Por Roberto Girola Em Artigos

No limiar da esperança

Em entrevista publicada pela revista Isto é, o ator e dramaturgo Juca Oliveira comenta a atual situação do Brasil. Na sua leitura, um momento político acabou, o que nos leva para um novo momento “para salvarmos o País”. Ao ser perguntado sobre como imagina esse “novo momento” responde: “Não tenho ideia. Mas acho que vai nascer”.

Creio que nesse sentido o ator se faz porta-voz de uma sensação generalizada: uma “era” acabou e, ao mesmo tempo de uma “esperança”: outra está por vir. Como Juca de Oliveira, a maioria saudável da população fica sem saber que contornos dar a esse “sonho”, embora existam indícios, como ele sugere, esboçados pela ação do judiciário: todos devem se submeter à lei que rege o funcionamento das instituições deste país, não importa o cargo que ocupem.

Esta é na realidade a esperança. Mas será que ela é um sonho, ou apenas um devaneio? A esperança que aponta para um sonho é saudável, aquela que aponta para um devaneio é fruto de um funcionamento psicótico e, portanto, é alienante.

A alienação psicótica, ou a manipulação perversa da realidade, neste caso, são representadas por aqueles que afirmam que algo vai mudar, sem querer na realidade que nada mude. Creio que essa seja a visão da maioria dos políticos, inclusive da oposição, que contam com uma simples troca de cargos, para que tudo fique como está, ou, quem sabe, até pior.

Por outro lado, há outro tipo de alienação, que se nega a aceitar a frustração que a realidade está trazendo, e, ao negá-la, vê em tudo uma conspiração sombria e persecutória de forças ocultas.

O caminho da esperança também não passa por aí. O sonho e a esperança saudável supõem três etapas. A primeira é a aceitação sofrida do caos e da perda do que “estava aí”. O caos precisa ser aceito sem negações e sem manipulações. O segundo momento, é o esboço de um sonho, ainda sem contornos definidos. O terceiro momento, o mais importante e o mais sofrido, é quando o sonho é lançado em direção ao mundo real, para que ele possa finalmente delinear, em diálogo com a realidade, os contornos reais que ele pode ter e os limites que ele deve aceitar.

A esperança não é alienante, ao contrário, ela põe em movimento em direção ao futuro, aceitando com plenitude os desafios do presente e levando em conta as experiências do passado.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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