Por Roberto Girola Em Artigos

O discernimento

Quando vem uma ideia, um sonho, é hora de ir à luta ou sempre convém ser prudente e cauteloso?

O filme/documentário “Quem somos nós?”, que fala sobre a visão da física quântica, traz uma cena impressionante. Quando a protagonista acorda, o mundo externo não está lá, mas vai se construindo aos seus olhos à medida que ela acorda. Com isso, o filme tenta visualizar um dos princípios da física quântica, para a qual a matéria não é algo fixo e pré-constituído e sim algo em constante formação, algo que muda a partir do olhar de um observador.

Se por um lado isso pode fazer pensar no poder de nossa mente, capaz de criar cenários novos, até então inexistentes, por outro lado não impede que constatemos que a mente muitas vezes nos engana. Em suma, nada é como parece ser para a nossa mente e nada parece para a nossa mente como de fato é.

Estamos falando de um paradoxo. A nossa necessidade é afirmar que as coisas são exatamente como nós as percebemos, no entanto, a nossa percepção é apenas um ponto para ver as coisas e nada garante que elas possam ser reduzidas ao que nós vemos. Talvez isso possa nos ajudar a perceber que o ser humano precisa, de fato, viver a realidade de forma compartilhada, pois o outro, com a sua presença, questiona o nosso ponto de vista e nos sugere que pode haver outros pontos para ver as coisas tão autorizados quanto o nosso.

A tendência atual que leva indivíduos e grupos a se fechar em suas visões narcísicas parece contradizer tudo isso, mas os resultados desse fenômeno estão manifestando cada vez mais claramente os seus efeitos destruidores e desagregadores. Cada um parece capaz de criar a sua própria realidade e de acreditar que isso é Real, sem desconfiar que estamos falando apenas de significantes ligados ao discurso de um sujeito ou de um grupo.

Seguir a nossa mente, suas ideias e seus sonhos, pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, depende da nossa capacidade de manter os sonhos em constante diálogo com o mundo externo, para que não se tornem devaneios alucinatórios.

Roberto Girola é psicanalista e terapeuta familiar

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Roberto Girola
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Psicanalista e terapeuta familiar

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