A situação econômica do Brasil inspira cuidados. A maioria dos economistas alerta: estamos entrando em uma fase recessiva. Apesar desse inegável dado de realidade, mudar a própria relação com o dinheiro não é fácil. A queixa de não saber lidar com dinheiro é bastante comum, embora os motivos possam ser diferentes. Para alguns, isto significa uma tendência crônica ao endividamento e uma enorme dificuldade para poupar, controlando seus gastos.
No outro extremo há quem não consegue se “apropriar” do dinheiro ganho com seu trabalho. É o caso de quem faz investimentos duvidosos, ou não consegue negar de emprestar suas suadas economias a desavisados amigos e familiares, mesmo sabendo que, na maioria dos casos, o dinheiro nunca será devolvido. No caso de profissionais liberais, há quem não consegue “cobrar” uma justa remuneração por seus serviços, ou, se for empregado, ir para o mercado em busca de um salário melhor. Em todos esses casos estamos falando de situações psicologicamente diferentes, embora tenham em comum a dificuldade de lidar com o dinheiro.
Para quem tem dificuldade de controlar sua tendência ao endividamento e não consegue poupar, o problema é com o excesso de gastos e, portanto, com a dificuldade de lidar com a sua voracidade e com a frustração dos seus desejos. Infelizmente a sociedade contemporânea incentiva esse tipo de comportamento, fazendo da voracidade e do consumo desenfreado uma “necessidade” e uma garantia de “status”.
O capitalismo se sustenta na hipótese de um crescimento ilimitado, baseado no consumo dos produtos que são produzidos em volumes cada vez mais elevados, a preços mais acessíveis, mas também cada vez mais perecíveis (devem ser trocados com sempre maior frequência). Esta necessidade do mercado se torna um “imperativo” de consumo, sustentado na necessidade de ascensão social.
Os mecanismos psíquicos que estão por trás disso podem ser os mais variados e, em muitos casos, estão ligados a “compensações” psíquicas que escondem síndromes depressivas, melancólicas ou, em casos mais graves, bipolaridade.
Já no caso dos que não conseguem se apropriar do seu dinheiro, temos geralmente situações psicologicamente mais complexas, ligadas a dificuldade de se apropriar de si mesmo e de “existir” sem culpa.
Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar
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