a influência humana sobre a biodiversidade, sobre as bases da natureza.
Por isso é preciso reconstruir a sociedade e a economia (atividade produtiva) em torno de outros valores, longe da sanha consumista patrocinada por um sistema econômico que somente enxerga o mercado e os bens produzidos.
Se desejarmos alcançar com eficiência a política da sustentabilidade, é forçoso reconhecer que o sistema econômico deverá passar pela capacidade de atingir prosperidade sem crescimento.
Uma vez reconhecendo que a pressão humana sobre o sistema ecológico tem sido expansiva e dilapidadora, três fatores precisam ser contornados para que essa “reconstrução” aconteça satisfatoriamente: I) segurar o aumento populacional; II) estancar o nível desenfreado de consumo e, III) reduzir o uso de novas tecnologias voltadas exclusivamente ao aumento da produtividade do trabalho – base de aceleração da economia e, por isso, motivo de dilapidação dos bens da natureza, desfigurando assim o semblante do meio ambiente ao esgotar os recursos naturais na extração e entregar de volta à natureza resíduos e poluição.
Esse conjunto de fatores, em especial, os dois últimos, passa por “encaixar” a atividade econômica dentro dos limites dos ecossistemas, dentro dos parâmetros ecológicos. É de fundamental importância não perder de vista que a economia não pode mais “funcionar” sob o paradigma do crescimento expansivo. É preciso dar um basta à obsessão material.
Tão importante quanto isso é o fato da economia neoclássica – fascinada pela ideia de equilíbrio e liturgicamente adepta ao dogma do crescimento econômico como paradigma de prosperidade – reconhecer o que é mostrado com bastante clareza pela segunda lei da termodinâmica: que o “circuito econômico” não funciona no “vazio”, longe do meio ambiente, mas, sim, dentro da biosfera.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista especializado em Política Internacional.
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